Camões dirige-se às ninfas do Tejo pedindo ajuda para cantar os feitos dos portugueses de forma sublime. Ele estabelece um confronto entre a poesia lírica e a poesia épica, que exige um estilo mais elevado. Na dedicatória, Camões dedica a obra a D. Sebastião, então jovem rei de Portugal, elogiando-o e tentando convencê-lo a aceitar seu canto através de uma linguagem argumentativa e apelativa.
2. INVOCAÇÃO
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene .
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda ,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda.
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
3. INVOCAÇÃO
Invocar significa apelar, pedir, suplicar.
Nestas estrofes, Camões dirige-se às
Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhe que
o ajudem a cantar os feitos dos portugueses
de uma forma sublime:
“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente”
5. INVOCAÇÃO
E vós, Tágides minhas, (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)
A Anáfora é uma figura de estilo
Dai-me (...) que consiste em repetir a mesma
palavra no princípio de várias frases ou
versos.
A forma verbal “Dai-me” (modo
imperativo) surge repetido três vezes no
início do verso: trata-se da figura de estilo
anáfora.
6. INVOCAÇÃO
Tratando-se de um pedido, a Invocação
assume a forma de discurso persuasivo, onde
predomina a função apelativa da linguagem
e as marcas características desse tipo de
discurso – o vocativo e os verbos no modo
imperativo - determinam a estrutura do texto.
7. INVOCAÇÃO
Apóstrofe
A apóstrofe consiste na interpelação ou invocação de
alguém ou de alguma coisa personificada, por meio de um
vocativo.
Repara: para invocar as ninfas, Camões utiliza o vocativo.
O vocativo pode estar presente numa frase quando se
pretende chamar ou invocar alguém, utilizando-se para isso um
nome ou expressão equivalente. O vocativo na frase é móvel, pois
pode surgir no princípio, no meio ou no fim, mas está destacado
por vírgulas.
8. INVOCAÇÃO
Como poeta experiente que é, sabe que a
tarefa a que agora se propôs exige um
estilo e uma linguagem de grau
superior, por isso estabelece ao longo
destas duas estâncias um confronto entre
a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e
a poesia épica, a que agora se abalança
9. INVOCAÇÃO
O poeta pede às Tágides o estilo elevado que
a epopeia e a grandiosidade do assunto
requerem; o " som alto e sublimado ", exigido
pelo " novo engenho ardente " que as ninfas
colocaram nele.
10. INVOCAÇÃO
POESIA LÍRICA POESIA ÉPICA
verso humilde novo engenho ardente
agreste avena som alto e sublimado
frauta ruda estilo grandíloco e corrente
fúria grande e sonorosa
tuba canora e belicosa
Este confronto serve-lhe para marcar a
superioridade relativa da poesia épica sobre a
lírica.
11. INVOCAÇÃO
A Invocação, para Camões, é mais um
processo de engrandecimento do seu herói. De
facto, é a grandiosidade do assunto que se
propôs tratar que exige um estilo e uma
eloquência superiores.
12. INVOCAÇÃO
Para poder cantar devidamente tão altos
feitos, necessito que vós, Tágides
minhas, ninfas amadas do meu rio Tejo, já
por mim cantado em muitos poemas
líricos, me ajudeis a encontrar o estilo
grandioso, um estilo grandíloco adequado à
celebração dos Portugueses. Se me
ajudardes, ficareis ainda mais célebres e
afamadas do que a antiga fonte de
Hipocrene, nascida de uma patada do cavalo
de Pégaso, condutor do carro de Apolo, deus
do sol, da poesia e das artes. Essa fonte
dava inspiração poética a quem dela bebia.
in Os Lusíadas em prosa (adaptação) de Amélia Pinto Pais
14. DEDICATÓRIA
A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia.
Camões inclui-a n’ Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D.
Sebastião.
Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso
era visto como a esperança da pátria portuguesa na continuação
da difusão da fé e do império.
D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei
antes do domínio espanhol (1580-1640). O seu prematuro
desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer
Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito
português, que nasceu de uma lenda e que tem povoado o
imaginário coletivo do nosso povo, ao longo dos séculos.
15. DEDICATÓRIA
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
16. DEDICATÓRIA
Modificador do nome apositivo
O Modificador do nome apositivo é uma
expressão que vem imediatamente a seguir a
outra, normalmente entre vírgulas e que surge
como uma caracterização ou explicação
complementar.
A expressão “poderoso rei” exerce a função de
Modificador do nome apositivo, pois surge a
seguir ao pronome “Vós”, adicionando-lhe uma
informação que o torna mais completo.
17. DEDICATÓRIA
SINÉDOQUE
Na caracterização de D. Sebastião, o poeta usa
frequentemente a sinédoque – figura de estilo em
que se troca a palavra que indica o todo de um ser
por outra que indica apenas uma parte dele:
“Vós, ó novo temor da Maura lança,”
Embora só se refira à lança, o poeta pretende
designar todo o exército de mouros.
18. DEDICATÓRIA
Identifica as figuras de estilo presentes nos versos
seguintes:
“E vós, ó bem nascida segurança”
“Tomai as rédeas vós do Reino vosso:”
“Aqueles que, nos Reinos lá da Aurora”
“O Sol, logo em nascendo, vê primeiro”
“Por um pregão do ninho meu paterno”
“Que afeiçoada ao gesto belo e tenro”
“E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.”
19. DEDICATÓRIA
Para além do elogio ao rei, Camões pretende
convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso
recorre a uma linguagem
argumentativa, sendo a função de linguagem
predominante a apelativa. O poeta recorre a
numerosos vocativos, apóstrofes e ao uso
frequente do modo imperativo. Há quem
considere que o discurso da Dedicatória
segue a estrutura própria do género oratório.
O poeta chama constantemente a atenção do
seu destinatário, D. Sebastião, para o que o
poema vai celebrar.
20. DEDICATÓRIA
Para além do elogio ao rei, Camões pretende
convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso
recorre a uma linguagem argumentativa,
sendo a função de linguagem predominante a
apelativa. O poeta recorre a numerosos
vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do
modo imperativo. Há quem considere que o
discurso da Dedicatória segue a estrutura
própria do género oratório.
O poeta chama constantemente a atenção do
seu destinatário, D. Sebastião, para o que o
poema vai celebrar.