2. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Durante muito tempo a câmera permaneceu fixa, numa imobilidade
que correspondia ao ponto de vista do “regente de orquestra”
assistindo a uma representação teatral.
No entanto, já em 1896, o travelling fora espontaneamente inventado
por um operador que havia colocado sua câmera sobre uma
gôndola em Veneza.
A partir de então, a filmadora é uma criatura móvel, ativa, uma
personagem do drama. O diretor impõe seus diversos pontos de
vista ao espectador.
... portanto, a câmera deixou de ser apenas a testemunha passiva, o
registro objetivo dos acontecimentos, para tornar-se ativa e atriz.
3. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Um certo número de fatores cria e condiciona a
expressividade da imagem.
Esses fatores são:
o enquadramento,
os diversos tipos de plano,
os ângulos de filmagem,
os movimentos de câmera.
4. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
ENQUADRAMENTO
O enquadramento é o primeiro
aspecto da participação
criadora da câmera no registro
que faz da realidade exterior
para transformá-la em matéria
artística.
5. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
TIPOS DE PLANO
O tamanho do plano é determinado pela distância entre a câmera
e o objeto e pela duração focal da cena utilizada.
A escolha do tipo de plano é condicionada pela clareza necessária
à narrativa:
1- o plano é maior ou mais próximo quanto menos coisas há para
ver.
2- o tamanho do plano aumenta conforme sua importância
dramática ou sua significação ideológica.
6. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Plano geral (PG)
Abrange uma vasta e distante porção de espaço, como uma
paisagem. Os personagens, quando presentes no PG, não
podem ser identificados.
Reduzindo o homem a uma silhueta minúscula, o PG o reintegra
ao mundo, faz com que as coisas o devorem.
Pode exprimir solidão, impotência diante da fatalidade, ociosidade.
7. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Plano de conjunto (PC)
um pouco mais próximo, pode mostrar um grupo de personagens,
já reconhecíveis e o ambiente em que se encontram
Plano médio (PM)
enquadra os personagens por inteiro quando estão de pé,
deixando pequenas margens acima e abaixo.
Plano americano (PA)
um pouco mais próximo, corta os personagens na altura da
cintura ou das coxas.
Estes tipos de plano geralmente têm apenas um papel descritivo,
sem outra finalidade a não ser a comodidade
da percepção e a clareza da narrativa.
8. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Primeiro plano (PP)
enquadra o busto dos personagens
Primeiríssimo plano (PPP)
enquadra apenas o rosto.
Estes dois tipos de plano geralmente correspondem a uma
invasão do campo da consciência, a uma tensão mental
considerável, a um modo de pensamento obsessivo.
9. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
ÂNGULOS DE FILMAGEM
Os ângulos de filmagem, quando não são diretamente
justificados por uma situação ligada à ação, podem ser
utilizados para conferir um significado psicológico à cena.
10. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Contra-plongée
(o tema é fotografado de baixo
para cima, ficando a objetiva
abaixo do nível normal do olhar):
dá geralmente uma impressão de
superioridade, exaltação e triunfo,
pois faz crescer os indivíduos e
tende a torná-los magníficos.
Plongée
(filmagem de cima para baixo):
tende, com efeito, a apequenar o
indivíduo, a esmagá-lo
moralmente, rebaixando-o ao nível
do chão, fazendo dele um objeto
preso a um determinismo
insuperável, um joguete da
fatalidade.
11. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
MOVIMENTOS DE CÂMERA
Os movimentos de câmera podem ter uma função apenas
descritiva, como por exemplo:
- O acompanhamento de um personagem ou de um objeto em
movimento;
- A criação da ilusão do movimento de um objeto estático;
- A descrição de um espaço ou de uma ação que tem um
conteúdo material ou dramático único e unívoco.
12. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Como também podem ter uma significação própria, quando
buscam evidenciar um elemento material ou psicológico que
deve desempenhar um papel decisivo no desenrolar da ação:
- A definição de relações especiais entre dois elementos da
ação (entre dois personagens ou entre um personagem e um
objeto).
- O realce dramático de um personagem ou de um objeto que
vão desempenhar um papel importante na seqüência da
ação.
- A expressão subjetiva do ponto de vista de um personagem
em movimento.
- A expressão da tensão mental de um personagem.
13. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Podem-se distinguir três tipos de movimentos de câmera:
Travelling
Panorâmica
Trajetória
14. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Travelling
deslocamento da câmera durante o qual
permanecem constantes o ângulo entre o
eixo óptico e a trajetória do deslocamento.
O travelling vertical geralmente tem o papel de
acompanhar um personagem em
movimento.
O travelling lateral geralmente tem papel
apenas descritivo.
O travelling para trás pode ter vários sentidos:
Conclusão; afastamento no espaço;
acompanhamento de um personagem que
avança; desligamento psicológico,
impressão de solidão, desânimo, impotência
ou morte.
15. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
O travelling para frente é o movimento
mais interessante, sem dúvida por ser
o mais natural: corresponde ao ponto
de vista de um personagem que
avança ou então à projeção do olhar
para um foco de interesse. Possui
diversas funções expressivas:
introdução (o movimento nos insere no
mundo onde vai se desenrolar a ação);
descrição de um espaço material;
realce de um elemento dramático
importante; passagem à interioridade
(introdução da representação objetiva
do sonho, da recordação ao do retorno
no tempo); finalmente (exprime,
objetiva e materializa a tensão mental
– impressão, sentimento, desejos e
idéias violentos e súbitos – de um
personagem.
16. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Panorâmica
Rotação da câmera em torno de seu eixo vertical ou
horizontal, sem deslocamento da câmera.
Freqüentemente se justifica pela necessidade de seguir
um personagem ou um veículo em movimento, pode se
apresentar de três maneiras:
Panorâmicas puramente descritivas: têm por finalidade a
exploração de um espaço e geralmente desempenham
um papel introdutório ou conclusivo.
17. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Panorâmicas expressivas: se apóiam numa espécie de
trucagem, num emprego não realista da câmera destinado
a sugerir uma impressão ou uma idéia.
Panorâmicas dramáticas: desempenham um papel direto na
narrativa e têm por objetivo estabelecer relações
espaciais, seja entre um individuo que olha e a cena ou o
objeto vistos, seja entre um ou vários indivíduos de um
lado e um ou vários que observam de outro (nesse caso, o
movimento traduz uma impressão de ameaça, de
hostilidade, de superioridade tática –ver sem ser visto, por
exemplo- da parte daquele ou daqueles para os quais a
câmera se dirige em segundo lugar.
18. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Trajetória
mistura de travelling e
panorâmica efetuada como
auxilio de uma grua. Muitas
vezes, colocada na abertura
de um filme, serve para
introduzir o espectador no
universo que ela descreve
com maior ou menor
insistência. Em outras
situações, os movimentos
complexos e sutis de câmera
em uma trajetória podem ser
carregados de significação.
19. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
ELIPSES
A elipse é o aspecto fundamental da decupagem – processo
de escolha dos fragmentos de realidade que serão criados
pela câmera e que também pode ser descrita como a
supressão de todos os tempos fracos ou inúteis da ação,
que podem facilmente ser supridos pela mente do
espectador.
As elipses podem ser de estrutura ou de conteúdo.
20. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Elipses de estrutura
São motivadas por razões de construção do enredo e podem
ser:
• objetivas: geralmente são utilizadas para dissimular um
instante decisivo da ação, de modo a geral no espectador
um sentimento de espera ansiosa – o chamado suspense.
Elas também podem ser usadas para substituir seqüências
que não ficariam bem em determinada cena, deixando a
mensagem subentendida.
• subjetivas: quando o ponto de escuta de um personagem
nos é dado para justificar a elipse de som.
• simbólicas: quando a dissimulação de um elemento da
ação não tem uma função de suspense, mas reveste-se
de uma significação mais profunda
21. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Elipses de conteúdo
São motivadas por razões de censura social, substituindo
cenas de, por exemplo, morte, dor violenta, ferimentos
horríveis, tortura ou ainda de um parto ou ato sexual.
• Nesses casos, acontecimento pode ser substituído pelos
seguintes recursos:
• um plano do rosto do autor do gesto ou das testemunhas.
• por sua sombra ou reflexo.
• ou ainda pode ser oculto no todo ou em parte por um
elemento material.
22. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
METÁFORA
É a justaposição de duas imagens que, confrontadas na
mente do espectador, irão produzir um choque psicológico.
Este choque deve facilitar a percepção e a assimilação de
uma idéia que o diretor quer exprimir pelo filme.
23. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Metáfora plástica:
baseia-se numa analogia de estrutura ou tonalidade
psicológica presente no conteúdo puramente
representativo das imagens.
Metáfora dramática:
desempenha um papel mais direto na ação, proporcionando
um elemento explicativo útil para a condução e a
compreensão do enredo.
24. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
Metáfora ideológica
sua finalidade é fazer brotar na
consciência do espectador
uma idéia cujo alcance
ultrapassa largamente o
quadro da ação do filme,
implicando uma tomada de
posição mais vasta sobre os
problemas humanos.
A abertura de tempos modernos,
de chaplin
25. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
CONCLUSÃO
O cinema dispõe de uma linguagem ao mesmo tempo sutil e
complexa, capaz de transcrever com agilidade e precisão
não só os acontecimentos e os comportamentos, mas
também os sentimentos e as idéias.
Se em um livro a descrição de uma ambiente, uma ação ou
uma emoção pode tomar páginas inteiras, no cinema,
muitas vezes essa descrição pode ser traduzida em
segundos de uma cena bem dirigida. Quanto mais
complexa e bem sucedida essa tradução é, melhor e mais
eficazmente o diretor fez uso destes recursos narrativos.
26. NARRATIVA & IMAGEM EM MOVIMENTO
REFERÊNCIAS
• MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica.
• http://www.mnemocine.com.br/cinema/principindex%20.htm
• http://www.fazendovideo.com.br/vtsup.htm#tracking