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REPORTAGENS
SOBRE A HISTORIA
DA SOCIEDADE
INTERAMERICANA
DE IMPRENSA
ALBINO GOMEZ é escritor,
jornalista e diplomata. Exerceu o
jornalismo no radio, na televisao
e na imprensa. E redator das
emissoras de radio mais
importantes de Buenos Aires,
diretor artistico do Canal 7 (hoje
ATC) e colaborador dos canals 9,
11 e 13; redator das revistas
"Primeira Plana", "Competen-
cia", "Confirmado", da Agencia
ALA (Miami), do jornal "La Pren-
sa", de "La Voz del Interior" e do
"Diario de Caracas". E tambem
editorialista, secretario de reda-
cao e correspondente nos
Estados Unidos do jornal "Garin"
alem de colaborador das revistas
"El Arca", "Clasica" e "Archivos
del Presente". Como funcionario
do servico diplomatic° da Argen-
tina, trabalhou em Montevideu,
Santiago do Chile, Atenas,
Pretoria, Cidade do Cabo, Nova
York (ONU) e Washington, D.C.
(embaixada para a Casa Branca).
Foi diretor geral de Imprensa e
Comunicacoes do Ministerio de
Relacoes Exteriores de dezembro
de 1983 a julho de 1986 e em-
baixador na Suecia, no Quenia
e no Egito. Durante o tempo em
que, por motivos politicos,
esteve afastado do Servico de
Relacoes Exteriores (1976-
1982), atuou como secretario
regional de Comunicacao da
ALBINO GOMEZ
REPORTAGENS SOBRE A
HISTORIA DA SOCIEDADE
INTERAMERICANA
DE IMPRENSA
S.I.P.
PROLOGO
D
eviamos este livro a SIP. Desde o excelente trabalho de Mary A. Gardner, que
abarcou a historia da nossa instituicao entre 1926 e 1960, nao voltamos mais
a lalar no passado, ccrtamente porque o correr dos acontecimentos destas
tiltinias quatro cItcaclas jainais deu wept' a nossa luta permanente em Mesa da liber-
Jade de imprensa e ao acompanhamento de todas as acnes clue dia apps dia c imo apkis
ano devernos realizar pant cumprir Os objetivos da nossd instituic5o.
Mas esse livro tornou-se entao necessario, porque depois de 34 anos de experien-
cias muito ricas c diversas, corn a SIP ja institucionalizada, sua estrutura, composicao
c objetivos internamente consolidados c esclarecidos, era impossivel fugir de uma
apresentacao academica dirigida ao publico menos familiarizado corn tudo isso e corn
sua acao. Dai o fato da edicao ter sido publicada em ingles.
A situacao atual € diferente. Quase 40 anos depois, a SIP 6 bastante conhecida em
todo o Continente, mas a luta pelo cumprimento de seus objetivos nao apenas nao
terminou, Inas cresce dia a dia, e nao sornente nos aspectos defensivos, mas tambem
nas acOcs construtivas que realiza atraves do seu Institute de Imprensa e naquelas
vinculadas ao melhor desenvolvimento do ensino do jornalismo em nossas universi-
dades.
Entretanto, apesar da intensidade do nosso trabalho no presente e da nossa ne-
cessidade de projetarmos para o futuro, continua sobrando tempo para olhar para
tras; e acreditamos ser necessario coletar de alguma maneira as experiencias mats in-
tensas destas ultimas decadas, porem nao mais mediante urn formato academico como
fizemos anteriormente, mas de uma maneira mais vital e realista, atraves da memoria
viva dc alguns de seus ex-presidentes e de seus mais ilustres dirigentes — ou seja, de
seus verdadeiros protagonistas, porque definitivamente as instituicaes sao sects ho-
mens. Por isso excluimos desta vez uma nova historia contada por uma so pessoa, ja
que, apesar de toda a objetividade profissional que pudesse colocar em sua tarefa, nao
deixaria de ser mats quc uma interpretacao absolutamente pessoal, tao respeitavel
quanto dificil de representar urn consenso.
Em troca, adotamos a modalidade de historias contadas por seus prOprios atores,
atraves de reportagens que, convertidas em verdadeiros testemunhos, an suprimir-se
as perguntas dos jornalistas, contem todas as vantagens de assegurar a diversidade de
opiniao — que sempre respeitamos e defendemos — e a etica da responsahilidade pesso-
al, que sempre estimulamos e agradecemos.
No final do meu mandato, considero uma honra poder encerra-lo corn a apresen-
tacao deste livro em sua edicao dupla — em espanhol e em ingles — cuja finalidade
cinica é continuar divulgando em todo o Continente a acao e a luta da SIP.
JORGE FASCETTO
Presidente
0 QUE E A SIP?
A Sociedad Interamericana de Prensa e uma organizacao sem fins lucrativos
dedicada a defesa da liberdade de expressao e de imprensa em todas as Americas.
Seus principais objetivos:
• Defender a liberdade de imprensa onde quer que esteja ameacada nas Americas.
• Proteger os interesses da imprensa nas Americas.
• Defender a dignidade, os direitos e as responsabilidades do jornalismo.
• Estimular normal elevadas de profissionalismo e conduta empresarial.
• Promover o intercambio de ideias e informacOes que contribuam para o desen-
volvimento tecnico e profissional da imprensa.
• Estimular o conhecimento amplo e urn major intercambio de informacoes en-
tre os povos das Americas em apoio aos principios basicos de uma sociedade
livre e da liberdade individual.
Breve historia da SIP
A SIP comecou a se desenvolver em 1926, quando cerca de 130 jornalistas das
Americas, reunidos em Washington, D.C. para o Primeiro Congresso Pan-ameri-
cano de Jornalistas, tomou uma resolucao que aprovava o estabelecimento de
uma organizacao interamericana permanente de jornalistas. 0 Congresso reu-
niu-se posteriormente na Cidade do Mexico, em 1942, quando foi criada a Co-
missao Permanente, que viria a se tornar a SIP durante a conferencia realizada em
Havana no ano seguinte.
Em reuniOes subsecitientes em Caracas, Bogota e Quito, a SIP pouco a pouco foi se
transformando em uma instituicao estabelecida. Embora nessa epoca fosse uma
organizacao predominantemente latino-arnericana, em 1946 urn pequeno grupo
de editores e diretores de jornais da America do Norte fundaram nos Estados
Unidos uma junta nacional da instituicao hemisferica.
Talvez o ano mail importante do ponto de vista institucional na histOria da SIP
tenha sido 1950.' Ate esse ano, as conferencias da organizacao foram realizadas
sob os auspicios do governo do pais anfitriao, corn fundos prOprios e de acordo
corn a sua conveniencia. As delegaceies litnitavam-se a sentar e votar por paises, e
os membros nem sempre eram jornalistas.
E por isso que decidimeos intercalar entre as reportagens uma cronologia muito sintetica dos
acontecimentos que os jornais das Americas destacaram em suas manchetes de 1950 a 1989,
para que nossos leitores pudessem acompanhar as alternativas da SIP dentro de urn contexto
historico-jornalistico.
7
Os delegados, reunidos na cidade de Nova York em 1950, mudaram esta situacao
ao adotar novos estatutos que evitaram esses patrocinios. Desde entao, a SIP trans-
formou-se em uma entidade independente — independente de qualquer governo
ou interesse particular.
A organizacao so conta coin os fundos formados pelas cotas de seus membros. Foi
tambem importante a insercao de uma clausula determinando que os delegados
enviados as reunitles representariam apenas suas publicacOes, cada urn corn direi-
to a urn voto.
Inicialmente, a medida que a organizacao se reestruturava, quase do zero, corn
urn ninnero limitado de membros e seus cofres vazios, estas grandes mudancas
provocaram urn enorme encargo economic°. Apesar disso, uma nova SIP inde-
pendente — alimentada por alguns poucos membros — desde entao floresceu e
cresceu sem cessar.
Hoje, a SIP conta corn mais de 1.300 membros, que representam jornais e revistas
desde a Patagonia ate o Alasca, corn uma circulacao combinada que se aproxima
dos quarenta e cinco milhOes.
A SIP conta corn Bois organismos afiliados autonomos: o Institute de Imprensa,
que oferece aos sOcios latino-americanos assessoria tecnica sobre temas do setor,
e o Fundo de Bolsas, que oferece recursos para atividades educativas.
A organizacao e dirigida por uma Junta de Diretores que presta contas a todos os
sacios durante a Assembleia Geral anual, cuja sede alterna entre a America do
Norte e a America do Sul. Urn Comite Executivo supervisiona as atividades diari-
as do pessoal da organizacao, que trabalha na sede da SIP em Miami, na Florida.
Liberdade de Imprensa
A Comissao de Liberdade de Imprensa e Informacao, pedra angular da SIP, fica
atenta as ameacas e violacOes a liberdade de imprensa em todas as Americas e
desenvolve respostas adequadas.
Cada pais conta corn u►n vice-presidente regional que informa a Comissao sobre
os temas e fatos que afetam a liberdade de imprensa em seu pais. Os relatorios sao
discutidos e analisados duas vezes por ano na Reuniao de Meio do Ano da SIP,
realizada durante a primavera boreal, e na Assembleia Geral, que tern lugar todo
mes de outubro. A Comissao apresenta suas conclusoes e recomendacOes a Junta
de Diretores, que entao toma uma decisdo sobre o caminho a seguir.
As respostas a uma ameaca ou contestacao a liberdade de imprensa podem variar
desde uma simples resolucao anunciando que a organizacao esta a par de uma
8
ameaca potential, ate enviar uma missao especial de socios para realizar investi-
gacOes adicionais e/ou apresentar a situacao diretamente aos responsaveis pelo
problema. 0 relatario anual da Comissao sobre os abusos a liberdade de imprensa
e considerado o documento mais completo da sua classe.
Instituto de Imprensa da SIP
Em 1957, os membros da SIP fundaram a Centro Tecnico, uma entidade inde-
pendente sem fins lucrativos, para oferecer aos socios — especialmente aqueles da
America Latina — informacoes e assistencia tecnica. Rezava a filosofia da criacao
do Centro que se uma publicacao conta corn uma alta qualidade tecnica e muito
mais dificil elimina-la.
Em 1962, o Centro Tecnico ampliou suas atividades, quando recebeu urn donativo
de urn rnilhao de dolares da Fundacao Ford, e desde entao ampliou suas ativida-
des ate ficar auto-suficiente.
Em 1955, mudou o seu nome para Instituto de Imprensa da SIP. Atualmente, seu
trabalho inclui a organizacao de seminarios, a edicao da revista Hora de Cierre,
que inclui uma separata em portugues, e tarn hem tern publicado varios livros
sobre jornalismo.
Fundo de Bolsas
Convicta de que urn jornalismo perspicaz contribuiria para um melhor entendi-
mento entre os paises do Hemisferio Ocidental, a SIP estabeleceu, em 1955, o
Fundo de Bolsas da SIP, na qualidade de ulna filial autonoma, corn o apoio gene-
roso de fundacOes e de publicacOes pertencentes a organizacao.
O programa da organizacao oferece aos jornalistas jovens uma oportunidade esti-
mulante de estudar ou trabalhar fora de seus paises durante nove meses.
Os individuos podem solicitar uma balsa atraves de uma solicitacao encaminha-
da ate 31 de dezernbro de cada ano. Os ganhadores sao anunciados na Reuniao de
Meio do Ano, realizada no mes de marco do ano seguinte.
Os interessados podem receber o formulario de solicitacao e informacOes adicio-
nais escrevendo para a sede do Fundo de Bolsas da SIP em Miami.
Premios
Todos os arras a SIP premia o trabalho destacado de jornalistas e jornais nas Ame-
ricas, corn uma ampla gama de premios e recompensas. Os premios, financiados
exclusivamente por doacOes voluntarias dos socios, tern por objetivo reconhecer
aqueles que se destacaram nas comunidades onde trabalham.
9
Public46es
Hora de Cierre e uma revista em espanhol dirigida ao pessoal da inclilstria editorial
das Americas, sendo considerada amplamente como a principal fonte de noticias
e informacOes sobre os aspectos tecnicos do setor, ainda que se esteja planejando
ampliar mais ainda o seu contendo.
Corn mais de 15.000 leitores na America Central, America do Sul e Caribe, Hora
tie Cierre tambem constitui urn importante veiculo publicitario para as empresas
que desejam promover seus bens e servicos no amplo mercado editorial da Ame-
rica Latina.
0 Institute de Imprensa tambem publicou urn clicionario pratico bilingtie ingles-
espanhol espanhol-ingles, de termos de Jornalismo e Artes Graficas, urn manual
para jornalistas, urn manual de estilo e numerosas publicaceies sobre temas de
administracao de jornais e revistas.
NotiSip (IAPA News em ingles), é o boletim informativo bimestral que a SIP pu-
blica para manter seus sOcios a par das atividades e eventos da organizacao.
0 boletim tambem oferece informacOes sobre temas da liberdade de imprensa e
contem informacOes sobre as atividades e lucros dos sOcios, calenclarios de
atividades etc.
10
TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA
1950
• Corn a lideranca de Jawarharlal Nehru, a India se transforma na democracia
mais povoada do mundo.
• A Coreia do Norte invade a Coreia do Sul.
• 0 cientista Klaus Fuchs é condenado a 14 anos de prisao por entregar a URSS
segredos atomicos vitals dos Estados Unidos.
• Morre aos 94 anos o dramaturgo irlancles George Bernard Shaw.
• Morre aos 60 anos, na Gra-Bretanha, o bailarino e coreOgrafo sovietico Vaslav
Nijinsky.
• 0 cirurgiao norte-americano R.H. Lawler realiza o primeiro transplante renal.
• Morre aos 80 anos o estadista sul-africano Jan Smuts, antigo lider da guerrilha
boer.
• A nadadora norte-americana Florence Chadwick bate o recorde mundial femi-
nino no cruzamento do Canal da Mancha, corn o tempo de 13 horas e 23
minutos.
1951
• As NacOes Unidas transferem-se para seu novo predio em Manhattan.
• As forcas das NacOes Unidas rechacam uma ofensiva con junta da China e da
Coreia do Norte nas proximidades do paralelo 38.
• 0 presidente Truman afasta o General Mac Arthur de seu cargo de comandante
das forcas das NacOes Unidas, apOs este militar ter ameacado invadir a China.
• 0 piloto automobilistico argentine Juan Fangio vence o Grande Premio da
Franca.
• As pessoas de cor sao retiradas do registro eleitoral e perdem dal em diante o
direito ao voto.
• A Deutsche Grammophon lanca no mercado o primeiro disco "long-playing",
de 33 rpm.
• Em Nova York, a cadeia de TV-WCBS transmite pela prirneira vez uma partida
de baseball em cores.
• Estima-se que mais de urn milhao de sul-corcanos morreram desde o inicio da
guerra contra a Coreia do Norte.
• 0 escritor norte-americano J.D. Salinger publica seu romance "0 Apanhador
no Campo de Centeio", cuja critica aos adultos o transforma em urn grande
exito entre a geracao jovem.
11
HORACIO AGUIRRE
(Diana Las Americas, Miami, Florida, USA)
M
eu primeiro contato corn a SIP teve lugar quando, exilado nicaragiien
se no Panama, eu terminava meu curso de direito e trabalhava no
Panama America, cujo diretor era o Dr. Harmodio Arias, urn dos gran-
des juristas da lingua castelhana. Apesar de muito jovem, ja era editor do jornal e
tive a oportunidade de con hecer a veiha SIP, aquela que se reorganizou em Nova
York, que quis venter o argentino Juan Peron em uma reuniao realizada no Uru-
guai, onde este colocou uma enorme quantidade de delegados para ganhar as
eleicOes, mas sua tentativa resultou infrutifera.
Eu havia said° do desterro sob a protecao de duas bandeiras — a dos Estados
Unidos e a do Panama. No caso dos Estados Unidos, minha situacao era excepci-
onal, uma vez que nunca aquele pais havia outorgado o direito de asilo. Mas as
circunstancias assim o determinaram. A mim interessavam muito os temas inter-
nacionais e me preocupei em conhecer essa associacao, a SIP, que vinha funcio-
nando desde 1942 entre Havana e Mexico. Mas quando passei a conhece-la ple-
namente, ja estavamos na SIP de 1948 a 1950, que se reorganizava em Nova York.
E quando digo que passei a conhece-la plenamente, quero dizer corn uma
dedicacao total — a margem do meu trabalho jornalistico — , mas pondo tambein
este trabalho a servico da difusao dos objetivos e das atividades da SIP. Assim, you
trabaihando e me integrando as diferentes comissOes: de Liberdade de Imprensa,
de Premios etc. E me recordo tambem muito especialmente de que, naqueles
anos, tinhamos muito mais tempo do que hole em dia, o que nos permitia trabalhar
mais lenta e conscientemente, como faziamos em Miami Beach corn William
Pepper na Comissao de Liberdade de Imprensa, e corn Jules Dubois.
0 Diario Las Americas na SIP
Assim chegamos a primeira Assembleia Geral no Mexico em outubro de
1953, e é la que solicito a incorporacao do Diario Las Americas, que eu acabara de
fundar em 4 de julho daquele mesmo ano. Em 1954, tenho o prazer de conhecer
Tina Hills, recern-casada corn o Sr. Ramos, que já era meu grande amigo, como
irmao. E ja se passaram 45 anos desde estes fatos e recordacOes ... Naquela epoca,
eu precisava lutar muito corn o jornal recem-fundado, que, embora muito mo-
desto, precisava enfrentar economicamente o que implicava — e ate hole conti-
nua implicando — pertencer a urn organismo como a SIP, onde aqueles que atu-
am, viajam e participam de suas reuniOes, incorrem pessoalmente corn os gastos
que efetuam. Mas devia faze-lo, toda vez que minha presenca era duplamente
12
indispensavel, pela organizacao e pelo jornal, porque cada vez que a SIP se reu-
niu, nunca meus leitores deixaram de saber - extensivamente - tudo o que ocorria
em seas comissOes e assembleias.
Assim foram passando os anos ate que em 1964, no Mexico, fui eleito diretor,
para nunca mais deixar de se-lo, mais tarde presidente da SIP e ate hoje presiden-
te da Comissao de Assuntos Internacionais.
Mas agora gostaria de me referir a algumas situacOes pontuais e conflituosas
que a SIP enfrentou, para terminar estas recordacOes corn Willy Gutierrez, criador
do Centro Tecnico, hoje chamado Instituto de Imprensa, baluarte fundamental
da Sociedade.
A Associacao
A SIP estava empenhada na luta titanica contra a associacao ou colegiatura
obrigatoria — e devemos insistir no termo obrigatoria — para se exercer o jornalis-
mo em qualquer parte do mundo. Desde ja, o que nos interessava era a nossa
zona geografica e regional. Haviamos imaginado a proposta de levar esta nossa
luta a Corte Interamericana de Direitos Humanos — organism° intergovernamental,
produto de urn tratado entre Estados e regido pelo Direito Internacional Publico
— corn o objetivo de ditar uma decisao ou sentenca, ou produzir uma opiniao corn
respeito ao fato de que a associacao obrigatOria violava a Declaracao Universal
dos Direitos Humanos.
A SIP, como organismo nao governamental, nao tinha proeuracao para re-
correr ao Tribunal Interamericano de Direitos Humanos. Para isso, precisava pelo
menos conseguir que a Comissao Interamericana de Direitos Humanos recomen-
dasse ao Tribunal que escutasse urn organism° nao governamental da sociedade
civil, no apelo a um questionamento legal. Mas acontece que a citada Comissao
era fundamentalmente politica, constituida por representantes de governor. En-
tao, ocorreu-me que o nnico caminho a seguir era conseguir que um governo
acolhesse o nosso caso diante do Tribunal. Assim estavam as coisas quando foi
convocada uma conferencia da Associacao Interamericana de Homens da Im-
prensa, em San Jose da Costa Rica. E para Id fui corn Alejandro Aguirre, na epoca
ja muito ativo na nossa Sociedade, e falei corn o presidente da Costa Rica, Alberto
Monge, que is justamente pronunciar um discurso na abertura da conferencia.
Disse-lhe mais ou menos o seguinte: Senhor Presidente, o senhor sabe que,
para exercer o jornalismo onde exista colegiatura obrigatOria, e preciso reunir as
condicOes que a lei determina para isso. E, na verdade e por direito, para ser
jornalista o necessario é usar a palavra escrita — ou a falada, se o meio de comuni-
cacao for o radio ou a televisao — e este é urn direito consubstancial do ser huma-
no, corn o qual ele nasce. Porque ninguem nasce, por exemplo, corn o direito de
abrir o coracao ou de construir a ponte de Brooklyn, sem ter satisfeito todos os
13
requisitos de seguranca piiblica provenientes do curso academico de medicina ou
engenharia, ou de tal ou qual, mas isso nao pode ser exigido para se expressar,
para falar. Poderia ter sido possivel impedir Ruben Dario de trabalhar em La Naciori
de Buenos Aires por nab estar colegiado? Ou que o dirigente de seu partido —
Monge era Social Democrata —, Carlos Andres Perez, nao pudesse trabalhar no
Prensa Libre da Costa Rica, aqui neste pais, durante o seu exilio, por nao estar
colegiado? E que Pedro Joaquin Chamorro, que nao era jornalista colegiado e era
exilado de Somoza, nao tivesse podido trabalhar no mesmo jornal? Entao, o pre-
sidente Monge me disse: "Estou totalmente de acordo que e absurdo que se exija
a colegiatura do jornalista e que isso seja estahelecido por Iei. Mas o que se pode
fazer? Expliquei-lhe entao que, como essa disposicao violava a Declaracao Uni-
versal dos Direitos Humanos e, por conseguinte, a Declaracao Interamericana,
derivada da anterior, precisavamos levar o caso diante da Corte, mas para isso
precisavamos contar corn o patrocinio de urn Estado, de urn governo, e era isso o
que concretamente eu ]he pedia em nome da SIP. Sua resposta foi positiva, mas
etc precisou exercer uma enorme pressao como Poder Executivo, dentro do seu
prOprio Conselho de Governo, porque seu Chanceler defendia a tese de que a
colegiatura era democratica e deveria existir. Entretanto, Monge intercedeu dian-
te da Corte para que pudessemos apresentar diante dela a nossa demanda — ou
seja, conseguiu-nos uma especie de "franquia", o que constituiu urn verdadeiro
privilegio. Sobretudo porque ele sabia que na propria Corte, diante de uma vota-
cao, seu pais votaria contra a nossa posicao. Mas nao tinhamos nenhuma outra
possibilidade de nos fazermos ouvir na Corte. E, corn as valiosas colaboracoes de
urn advogado costarriquenho, Fernando Guier, de German Emilio Ornes e de
outran duas ou tres pessoas, pode-se fazer uma apresentacao de enorme valor
doutrinario, demonstrando que a colegiatura obrigatoria constituia realmente
uma violacao da Declaracao dos Direitos Humanos. Nao obstante, é claro que
nao pudemos tornar obrigatorio o desenvolvimento desta tese e sua vigencia em
cada pais, mas ja tern havido alguns exemplos favoraveis, apesar das pres6es em
contrario serem muitas, algumas delas bastante vinculadas a diferentes formas de
chantagem.
0 fato e que coube a mim a honra providencial de ter sido, nesta bela bata-
lha, urn instn.tinento operativo essencial, contando corn a colaboracao de todos
os inembros da Junta de Diretores, corn a colaboracao de toda a Assembleia. Nin-
guem colocou obstaculos. Todos cooperaram. Deus ou as circunstancias guise-
ram que fosse eu o instrumento que conseguiria que urn governo que se opunha
na Corte a nossa demanda, nos concedesse a "franquia" para nos apresentarmos
diante dole. Mas, para entender todo o significado desta hatalha pela colegiatura,
que se manifesta simultaneamente em muitas frentes, ou seja, em varios paises,
devemos passar a outro terna concomitante que em seguida you desenvolver.
14
A UNESCO
Corn German Ornes, Garcia Lavin, Jim Canel e winos outros, estivemos qua-
se urn mes inteiro no Hilton de Paris, trabalhando desde as oito da manha ate as
onze da noite neste caso, e na demonstracao do poder descomunal que a Uniao
Sovietica exercia sobre a UNESCO em 1978. Na ocasido, o governo de Fidel Castro
e todos os governos comunistas tinham uma coordenacao absoluta e dominavam
o Sr. M. Bow, que era urn diretor geral completamente subordinado a Unido Sovie-
tica. As sedes das embaixadas cubana e sovietica eram os locais de reuniao e plane-
jamento. Os paises que defendiam, como nos, a tese de que a colegiatura obrigato-
ria era incompativel corn a Declaracao Universal dos Direitos Flumanos e corn o
ideal e os principios democraticos em geral, eram quarenta. Entre eles estava o
Japao, cujo embaixador pronunciou urn discurso maravilhoso, no qual chegou a
dizer que, se a sindicalizacao tivesse lido obrigataria para os pintores, a escola Cubista
nao teria existido. Porque a Academia, quando ela emergiu, a teria repudiado e,
podendo representar o poder organizado dos pintores, poderia to-la impedido. E
assim, do mesmo modo, poderia ter procedido em relacao a outras escolas corn as
quais, por ocasiao do seu surgimento, a Academia nao comungasse.
Entretanto, sobre Os quarenta paises lancava-se em cima o resto, muito mais
numeroso: cem ou cento e dez, ou mais, que em bloco votavam contra. E o mais
grave e que tambem os membros do organismo administrativo da UNESCO fazi-
am parte desta conspiracao: é claro que deviam seus cargos aos socialistas. Por
outro lado, tinhamos paises do nosso lado que apareciam como democraticos,
mas sustentavam a mesma tese que a Unido Sovietica, incluindo Costa Rica,
Venezuela e Colombia, cujos governos cram supostamente democraticos.
0 que pudemos observar foi que tudo isso era manejado corn uma precisao
matematica pela Uniao Sovietica, que sabia que uma das maneiras de se conquis-
tar o mundo era atraves dos Orgaos de informacao pUblica, porque a Uniao Sovi-
etica ha anos ja nao se preocupava em organizar colegiaturas. 0 melhor era ocu-
par as universidades e os centros culturais. Ja nao interessavam tanto as greves
nem os colegiados. Muito mais importante que uma greve era urn jornal. Ou seja,
o artigo de um jornalista, ou a manchete de urn jornalista que tivesse o seu norne
sob ela; mudar de posicao urn paragrafo de uma noticia — nao elimina-lo, caso
nao fosse possivel, mas coloca-lo no final; enfim, todos esses recursos que bem
conhecemos. E nisso tudo a Uniao Sovietica estendia a sua organizacao, influin-
do nas delegacOes, na Assembleia Geral, e em qualquer outro organismo ou de-
partamento, por menor que fosse.
Amadeo M. Bow e seu sucessor
Amadeo M. Bow era urn homem muito culto, pelo menos no sentido acade-
mico da palavra. Urn comunista bem vestido, mas que desconhecia a cortesia,
15
pelo menos para usa-la conosco. Quando se afastou do seu cargo, ficou em seu
lugar urn subdiretor, amigo meu, que conhecia muito bem o monstro por dentro,
e havia sido subsecretario da Educacao Publica na Espanha: Mayor Zaragoza. Falei
corn ele e repeti-lhe os argumentos que havia utilizado em minha conversa corn
o presidente da Costa Rica. Ele sabia muito hem o que estava acontecendo, assim
como sabia que havia comecado o enfraquecimento da Ulna° Sovietica. Obvia-
mente, nao estava decidido a ser urn marionete dos comunistas, como havia sido
M. Bow, e me disse: "Como diretor geral, nao patrocinarei nenhuma campanha
que coiba a liberdade de expressao nem tenha por finalidacle lutar contra os ide-
ais que os senhores representam". Isso aconteceu na reuniao que tive corn ele ern
seu gabinete, acompanhado por Alejandro Aguirre, corn quem comentamos que
M. Bow nao nos deixava sequer andar pelos corredores. E claro que corn Mayor
Zaragoza tudo era diferente; tinhamos urn acordo de cavalheiros que ja vinha de
algum tempo, embora sempre houvessemos nos tratado coin uma certa cerim6-
nia. Entao, diante da sua declaracao, respondi: "Diretor, tenho que levar sua pala-
vra a Junta de Diretores da SIP, e nao quero confia-la a minha mernOria porque
alguns colegas poderiam pensar que eu tivesse incorrido em algum erro de inter-
pretacao, levado talvez pela minha simpatia pelo senhor, pelo fato de comparti-
lharmos a lingua espanhola ou a mesma origem etnica, ou o que quer que fosse
que pudesse me fazer ver alern da realidade, da posicao e da eventual conduta de
Mayor Zaragoza. Entao, gostaria de destacar suas frases fundamentals em urn car-
tao — que the mostrei — para transmitir suas palavras textual e fielmente a Junta,
sem qualquer erro. 0 que quero é escreve-las, sem pretender que o senhor as
assine". Entao, ele me disse — lembro-me que a essas alturas ja eram cerca de onze
horas da noite: "0 senhor disse que nao me pede que as assine, mas eu as assino".
E assim o fez, com data e tudo, naquele cartao que, plastificado, ainda conservo
em minha casa.
A verdade e que a mudanca foi radical. Mayor Zaragoza comecou a dar
trucOes e sabia muito bem o que fazia. Conhecia a nossa posicao e tambein a
posicao dos Estados Unidos. Logo sobreveio a saida deste pais da UNESCO, a da
Gra-Bretanha e creio que tambem a da Australia e de Singapura. 0 caso dos Esta-
dos Unidos é muito especial, porque sua saida foi determinada por razbes funda-
mentalmente orcamentarias, mas intimarnente vinculadas ao fato de toinar cons-
ciencia de que estavam provendo fundos para a anti-liberdade, e sem dUvida ao
nosso trabalho — que colocou a descoberto toda essa operacao da Uniao Sovietica,
seguida pelos paises do Terceiro Mundo que a apoiavam e pelos Nao Alinhados —
tambem alertou os Estados Unidos sobre a ideologia que estavam contribuindo
para defender. Nao podiam continuar pagando uma burocracia que, como disse
urn de seus delegados, "cravava urn punhal na liberdade". Os Estados Unidos nao
16
podiam conceber que urn jornalista, para trabalhar em urn jornal americano,
tivesse que estar colegiado ou ter urn titulo que o habilitasse a isso. Ainda que
fosse estrangeiro, bastaria que houvesse cumprido corn as disposicOes da Id da
imigracao. Mas, voltando a Mayor Zaragoza, devo assinalar que, ate hoje — e ja
praticamente terminado o seu mandato —, cumpriu corn a sua promessa, apesar
de nunca haver cessado a pressao em sentido contrario. Porque ate hoje ha na
Assembleia Geral da UNESCO muitissimos mais votos contra a liberdade de ex-
pressao do que a favor dela.
Nova Ordem Mundial da Informacao
E, continuando no mesmo terra, devo dizer que a Nova Ordem Mundial da
Informacao — que no entanto permanece sendo uma ameaca — esta assentada
sobre a colegiatura obrigatoria, porque e ela que faria corn que os patrocinadores
da Nova Ordem Mundial da Inforrnacao — de uma coloracao completamente mar-
xista-leninista — pudessem obrigar o mundo a fazer o que eles quisessem. Por
exemplo, proibir o que acreditarem que nao deve ser publicado, e publicar o que
quiserem que seja publicado. 0 fato é que des controlam grande parte desses
organismos. Controlam tambem as juntas de diretores dos sindicatos e, por isso,
para eles, a Nova Ordem Mundial da Informacao era e continua sendo de vital
importancia para a dominacao dos meios de informacao pUblica. Como? Atraves
desses colegiados. E porque eles controlam os colegiados? Porque sao eles que
tern a capacidade, o arrojo e a dedicacao suficientes para faze-lo.
Em relacao a isso, devo me referir a famosa Comissao dos Sete Sabios do Sr.
McBride, que rezava pela cartilha da Uniao Sovietica. Essa Cornissao era mais que
urn bravo da direcao geral da UNESCO para estes fins. De alguma forma aparecia
as vezes como suave mediadora, mas no fundo era outra coisa. Para nos, defenso-
res do jornalismo livre, a Comissao McBride era uma dor de cabeca, e assim me
lembro dela ate hoje. Chegamos a jantar corn McBride, mas tudo estava compro-
metido corn uma serie de situacOes que, em contraste corn a nossa clara posicao
em defesa da liberdade de expressao, sempre ficavam subordinadas a negociacbes
e a coisas obscuras, manejadas por urn McBride corn a licenca da Uniao Sovietica
para trabalhar. Uma vez compareceu a uma Assembleia da SIP para explicar o
motivo dos ditames da sua Comissao, mas nao convenceu ninguem. Sem procla-
mar abertamente sua adesao a Uniao Sovietica, sem dizer "Eu sou a favor da
Uniao Sovietica", defendia sua posicao ideolOgica. Certamente, nao atuava como
a delegacao de Cuba. Fora nomeado pela UNESCO, mas quem a UNESCO nome-
ava? Por que nao nomeavam Lord McGregor, da Inglaterra? Aqueles que decidi-
am estas nomeaceies faziam parte da conspiracao. Era precis() encontrar urn
McBride — que descanse ern paz, pois ja se foi. Que minhas palavras nao o ofen-
darn. Mas ele foi nomeado especificamente para isso. E tinha tanto poder que
17
tinhamos de nos preocupar nas reuniOes ou, por exemplo, em algum cafe da
manha corn ele certa manha, corn quem comparecia conosco, porque fulano ou
beltrano poderia nao convir que nos acompanhasse. Tinhamos de ter ate esse
tipo de condescendencia para nao prejudicar nossa posicao.
A verdade é que a Unido Sovietica manejava todo esse pessoal, mas o orga-
nismo que coordenava, que dispunha dos recursos economicos para sugerir con-
ferencias, nomear comissOes, convidar pessoas, imprimir livros e colocar quem
quisesse nos postos chaves, era a UNESCO. E quem ela colocava nestes postos?
Sem dtivida, as comunistas — fossem eles venezuelanos, nicaragnenses ou de qual-
quer outra nacionalidade.
Alem disso, defendendo a necessidade de estahelecer uma Nova Ordem
Mundial da Informaca'o, corn o argument° ridiculo da existencia do desequilibrio
informativo produzido pelo mundo industrializado, dono das grandes cadeias de
televisao, das agendas de noticias etc. Como que descobrindo ingenuamente a
existencia inevitavel de urn desequilibrio entre 'Daises grandes e pequenos, e entre
os meios de comunicacao mais ou menos poderosos. Mas, colocando as coisas
claramente, como seria possivel e razoavel obrigar, par exemplo, urn meio de
comunicacao latino-americano a publicar 30% do seu conteitdo sobre o sudeste
asiatico? Os meios de comunicacao de qualquer lugar do mundo devem publicar
as noticias que interessam ao seu publico. Corn que autoridade e de acordo corn
que leis do mercado seria possivel exigir de urn nosso jornal que pelo menos
dedicasse cem polegadas semanais a Singapura? S6 se apoderando da livre empre-
sa e da liberdade de informacao, algo que apenas a legitimo proprietario do jor-
nal pole fazer, poderiam ser impostas essas irrazoaveis pretensOes. Mas nao creio
que valha a pena insistir nisso tudo, porque e grosseiramente obvio.
Gestoes diante de ditaduras: Uruguai, Paraguai e Nicaragua
Seja como Presidente da SIP ou corno membro de suas comissOes, tomei
parte de varias delegacOes que tiveram de fazer gestoes em defesa de meios de
comunicacao e de jornalistas cujas liberdades haviam sido infringidas. Assim,
estive no Uruguai, que tinha nesse momento urn govern() militar, mas so pude-
mos conversar corn funcionarios militares de segundo escalao e nao fomos rece-
bidos pelo chefe de Estado.
Em Assuncao, pudernos nos encontrar corn Stroessner, mas depois de estar
corn ele em sua mesa de conferencias, ao sair do Palacio Presidencial, apesar do
controle que die tinha sabre o seu pais, fomos violentamente atacados por uma
turba de 20 ou 25 homens vaiando e gritando.
Stroessner disse-me — corn grande cinismo — que a Paraguai era urn pais regi-
do por instituicOes democraticas e que a liberdade que the pediamos para a fund-
onamento do ABC Color nao era possivel, porque ela nao dependia do Poder Execu-
18
tivo, mas do Pocler Judiciario, e que sendo a democracia do Paraguai uma democra-
cia quimicamente quase pura, urn poder nab podia invadir o campo do outro.
Outro caso que me ocupou intensa e extensamente foi o do meu carissimo
e muito lembrado amigo Pedro Joaquin Chamorro. Em todas as Assembleias e em
todos os organismos da S1 P, meu respaldo aos depoimentos e a posicao de Pedro
Joaquin Chamorro foi integral. Eu era exilado politico de Somoza, mas isso nao
significava que ventilasse sistematica, metifidica e apaixonadamente minhas idei-
as, mas sim que a minha posicao tinha fortes razOes de carater ideolOgico vincu-
ladas a liberdade de expressao. Sempre estive disponivel para Pedro Joaquin, e
que para isso valha o testemunho de sua esposa Violeta. Mais: em algumas ocasi-
()es tivemos pontos de vista de calker sociologic° nos quais nao necessariamente
coincidiamos, mas na essencia, no fundamental — ele sabia disso contava corn
todo o meu respaldo. Mais ainda: quando o mataram — id se passaram vinte anos
eu estava em Madri e eram oito horas da manha naquela cidade quando
telefonaram para o hotel e me deram a noticia. Ali mesmo, de imediato, escrevi
meu editorial sobre ele e mobilizei o que pude para ser declarado que haviam
matado urn heroi da liberdade de imprensa. Fomos companheiros de corporacao
e a ele nunca faltou nem o meu respaldo nem o do jornal.
De qualquer modo, devo dizer que a minha conviccao pessoal e de que
Pedro Joaquin foi morto pelos sandinistas. Eu o adverti em Nova York, na esquina
da Quinta Avenida corn a rua 50. Ele havia recebido o premio Moors Cabot e eu
o acompanhei. No almoco que the foi oferecido na Universidade, ele me pediu
que traduzisse. Corn muitas limitacties, eu o ajudei, e quando nos despedimos,
disse-the: "Pedro Joaquin, tenha cuidado. Eu estudei o comunismo e ha dois can-
didatos para produzir a queda de Somoza — o arcebispo de Managua, que nao era
cardeal, ou Pedro Chamorro. Eles o matam, fazem acreditar que foi Somoza e
assim tem inicio o problema". Eu estava tao convencido disso que, quando soube
de sua morte, em Madri, telefonei para o meu jornal para que fosse reservada uma
pagina para a America Central, porque ai vinha bomba. E, desde entao, a pagina
seis passou a ser dedicada, sem anuncios, a America Central, pois eu ja sabia o que
nos esperava. Voltando ao meu dialog° corn ele, disse-lhe tarnbem: "0 mais pen-
goso e voce, porque os sandinistas matam voce, que e adversdrio deles, e assim se
produz o caos na Nicaragua, porquanto o arcebispo nao e adversario politico para
eles". Isso eu the disse no final de outubro e ele foi motto em janeiro. E preciso
levar em conta que Violeta, apOs cinco ou seis anos na presidencia, nao conse-
guiu esclarecer o assassinato. E verdade que Pedro Joaquin tinha tido muitas
mostras da hostilidade dos Somoza — do pai e dos filhos — mas o que acontecia e
que, para Somoza, a existencia de Pedro Joaquin era urn escudo. Porque se al-
guem chegava Id, ele mostrava La Prensa e dizia: "Aqui eu sou o chefe de uma das
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maiores tiranias registradas na historia do mundo; agora, diga-me em que pais
podem escrever o que escrevem aqui? Certamente, isto nao quer dizer que nao
tenha havido epocas em que fecharam La Prensa, em que prenderam Pedro Joaquin,
o torturaram, mas houve outros periodos em que nao aconteceu nada corn ele nem
corn o jornal. Ou seja, quando disseram a Somoza que Pedro foi morto, ele Os a
mao na cabeca, pois se deu conta do tipo de problemas que teria de enfrentar.
Mas o meu tema da Nicaragua nao terminou corn Somoza, porque depois
de sua queda o povo estava confuso e havia uma tolerancia para corn a esquerda
que nao existia para corn outros tipos de governo. E desde o primeiro momento
se estabeleceram os problemas da falta de liberdade. Em 1979, ern Toronto, en-
contrei Violeta corn seu filho e the disse: "Violeta, o que voce assinou nao tern
nada a ver. E exatamente o contrario do que defendemos corn seu marido na
SIP". Ela estava confusa. E seu filho ]he disse: "Eloracio tern toda rano no que
diz". Trava-se da proibicao de publicar coisas impopulares. E era a lei que decidia
o que era impopular. Era isso o que dizia a lei que ela havia assinado. Isso era
cInico e grosseiro. Ela fazia parte de urn colegiado — era co-presidenta — e me disse:
"Tudo depende do que voce entende por liberdade de imprensa". Evidentemen-
te, estava confusa. Isso foi em 1979, e ate 1990 os cubanos estiveram Id infiltrados.
Em geral, meu jornal nab e uma publicacao dedicada a sair insultando as pessoas
e coisas no genero — e urn jornal bastante moderado. Mas, no caso de Cuba, e
preciso ver o que fizeram esses barbaros. Meu jornal nasceu no dia 4 de julho de
1953; vinte e dois dias depois aconteceu o assalto ao quartet Moncada. E nos
fizemos uma especie de minuta de tudo o que foi essa revolucao. Na epoca, pas-
sou pelo meu escritorio uma grande quantidade de pessoas de diferentes periodos
e de diferentes correntes ideolOgicas cubanas. Certamente, Miami e a cidade que,
depois de Havana, tem mais cubanos. Sem diivida alguma. Entao, naturalmente,
fui cada vez mais me vinculando a eles. Destruiram nossa Nicaragua porque era
Fidel Castro quem estava por tras. Os americanos nunca chegaram.
Mas, voltando ao tema anterior e para encerra-lo, a verdade e que depois,
durante a sua presidencia, e ja nao colegiada, mas unipessoal, Violeta nao conse-
guiu esclarecer o assassinato de Pedro Joaquin. E eu a vi dizer pela televisao em
urn dos mornentos em que estava tendo problemas corn os sandinistas: "Ate este
momento, ainda nao se sabe quem matou meu marido". Ou seja, eta nao conse-
guiu esclareceu e, alem de tudo, mais tarde perdoou.
0 Centro Tecnico (Institute de Imprensa)
Como disse no inicio, queria terminar meu testemunho corn esta questa°.
Infelizmente, morreu esse grande jornalista e estadista que era Willy Gutierrez,
que foi quern convenceu os americanos em Nova York, nos escritorios de Madison,
que era precise ter urn Centro Tecnico. Willy pensava em tudo. Tinha uma cultu-
20
ra humanistica e era urn grande patriota e urn heroi. Lutou na guerra do Chaco e
so conseguia dormir quatro ou cinco horas, por ter sido afetado pelos gases nessa
guerra. Sua ideia era clarissima sobre a necessidade de criar o Centro, para que os
jornais pequenos pudessem ter uma assistencia tecnica barata, ja que os grandes
jornais tinharn sells proprios centros tecnicos e nao precisavam dole. Mas para
urn jornal pequeno, incluindo o Diario Las Americas, embora hoje corn 46 anos
de vida, uma conferencia ou urn ciclo de conferencias de uma semana da SIP
pode ser infinitamente mais Util que para o Washington Post ou para The Miami
Herald, que tern seus proprios centros tecnicos.
Essa foi a ideia de Willy Gutierrez, e ele conseguiu para ela patrocinio eco-
nomic°, creio que da Ford e de alguem mais. Eu, por exemplo, no ano de 1970 ou
1972, queria passar da imprensa velha, de chumbo, para o offset, e ele me ajudou
muitissimo nisso. Tambem me ajudou muito Ed Scripps — ja morto — primo-ir-
mao de Charles Scripps, que foi presidente do Centro Tecnico e conseguia di-
nheiro e patrocinio. Devo citar tambem outro grande entusiasta e patrocinador
do Centro Tecnico, Jim Copley, que alem disso foi urn brilhante presidente da SIP
e quern me tornou membro do Comite Executivo, pois sabia da minha vontade
de servir a SIP.
Consideracao Final
Finalmente, e como resumo, gostaria de assinalar que haver conseguido que
se abrissem as postas da Corte Interamericana de Direitos Humanos atraves de
urn governo que, alem de tudo, nao estava interessado em nos dar respaldo, por
manter uma posicao contraria a nossa, nao pode deixar de ser considerada uma
acao realmente bem sucedida. Eu diria entao que essa, junto corn aquela da
UNESCO, foi minha gestao maxima na SIP, compartilhada, e claro, corn colegas
brilhantes, colegas que fizeram pela SIP uma enorme quantidade de coisas nobres
e efetivas.
21
ENRIQUE ALTAMIRANO
(El Diario de Hoy, San Salvador, El Salvador)
S
into muita falta dos meus primeiros anos na Sociedade Interamericana de
Imprensa. Comecei a colaborar quando o Centro Tecnico (hoje Institute de
Imprensa) esteve sob a competente direcao de Guillermo Gutierrez, que se
propos, coma urn apostolado, a capacitar os jornais do continente no uso de
novas tecnologias e dar novos rumos a sua politica informative. Willy (Gutierrez)
fazia todo o esforco para envolver os diretores dos jornais em decisiies que em
geral eram deixadas nas maos de gerentes e engenheiros.
Os seminarios
Guillermo Gutierrez era urn brilhante organizador de seminarios, aos quais
compareciam membros das familias proprietarias dos jornais mais importantes
do hemisferio. "Ibmava-se o cuidado de escolher pessoas que tivessem a ver umas
corn as outras, para elevar o nivel da discussao e, assim, estimular um avanco
qualitativo de conteudos e de sistemas de producao. A tematica dos seminarios —
no inicio rnais corn urn carater amplo do que focalizado — abordava os pontos
fracas da maioria das organizacOes: a uso de fotografias e graficos, controle de
qualidade, respaldo as informaceies, independencia editorial, temas de interesse
humane, administracao de redacdes. Dedicou-se a pedir a jovens executivos de
jornais ibero-americanos que dissertassem sabre suas experiencias e conhecimen-
tos pessoais.
Nos seminarios havia a representacao de grandes, medios e pequenos jor-
nais: El Tiempo, El Universe y el Comercio, La Nada"' e La Prensa de Buenos Aires, El
Mercurio, Novedades e La Prensa de Managua, as jornais caribenhos e as publica-
cOes do interior da Argentina. Os expositores eram tecnicos norte-americanos ou
hispanicos, como Jorge Zayas de Cuba e Carlos Suarez, argentino.
Os seminarios, coma o sao ate hoje, cram faros de animada discussao. Nin-
guern ficava calado. Em um deles, Guillermo Klappenbach, de La Nacion de Buenos
Aires, ganhou o premio "microfone de ouro", que seus companheiros brinca-
lheles ]he outorgaram. Os menos imaginativos sempre perguntavam aos exposi-
tores norte-americanos par que em seus jornais nao se dava nenhuma cobertura
as noticias da America Hispanica. A mim coube sofrer do contrario: as informa-
cOes, cronicas, denUncias, editorials e artigos assinados sobre El Salvador publicadas
nos jornais dos Estados Unidos, parte delas tendenciosas e maliciosas, intensifi-
caram a portentoso drama da guerra e as reformas econOmicas que assolararn a
pais na decada de 80.
22
A discussao aberta e o intercambio de ideias do Centro Tecnico, que se man-
tern atualmente no Institute de Imprensa, refletem o carater da SIP nesses anos:
ser urn foro de discussao sem restricOes. 0 tema essencial foi e continua sendo a
situacao da liberdade de imprensa no hemisferio, mas outras questOes eram tam-
ben' abordadas, seja pelos prOprios membros ou pelos conferencistas convidados
para as reuniaes.
Em alguin momento dos Ultimos quinze anos teve-se a infeliz ideia de proi-
bir os comentarios depois das conferencias e das apresentacaes. Decidiu-se que so
seriam admitidas perguntas, mas quando essas conduziam seu comentario, obri-
gou-se a faze-las por escrito. No seio da associacao dos jornais Iivres existe uma
forma velada de censura a liberdade de expressao.
Desafios nos primeiros anos e situacoes menos claras
Nos primeiros anos da SIP, os desafios eram clarissimos: jornais e jornalistas
que sofriam perseguicOes, fechamentos, ataques e ate assassinatos por parte de
ditaduras militares. Meu pai me contava sobre a luta aberta de Gainza Paz pelas
liberdades argentinas. A isso seguiu German Ornes contra Trujillo, e em seguida
os Rivera e os Zayas, entre outros, contra Castro. Houve o caso de jornais apologistas
de urn regime que depois se transformaram em seus criticos e foram perseguidos.
Mas corn os acontecimentos do Chile e a posterior instauracao do regime auto-
cratic° de Pinochet, apresentaram-se situacbes onde os perfis nap eram muito
claros. Era possivel acusar os jornais chilenos de colaboracAo corn uma ditadura,
quando a mesma havia restituido uma substancial medida de liberdade ao jorna-
lismo?
Durante certa epoca, os pobres jornais chilenos enfrentaram urn destino
cruel, pois lhes era limitado ate expor o que ocorria em seu pais. Na reuniao de
Vancouver, ha dez ou doze anos, varios deles — lembro-me de Tomas McHale,
Hermogenes Perez de Arce, urn dos Edwards — pediram-me que defendesse sua
posicao, ja que, por nao haver urn so diretor em defesa do Chile, eles ficavam de
fora. De certa maneira, os nicaragiienses de Novedades passaram por urn transe
parecido: nao podiam se defender.
Cabe defender urn jornal de propriedade de urn familiar de Somoza? Edgar
Solis, seu diretor, s6 protestava debilmente quando os Chamorro acusavam o
governo e Novedades. Chegou-se ao desenlace na reuniao de 1978, em Miami: a
mesa diretora da SIP permitiu que representantes das organizacoes e movimentos
contra Somoza tomassem o podio sem qualquer restricao. Quando Solis acusou
os sandinistas de comunistas, German Ornes levantou-se para dizer, abruptamente,
que isso era demais, e se tivesse que escolher entre ser "somozista" ou comunista,
ficava com a segunda opcao.
0 Novedades foi confiscado, o novo regime imediatamente comecou a es-
23
trangular La Prensa, e Solis, que e urn jornalista honesto e nao tinha outro susten-
to sena() o seu trabalho, passou alguns anos vendendo salsichas em uma esquina
de Miami, ate que eu pudesse tird-lo desse estado de calamidade. Nunca ninguem
denunciou o roubo do Novedades pelos sandinistas.
Critica a organizacab
Publicar em meio a vendavais politicos nao e facil, la que para algumas
personagens da SIP termina-se por ser contaminado. Ou somos menos iguais ao
resto. 0 fato de ao longo do tempo os cargos de direcao da organizacao serem
ocupados pelas mesmas pessoas e jornais influi na sua atitude. Acho que eventu-
almente as autoridades da SIP teriam de ser escolhidas a partir de va.rias listas,
para escapar deste jogo em que estamos envolvidos ha tempo e que lembra as
eleicOes por aclamacao do Presidium Sovietico.
A existencia de aristocracias e inerente a todo agrupamento humano. No
nosso, a SIP, sermos paladinos da liberdade de expressao e uma carts de entrada,
mas sempre que as ameacas venham de regimes nao democraticos. A deny ncia
contra movimentos de terror, mafias ou govemos populistas nao tennina nunca,
assim como as coacOes exercidas pelas forcas "de baixo". Ha na verdade uma
vantagem quando os inimigos sac, ditadores corn caracteristicas classicas.
Em todo o tempo que assisti corn impecavel regularidade as reunicies da SIP,
nunca foram debatidos as marcas do terrorismo nem o grave problema da
desinformacao. Como eu havia passado pela experiencia de ser alvo de urn ata-
que — estive no meio de um tiroteio durante mail de vinte minutos, quando 0
predio do jornal foi atacado por bombas e rajadas de metralhadoras — esta ques-
tao para tnim nao tinha nada de distante nem de teorica. Por isso me alegrei
quando me convidaram para participar de uma discussao sobre seqtiestros e ter-
rorismos na reuniao de San Diego.
Foi montada uma simulacao. 0 jogo consistia em fazer elucubracOes sobre
urn sequestro em urn pais democratic°. Nao era permitido sair do tema, muito
menos fazer referencia a fatos da vida real. Nem antes nem depois tocou-se no
assunto. Quanto a desinformacao, nem mesmo se apresentou como urn jogo te-
orico. Mas em uma reuniao realizada em Buenos Aires, chefes de movimentos
terroristas (on insurgentes, se preferir) chegaram a expor sua verdade. E os que la
estavam so podiam fazer perguntas por escrito.
Acho que na SIP se dava a palavra sempre e quando o personagem era pro-
tegido de jornais liberals dos Estados Unidos, como aconteceu corn Jacobo
Timmerman. Os jornalistas argentinos presentee nessa reuniao ficaram tao indig-
nados corn o que acontecia que urn apOs outro pediam a palavra, balbuciavam
sons na medida em que a colera lhes permitia e se sentavam, lividos. Experimen-
tei este sofrimento nos muitos anos em que o meu jornal denunciou os desmandos
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do regime de NapoleOn Duarte, sem que ninguem tomasse conhecimento do
assunto. Coube a mim o papel de urn jornal perseguido pelo govern() do seu pais,
que nao tinha credibilidade porque os liberais haviam ungido o autocrata. Duarte
terminou desacreditado quando foi descoberto que ele havia desviado fundos de
ajuda as criancas para contas prOprias.
Era muito clificil denunciar, quando a prOpria Comissao de Liberdade de
Imprensa da SIP nomeava representantes de jornais de outros paises para prestar
informacOes sobre o que acontecia no proprio pais. Eu protestei a tutela que nos
impos ao nomear urn executivo de La Nacian, da Costa Rica, que nunca por os
pes em El Salvador, para falar sobre nos. Aos atropelos e perseguicoes que sofria-
mos por parte do regime de Duarte — que suprimiu toda propaganda do governo
em nosso jornal quando mais de sessenta por cento da economia estavam em
suas maos — juntava-se a incredulidade corn relacao a nossa dernincia.
Invejo Os jornais, editores e jornalistas cujas batalhas sao contra ditadores
que estao do outro lado de suas fronteiras. Nessas condiccies, é muito facil se
esconder por tras da bandeira da liberdade.
Sao muitas as boas recordacOes das reuniOes que tive o privilegio de assistir,
e onde ao lado da vergonha merecida por aqueles que nao podem ser classifica-
dos de "moderados", encontrei grande amizade, compreensao e ajuda. Lembro
corn saudade de "meus amigos mortos", e especialmente de Guillermo Martinez
Marquez.
A isto de ser "moderado" devo acrescentar uma reflexao final: o grande
jornalismo neste continente, e no mundo, tern lido feito por aqueles que fogem
aos molder aceitos e travam suas lutas guiados por suas proprias conviccOes. Creio
que o pior que pole acontecer a urn pais é seus jornalistas terem medo de fugir ao
conventional.
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TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA
1952
• Morre aos 56 anos de idade o rei Jorge VI, da Gra-Bretanha, e sobe ao trono a Prince-
sa Elizabeth.
• Pela primeira vez em uma cinirgia e utilizada na Filadelfia uma valvula artificial do
coracao.
• 0 cantor e bailarino Gene Kelly estreia em Hollywood urn maravilhoso musical:
"Singing in the rain."
• 0 presidente Truman assina o tratado de paz com o Japao, que da por terminada a
Segunda Guerra Mundial no Pacifico.
• A atriz britanica Vivien Leigh ganha o Oscar por seu papel em "Urn bonde chamado
desejo".
• Morre aos 33 anos, de cancer, Eva Peron, a carismatica esposa do presidente argentino
Juan D. Peron.
• Abdica o rei Farouk, do Egito, abandonando o pais do porto de Alexandria, a bordo
de seu luxuoso iate.
• 0 jovem principe Hussein é coroado na Jordania, quando a enfermidade de seu pai
o impede de continuar reinando.
• 0 ator Charles Chaplin é investigado nos Estados Unidos como simpatizante do
comunismo.
• E outorgado o premio Nobel da Paz ao Dr. Alberto Schweitzer.
• No Brasil, o govemo cria o Institute do Café para aumentar as exportacties desse
produto.
• Morre aos 82 anos a famosa educadora Maria Montessori.
1953
• Morre aos 73 anos Josef Stalin.
• 0 lider comunista Josip Broz, con heddo como Tito, é eleito presidente da lugoslavia.
• A "Twentieth Century Fox" anuncia o advento da tela "Cinemascope".
• Morre aos 39 anos, em Nova York, o poeta Dylan Thomas.
• Morre aos 61 anos de idade o compositor sovietico Sergei Prokofiev, autor de "Pedro
e o Lobo".
• 0 Dr. Jonas Salk testa corn exito nos Estados Unidos a vacina contra a polionlielite.
• No Egito, as forcas armadas destronam o rei Fuad (filho do ex-rei Farouk) e é procla-
mada a reptablica.
• Francis Crick e James Watson, cientistas britanicos, descobrem na Universidade de
Cambridge (Gra-Bretanha) a estrutura molecular do DNA.
• Winston Churchill ganha o premio Nobel de Literatura por suas obras historicas.
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DANILO ARBILLA
(Busqueda, Montevideo, Uruguai)
D
urante a ditadura uniguaia, Id pelos anos 1975-1976, meu pais atraves
sou uma situacao hastante dramatica e singular, quando sua ditadura
foi se transformando em urn dos regimes mais totalitarios do Cone Sul.
Porque as outras ditaduras, claro, foram muito sangrentas, e a uruguaia nao, mas sem
dovida foi a mais totalitdria. Nesse momento nab havia nenhuma voz que a denun-
ciasse fora do pais. 0 Departamento de Estado mal comecava a faze-lo, corn o adven-
to de Carter a presidencia dos Estados Unidos, mas nao eram muitas as vozes.
De minha parte, eu tinha aquele conceito estereotipado da SIP tao comum
no meu pais e na America Latina. Vale dizer que, segundo esse conceito, a SIP
parecia ser uma organizacao de empresarios de direita; que tinha a ver corn a CIA
e tudo a mais. Mas eu comecei a ver que a SIP era realmente a (mica voz que
denunciava as ditaduras da America Latina e, alem disso, era ouvida. A Unica voz
corn forca, a -Unica voz corn ressonancia. E claro que depois de caidas as ditaduras
apareceram muitas vozes, mas nunca eu as tinha ouvido antes, nunca tinhamos
visto em seu momento tantos lutadores, .nem tantas organizacOes que
presumivelmente haviam atuado. De todo modo, ninguem se pronunciou como
a Sociedade Interamericana de Imprensa.
Urn dialog° ilustrativo
Digo isto porque me faz bem. Certa vez, depois da ditadura, entrevistei juni
to corn o correspondente do New York Times Rant Sendic, que foi o principal lider
dos Tupamaros; terminada a reportagem, enquanto conversavamos informalmen-
te, ele me disse: "Danilo, o Basqueda esta se saindo muito bem", e de minha parte
fiz o mesmo elogio a Mate Amargo, publicacao que ele editava. Entao, o corres-
pondente norte-americano ficou surpreendido, e achou muita grata que os edito-
res de duas publicacaes tao opostas do ponto de vista ideologic° e filosafica esti-
vessem trocando ponderacOes. Mas o interessante do caso e que Sendic me dizia:
"Sabe o que acontece, Danilo? Nos que temos estado presos, as vezes precisamos
saber o que acontece Id fora, e quando pergunto a muita gente o que aconteceu
nesses anos, parece que todos sentem a obrigacao de me dizer que estavam lutan-
do, que estavam fazendo o que podiam Mas eu nao precisava desta resposta,
porque com uma ditadura o que se podia fazer? Se, para comecar, nos, que havi-
amos sido as guerrilheiros, estavamos no carcere, estavamos presos, haviamos
perdido Eu acho que as pessoas tinham que viver, tinham que continuer assis-
tindo o futebol, tendo seus carnavais. E nao creio que ninguem tenha lutado, e
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tudo bem que nao tenham lutado, porque a ditadura impedia que se lutasse. A
luta havia terminado e nos estavamos presos. Quem mais is lutar?"
0 ingresso na SIP
E a isso quero me referir quando aludo aqueles que, apos a queda da ditadu-
ra, fingiam que haviam lutado. A SIP, ao contrario, havia atuado, denunciado,
defendido, e sua acao foi muito importante. Em seguida a isso, resolvi em 1978
associar-me a SIP, e o fiz como diretor da revista Noticias e como editor das revis-
tas Hoy e Basqueda, representando as tres publicaceies na SIP.
Assim, em 1979 assisti a minha primeira Assembleia da SIP, e, no total, du-
rante a ditadura, assisti a catorze assembleias como finico delegado do Uruguai,
denunciando a falta de liberdade de imprensa no meu pais. E, gracas a SIP, essa
deraincia chegou a todo o mundo. Para os militares uruguaios, a gravidade do
fato é que nao podiam acusa-la de ser comunista. Certamente, essas dentancias
me criaram problemas reais, porque perdi muitos empregos, ja que alguns meios
de comunicacao nao se atreviam a desagradar o governo e cediam as suas pres-
saes. Assim perdi Noticias, uma coluna que fazia para urn jornal e urn programa
de radio. Houve urn momento, por volta de julho de 1981, em que me vi sem
emprego. Eu, que tinha varios, como a necessidade impOe as vezes aos jornalistas,
havia ficado totalmente sem emprego; tanto que pensei em emigrar. Foi quando
Basqueda, que era uma revista mensal, transformou-se em semanario e pude vol-
tar a trabalhar.
Mas o que quero destacar e que a SIP foi a voz mais retumbante, a voz mais
efetiva, a voz mais contundente, e se constituiu na fonte que o Departamento de
Estado utilizou para fazer seus relatorios, coisa que eu pude comprovar fidedigna-
mente atrave's dos meus proprios relatorios sobre o Uruguai, e dos relatOrios sobre
outros paises. Porque ao ler aqueles do Departamento de Estado sabre os Direitos
Humanos, durante a epoca de Carter, podia perceber que praticamente eram ca-
pias dos relatOrios da SIP. E. isso tinha muito peso. Por isso, jamais me esquecerei,
coma uruguaio, o que a Sociedade fez pelo meu pais.
Trabalhar na SIP
Por isso resolvi continuar trabalhando nela, nao almejando algum cargo,
porque aqueles que me conhecem bem sabem que sou um homem muito pole-
mico e pouco diplomatico; quer dizer, nao tento me congracar corn ninguem,
mas defendo o que acredito — no acerto ou no erro — corn uma veemencia que nao
condiz corn a de alguem que esta buscando votos. Isto qualquer urn pode ratificar
na SIP. E se obtive urn cargo, foi gracas ao argentino Raul Kraiselburg, que confiou
a mim a presidencia da Comissao de Liberdade de Imprensa. Depois fui mantido
nela durante quatro anos por seus sucessores, David Lawrence, Gabriel Cano e
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Oliver Clarke, que tambem depositaram em mim sua confianca. Assim como
Jorge Fascetto, atual presidente, que tambem me concedeu a possibilidade de me
manter no cargo, caso nao ocupasse outra posicao, mas fui eleito segundo vice-
presidente e por isso tive de deixar a Co►nissao, ja que nao podia acumular os dois
cargos. Enquanto a presidi, o fiz corn veemencia e entusiasmo; algumas vezes
minha gestao foi discutida, mas cu devia isso a SIP, e o digo realmente de coracao.
Porque o que a SIP fez pelo Uruguai, repito mais uma vez, foi muito importante,
e dal a minha divida para corn ela.
Mas deve-se saber que trabalhar na SIP e muito caro. Talvez urn pouco da
forca da SIP provenha do fato de seus dirigentes pagarem todos os seus gastos. E
eu digo isso sem intencao de marcar diferencas nem corn nenhuma outra inten-
cdo oculta, mas de todo modo é preciso dize-lo. Em outras organizaWes de defesa
da liberdade de imprensa, seus dirigentes, em alguma medida, sao empregados
delas e, como tais, recebern salarios. Vale dizer que defendem a liberdade de im-
prensa corn a mesma conviccao corn que eu o faro, mas sao pagos para isso. Aqui,
ao contrario, nos pagamos para taze-lo. Essa é a diferenca. Par exemplo, eu diria
que nos Ultimos tres ou quatro anos participei de muitas missOes, e essas minhas
gestOes em defesa da liberdade de imprensa devem ter custado as empresas que
representei entre 40 e 60 mil dolares por ano. Outro exemplo: hoje se reunia o
Comite Executivo; trabalhamos desde as oito da manila e ao meio-dia tivemos
urn airflow, mas dentro de sete dias vai nos chegar a conta desse almow do
Comite Executivo. E nao estou falando da passagem, da inscricao, do hotel, que
ja sahemos serem gastos pagos pela minha empresa, mas, como membro do Co-
mite Executivo, eu pago a minha parte desse almoco. Ou seja, na SIP nao ha
nenhum privilegio, nenhuma prebenda. Quanto mais se trabalha, mais se paga. E
isso tambem e importante, porque produz a vocacao para estar e trabalhar na SIP.
Ja que ocupar cargos na SIP, pelo menos no que se refere ao meu pais, tambem
nao e algo que confira a alguem maior importancia ou dcstaque social. Haveria
em mcu pais muitos outros lugares onde se pode aparecer corn melhor e maior
repercussao social do que na SIP, mas nao é isso que importa. Esta-se na SIP por
razbes mais elevadas.
Ideias falsas acerca da SIP
Eu estudei a SIP, vivo a SIP, conhcco-a profundamente, e voltando par isso
mesmo ao tema do estereeitipo que existe sobre ela, recomendo a leitura de urn
prologo de Gregorio Selser, urn homem que — voce sabe, Albino — ninguem pode-
ria dizer que tenha sido, em vida, partidario da SIP nem muito menos; foi urn
homem de esquerda, ideologo de todos os movimentos do Terceira Mundo nos
anos 60. Entretanto, nesse prOlogo dedicado a um livro de Pedro Joaquin
Chamorro, Gregorio Selser diz que é preciso reconhecer a SIP as coisas boas que
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fez, porque é claro que a SIP fez — e aqui vem uma grande enumeracao — isto e
aquilo de born. Parece-me ser este um exemplo muito valid° para enfraquecer o
famoso estereotipo, e nao me lembro se e ali que se menciona o fato de, durante
a ditadura de Somoza, a SIP ter salvo a vida de Tomas Borge, que depois foi minis-
tro do Interior do govern() sandinista. Foi a SIP que salvou sua vida. Tambem
verdade que quando mais tarde o sandinismo se tornou governo, transformou-se
em inimigo numero urn da SIP. 0 caso é que ha dois anos ou dois anus e meio,
nao me lembro corn precisao, em uma reuniao de Puebla onde estava Tomas
Borge, este me disse em pfiblico que o seu jornal Barricada tinha interesse em se
filiar a SIP, e acrescento, alem disso, que depois de escutar uma conferencia que
eu havia feito, ele teve de admitir que o govern() que integrou atacou a liberdade
de imprensa; essa liberdade de Imprensa bem entendida corno ele a via agora,
depois de ter sido, por sua vez, agredido pelo governo nicaragiiense. Mas nao
pudemos concordar corn sua filiacao, apenas por uma rigida razao estatutaria — a
de que nao podem ser membros da SIP jornais que sejam porta-vozes oficiais de
partidos politicos. E o Barricada o era, nao obstante o fato de, como presidente da
Comissao de Imprensa, eu ter feito uma declaracao em apoio ao Barricada pela
perseguicao que essa publicacao sofria do governo de Aleman, e inclusive fui a
Nicaragua e tive la reuniOes, fiz declaracOes e uma conferencia a imprensa denun-
ciando todos esses fatos. Depois, e lamentavelmente, o Barricada fechou; e digo
lamentavelmente porque é sempre lamentavel o fechamento de urn jornal. Mas
isto e urn pouco urn resumo do que e a SIP. A SIP tern seus defeitos, a SIP pode ter
pessoas corn uma visao muito conservadora — é preciso ter em conta que falamos
de uma instituicao de mil e trezentos filiados — mas tambem tern pessoas corn
uma visa° muito liberal e muito aberta.
Alem disso, ha coisas muito claras que as pessoas nao sabem da SIP; por
exemplo, a profunda conviccao corn que defende a liberdade, mas nao a liberda-
de das empresas, embora as vezes tenha tido de se ocupar da Papel Prensa, ou
tambein o tenha feito naqueles casos em que o papel foi utilizado corno urn
mecanismo de pressao. Nao nego tampouco que tenha tido de Sc ocupar da pro-
paganda oficial, porque essa e uma das armas que foram utilizadas para atacar os
rneios de comunicacao. Mas a verdade indiscutIvel e que a SIP defende os jorna-
listas. Fundamentalmente os jornalistas. E quando a SIP briga, trabalha e dedica
tempo e dinheiro para protestar contra a impunidade no assassinato de jornalis-
tas, faz isso pelos trabalhaclores, porque se Os donos das empresas da SIP sao tao
ricos, eles nao podem ter problemas: para isso servem os carros blindados e os
guarda-costas. Quando os empresarios estao defendendo o que defendem, estao
defendendo os jornalistas — assim corno quando sao organizados cursos de
capacitacao, porque neste caso estao contribuindo para a profissao, e isso é feito
continuamente.
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Conduta transparente e equitativa
E urn fato certo e inegavel que a SIP tern uma conduta desse tipo. E ha
centenas de histOrias, centenas de fatos que comprovam isso de todos os modos.
Durante o govern() sandinista da Nicaragua e durante a ditadura de Pinochet, no
Chile, a SIP, no ambito do seu Comite Executivo, tomou uma decisao muito
conhecida e muito importante: o jornal La Prensa, de Managua, que combatia e
era terrivelmente castigado pelo sandinismo, recebia apoio dos Estados Unidos e
de muitas organizacOes, entre elas uma instituicao que para nos estava notoria-
mente vinculada a CIA. 0 jornal La Epoca, do Chile, publicacao que se opunha a
Pinochet, foi duramente atacado por seu governo, mas tambem recebia assisten-
cia e apoio econOmico dessa organizacao vinculada a CIA. Assim, o Comite Exe-
cutivo da SIP enviou cartas diretas a esses jornais, comunicando-lhes que a SIP
nao iria intervir em seus assuntos internos, mas nao via corn bons olhos a origem
da ajuda que estavam recebendo, e que isso, tambem, de certa forma limitava a
SIP na defesa que pudesse fazer de seus casos. Este foi um fato que motivou uma
decisao muito esclarecedora do Comite Executivo, e que faz corn que nao restem
duvidas sobre qual é a filosofia e a politica da SIP. Tal fato tambem motivou uma
carta de Violeta Chamorro a todos os membros do Comite Executivo, expressan-
do que ela havia sido ofendida pela ciecisao de forca.
Para esclarecer as coisas e evitar interpretacOes erradas, cabe tambem men-
cionar o problema da reuniao de 1972 ou 1973 no Chile, made notoriamente —
segundo soube pelas pessoas que me contaram — a SIP cornpareceu enganada a
essa reuniao, e anos depois veio a publico que ela foi parte de uma estrategia dos
Estados Unidos contra Allende. Foi por isso que figuras de destaque, donos de
jornais muito importantes da America, interromperam a reuniao de Sao Domin-
gos em 1976 e denunciaram e criticaram aqueles membros da SIP que, consciente
ou inconscientemente, contribuiram de algum modo para que a SIP fizesse essa
reuniao ern Santiago do Chile durante a greve dos camioneiros.
A SIP pioneira
Em contraposicao aquele fato penoso, em outra reuniao da SIP, mal havia
terminado a guerra entre Peru e Equador, as duas delegaceies chegaram a urn
acordo e lancaram urn documento conjunto falando da necessidade de paz e
harmonia, em uma atitude exemplar sustentada por uma visao adulta do proble-
ma. Desse primeiro acordo feito depois da guerra foram protagonistas jornalistas
e diretores de meios de comunicacao equatorianos e peruanos. F. assim como
nesta ocasiao a SIP foi pioneira de urn fato tao positivo, o foi igualmente muitas
outras vezes, adiantando-se a outras instituicoes e organizacOes. Assim o fez quando
comecou per sua propria conta e antes que alguem o fizesse, a denunciar a falta
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de liherdade em Cuba. Agora todo mundo parece descobrir que em Cuba ha urn
regime marxista-leninista que, de acordo corn os ensinamentos de Lenin, nao
pole permitir a liherdade de imprensa, porque segundo sua doutrina os orgaos de
difusao devem ser orgaos de propaganda do Partido, e tudo o mais é tolice. E Fidel
Castro sempre impediu a liberdade de imprensa por sua coerencia a ideologia
marxista-leninista. 0 que nao se explica é que so recenternente tenham se dado
conta disso. A SIP, no entanto, sempre clamou pelo que acontece em Cuba, desde
o primeiro momento. E por esse clamor de sempre, a SIP foi muitas vezes acusada
de estar vinculada a CIA, de estar a servico do imperialismo. Entretanto, hoje a
verdade do que continua acontecendo em Cuba vem nos mostrar que a SIP esta-
va certa.
A SIP tambem foi pioneira na questao dos assassinatos de jornalistas. Nesse
sentido, devemos recordar a reuniao hemisferica da Guatemala, onde se deu o
inicio, a genese, a origem de declaracbes posteriores da UNESCO e de outras
efetuadas pela OEA. Alem disso, tambem a criacao do relator da liberdade de
imprensa surgiu dessa reuniao. Foi a partir dai que a liberdade de imprensa adqui-
riu a categoria de direito humano, porque parecia que ate entao a liberdade de
expressao e a liberdade de imprensa nao tinham nada a ver corn os direitos hu-
manos — nem ao menos cram parte do seu contelido. E tudo isso, como se pole
ver, que vai alem dos interesses das empresas, foi e e uma tarefa da SIP. E devo
acrescentar que ela nao apenas vai mais alem, mas as vezes vai contra esses inte-
resses, porque e sabido que toda empress jornalistica contraria a um governo
costuma ter problemas, pelo menos no nosso Continente.
Nao a imposicao das proprias ideias
Outra acusacdo errOnea e injusta é que a SIP defende ferrenhamente seus
sOcios, mesmo que a sua posicao nao seja justa. A SIP sustentou em diversas opor-
tunidades que ser jornalista, ter urn meio de comunicacao, nao significa ter uma
autorizacdo para impor suas prOprias ideias. A SIP jamais negou que ha delitos de
comunicacao; o que nao quis nem quer sao leis de imprensa nem leis especiais,
corn delitos especiais e corn privilegios especiais. Os codigos estao ali e sao para
todos os cidadaos. Os delitos nao sao da imprensa — os delitos sao da comunica-
cao, que atraves dos meios de difusao podem ter agravantes. Mas tambem ocorre
que se eu paro em uma praca e difamo alguern diante de outras pessoas, cometo
contra aquela pessoa urn delito de difamacao. Neste caso, a SIP tambem tem silo
muito clara e equanime. Em muitas missbes em que foi defender jornais que
haviam feito dentincias contra hostilidades de urn governo, a SIP teve, imediata-
mente apOs denunciar os fatos, de emitir comunicados contrarios aos interesses
dos denunciantes, porque finalmente veio a comprovar que o jornal do caso esta-
va fazendo o jogo do seu proprio partido, aproveitando-se da Sociedade para
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pressionar e continuar em uma situacao que nao estava dentro da etica ou das
regras admitidas. Isso nos ocorreu ulna vez no Panama e no n orte do Mexico. A
SIP defende seus membros, mas em tudo o que esteja em ordem e de acordo corn
a lei. E nao busca a imunidade nem a impunidade de seus membros, mas sim sua
liberdade dentro da lei comum.
0 discurso da SIP tern sido sempre muito claro nesse sentido e tem se opos-
to a todo tipo de abuso em materia de liberdade de imprensa — e sobretudo tern
se oposto muito especialmente a todo tipo de actio que possa significar urn cerce-
amento ou uma limitacao do direito a informacao dos cidadaos. Nao somente
pelos Congressos, nao somente pelos Governos, nao somente pelos sindicatos ou
instituiceies, mas ate pelos proprios meios. Por isso, a SIP tem sido contra as auto-
regulamentacOes e contra toda norma de limitacao estabelecida por cartels de
jornais. 0 direito a informacao e urn direito de cada cidaddo que nao pode ser
limitado. NA° pode ser restringido. Tampouco se pode restringir os meios de co-
municacao. Eles nao podem se reunir e diner vamos ver o que informamos, o que
noticiamos e o que nao noticiamos. Deve haver livre competencia para que possa
haver tambem livre informacao. Ninguem tern o direito de limitar a liberdade de
informacao. Nem os sindicatos nem os donos de jornais nem os jornalistas. Por-
que tambern muitos sindicatos de jornalistas pretendem estabelecer uma especie
de controle dos jornalistas ou da informacao atraves de normas ou codigos de
etica. E isso constitui uma limitacao ao direito dos cidaddos a informacao. Defini-
tivamente, urn jornalista e, para a SIP, urn cidadao que exerce o seu direito de
informacao, que consiste cm recolher e difundir a informacao de maneira perma-
nente. Ele se prepara para isso que, alem de tudo, e o seu meio de vida. Mas nao
é muito mais que isso.
33
ROBERT BROWN
(Editor and Publisher, Nova York, USA)
S
enti urn profundo orgulho quando, como presidente da SIP no bienio 1973-
1974, participei da formacao da Comissao Mundial de Liberdade de Im
prensa. Fechamos o primeiro acordo corn o Institute de Imprensa Interna-
cional, em Boston, do que se classificou como a estrategia "urn por todos e todos
por urn" em materia de liberdade de imprensa. 0 acordo proclamava que "urn
ataque a qualquer meio informativo ou de opiniao em qualquer parte do mundo
representava urn ataque a todos os meios". Foi assim que a SIP e o IPI formaram a
Comissao Mundial de Liberdade de Imprensa para criar lacos entre os organismos
de meios internacionais e poder atuar em conjunto corn a escala mundial. Ocorre
que eu conhecia Ernest Meyer, o principal executivo do WI. Fui urn dos primeiros
socios do IPI quando da sua fundacao. Compartilhavamos criterios e percebemos
que a SIP era, nessa epoca, principalmente uma organizacao regional, enquanto 0
IPI era regional fora da America Latina e contava corn poucos membros nas Ame-
ricas. Em uma troca de impressOes, chegamos a um acordo de que os ataques
contra a liberdade de imprensa nao eram estritamente locais, mas internacionais.
0 presidente seguinte da SIP, George Beebe, entusiasmou-se corn o projeto e o
aperfeicoou. A Comissao de Liberdade de Imprensa e Informacao é hoje o que e
gracas a Beebe.
A parte isso, nao me lembro de nada muito significativo que tenha ocorrido
durante a minha presidencia. Fiquei feliz ao ser eleito para culminar quase uma
vida de dedicacao a esta Sociedade. Comecei como tesoureiro, depois presidi a
Comissao de Bolsas e, sete anos mais tarde, cheguei a presidencia do Comite
Executivo. Dediquei-lhe muito tempo durante sua consolidacao, fazendo o possi-
vel para ajudar a SIP, que, nesse momento, era pequena e tentava abrir caminho.
Fomos afortunados em contar coin estrelas no nosso meio. Estrelas como
Jack Knight, Andrew Heiskell e outros desse calibre, como tambem os lideres
latino-americanos. Isso nos manteve a tona. Hoje em dia, foram os jovens pro-
gressistas que tomaram a frente para fazer prosperar a organizacao. Fico feliz em
ver isso.
Esforco internacional e enfrentamentos
Conquanto seja uma organizacao regional, a SIP ajudou o tema da liberda-
de de imprensa a captar a atencao do mundo. Fomos os primeiros a nos ater ao
tema, a nos organizar. 0 IPI veio depois, e a FIEJ (agora AMP) mais tarde ainda. As
sociedades norte-americanas nao manifestaram interesse durante urn born tern-
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po. A American Society of Newspaper Editors mandou utna comitiva aos quatro
cantos do mundo depois da Segunda Guerra Mundial. Falaram da liberdade de
imprensa corn quem os escutasse. Entao, o bloco sovietico tentou usurpar o tema
da liberdade de imprensa atraves da UNESCO. Queriam que a UNESCO adotasse
propostas para a criacao de uma Nova Ordem Mundial da Informacao. Este con-
ceito enfocava as responsabilidades da imprensa, e nao as suas liberdades, as quais
se impunham todo tipo de condicaes. A SIP aliou-se aqueles que se opunham a
esta interpretacao.
A SIP convocou uma reuniao especial em San Jose, na Costa Rica, em frente
ao lugar onde a UNESCO debatia o tema. Eu nao pude comparecer a essa reuniao.
Estive em uma anterior em San Jose. Nessa ocasiao, um reporter de The Tico Times
intencionalmente violou a lei nacional de colegiatura obrigatOria. Este ato con-
verteu-se em urn caso juridico celebre, que culminou corn uma vitoria da SIP.
Atualmente continua-se lutando contra a mesma lei em diferentes paises da Ame-
rica Latina. Eu, em particular, desde o inicio me opus a colegiatura dos jornalis-
tas. Nao creio que se possam impor limitacties a faculdade de escrever de urn
jornalista segundo a universidade onde ele tenha estudado.
Nunca me coube assistir nenhuma das reuniOes que foram convocadas como
parte da resistencia a Nova Ordem Mundial da Informacao. Mas mantive contato
estreito corn pessoas que, estas sim, Id estiveram, como o diretor da Comissao
Mundial de Liberdade de Imprensa. Este me colocou a par do que estava aconte-
cendo. Por fim ganhamos, principalmente porque o ponto de vista de Federico
Mayor Zaragoza diferia daquele de M. Bow, a quem substituiu como diretor geral
da UNESCO.
Tenho percebido que agora um grupo de nacCies, principalmente africanas,
querem ressuscitar o debate sobre a Nova Ordem Mundial da Informacao. Mao
creio que a tentativa va adiante, mas se for, pode ser urn incOmodo. Felizmente,
os grupos das Americas estao de sobreaviso quanto a materia.
A Assembleia de Nova York: nova etapa
Faz quase 50 anos que fui designado tesoureiro da SIP. A Sociedade nessa
epoca vivia precariamente, enfrentando grandes dificuldades para conseguir so-
cios, sobretudo na America Latina. Existia urn nacleo norte-americano bastante
solid°, decidido a que a instituicao prosperasse. Foi depois da reuniao de 1950 no
Waldorf (Nova York), quando foram aprovados novos estatutos, que a SIP
deslanchou. Antes disso, alguns de nos nos reuniamos no restaurante Barbetta,
na rua 47, em Nova York. Era urn pequeno restaurante italiano corn toalhas de
algodao, onde urn prato de talharim custava US$ 1,25. Hoje em dia é urn restau-
rante elegante, administrado pela filha do Sr. Barbetta. Entre os que nos juntava-
mos la estava Julio GarzOn, diretor de La Prensa de Nova York; Hall Lee, diretor da
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Pan American Magazine, e Ferris Flint, o cabeca daqueles que quiseram reformar os
estatutos.
Cada socio urn voto
A Assembleia realizada ern Havana em 1943 estava repleta de jornalistas —
corn e sem emprego — que, so par estarem presentes, tinham o direito de voto. Por
conseguinte, nao eram sOcios, nao pagavam cotas nem nada. Foi entao que al-
guns do nosso grupo, incluindo Lee Hills, decidiram que era necessaria uma mu-
danca. Era mister estabelecer que cada soda tivesse direito a urn voto. Depois de
Havana houve uma serie de reuniOes, em Caracas e em Quito. Eu estive em Cara-
cas, mas nao em Quito. Foi em Quito que foi dada a autorizacao para convocar a
reuniao de Nova York. A reuniao de Quito foi presidida por Carlos Mantilla, da
familia Mantilla, dona do principal jornal de la. Mantilla era tambem presidente
da SIP e nos deu o seu apoio. A delegacao dos Estados Unidos recebeu a autoriza-
cao para modificar os estatutos.
Comecamos a planejar a reuniao de 1950 no Waldorf, onde seriam apresen-
tados os novos estatutos, nos quais se estabelecia a regra de urn voto por mem-
bro. Corn isso teria fim a influencia comunista. Compareceram a essa reuniao as
diretores de publicacbes de todo o Continente. Editor and Publisher publicou urn
document° em tres idiomas.
Par ocasiao dessa Assembleia, o nosso tesoureiro era Tom Kerney, do Trenton
Times, de Nova Jersey. Tom se interessou muito e viajava para Nova York para
assistir as reuniOes. Nosso mestre era Tom Wallace, de Louisville, urn homem
dedicado. Tambem estava la Bill Carney, do New York Times. Farris Flint foi funda-
mental para a redacao da nova carta magna. Eu prestei o meu apoio, embora nao
tenha estado na reuniao de Quito. Simplesmente havIamos decidido em Havana
que nao permitiriamos que os comunistas atingissem seu objetivo. Entre outras
coisas, estavam aprovando resolucOes a meia-noite, atacando os Estados Unidos.
Nao representavam nenhum governo; so representavam sua propria filosofia. 0
mesmo aconteceu em Caracas. Nos percebemos que teriamos de tomar a frente
da situacao.
Farris Flint emprestou Hall Lee, para que este dedicasse tempo integral a
preparacao da reuniao de Nova York. Nos the arranjamos lugar em nossos escrito-
rios, que na epoca ocupavam o 17" andar da Torre Times. Tambem the arranja-
mos uma sala, urn telefone e uma secretaxia. Dedicou todo a seu tempo a escrever
cartas e promover a reuniao. Foi iitil para motivar todos os que posteriormente
compareceram. Eram os pais e avos daqueles que assistem hoje as assembleias da
SIP.
Toni Wallace foi a presidente da reuniao, que teve lugar no salao Empire do
Hotel Waldorf. Pelo que me lembro, nao houve polemicas. Tivemos interpreta-
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(do simultanea. Elegemos uma junta de diretores. Torn Karney foi eleito primeiro
tesoureiro. Era tesoureiro do comite organizador e passou a se-lo do grupo
hemisferico. So mais tarde vim a assuimir essa funcao.
Uma origem familiar remota
Meu interesse nasceu de outro interesse: o que teve meu pai no primeiro
Congresso Pan-americano que se realizou, se nab me engano, em 1927 em Wa-
shington. Ele teve urn sonho que terminou quando chegou a Grande Depressao.
Depois, nao teve mais. Em maio de 1942, os mexicanos organizaram o que se
chamou de Primeiro Congresso Nacional e Pan-americano de Imprensa. Meu pai
ainda era vivo. Eu quis continuar o que ele havia comecado.
Depois veio o congresso de Havana em junho de 1943. Fulgencio Batista
enviou aos Estados Unidos um representante chamado Manolo Braila para nos
convidar a comparecer ao congresso, corn tpdas as despesas pagas. Dez ou onze
de nos fomos, mas pagamos nossas proprias despesas.
Todos os que foram a reuniao de Nova York pagaram uma inscricao, o que
nos proporcionou alguns recursos. A situacao era precaria, mas nos sobrevive-
mos. Reunimos dinheiro suficiente para continuar e para criar urn Fundo de Bol-
sas e Premios. Aquele que doasse US$ 2.500 teria direito a escolher urn premio. Se
a cloaca° fosse inferior, o dinheiro era juntado ate chegar a soma dos US$ 2.500,
e entao se estabelecia um premio SIP. Atualmente, as quantias sao superiores.
Tentativa de uma auditoria de circulacao
Tentamos estabelecer um servico de auditoria de circulac-do para publica-
vies latino-americanas, ja que na regiao nao existia nada como o Audit Bureau of
Circulation que tinhamos nos Estados Unidos. Chegamos a estabelecer a Oficina
de CirculaciOn Certificada, que depois acho que se transformou em outra coisa.
Nab duvido de que muitas publicacoes latino-americanas pensassem nao precisar
desse servico. Nossa iniciativa aconteceu pensando na rapidez em que chegariam
a America Latina as estrategias norte-americanas de tecnologia de mercado. As-
sim entenderam os principais jornais da regiao. No anuario publicado por Editor
and Publisher, incluiamos a circulacao declarada pelos jornais latino-americanos.
Estas nao eram nada precisas e nos explicavam que era impossivel ter dados mais
concretos. Tinhamos de aceitar o que nos diziam.
Presido a Comissao e o Fundo de Bolsas
Primeiro presidi a Comissao de Bolsas, criada durante a reuniao de Nova
York ou pouco depois. Em seguida, fui presidente do Fundo de Bolsas. Houve
tambem uma Comissao Tecnica, que se desenvolveu ate se tornar o Centro Tec-
nico. Estive no Fundo de Bolsas durante cinco anos. Tinhamos a ideia de que o
ensino era proveitoso para os jornalistas. Dadas as nossas caracteristicas de grupo
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internacional regional, decidimos tambem que os norte-americanos deveriam
viajar mais a America Latina para conhece-la melhor, e tambem o inverso. IM-
ciou-se a politica de alternar: urn ano eram dadas bolsas a norte-americanos para
estudar na America Latina; no ano seguinte, a bolsa era dada a urn latino-ameri-
cano para estudar nos Estados Unidos. Estavamos conscientes de que as nossas
bolsas eram muito modestas e mal davam para custear os gastos de alguem mo-
rando fora de sua terra. Nossos esforcos para melhorar as bolsas conseguiram
aumenta-las para USS 3.500, corn a ajuda da Fundacao Angel Ramos. Posterior-
mente, outros tambem passaram a colaborar corn o fundo.
A presidencia do Comite Executivo
Já nao sou presidente do Comite Executivo, porem me presentearam corn
uma placa que me declara presidente honorario. Fui presidente durante sete anos.
Tomei como principio que caberia ao presidente do Comite Executivo dirigir a
Sociedade na ausencia do Presidente. Acho que Os estatutos confirmam esta in-
terpretacao. Como a presidencia alterna cada ano entre o norte e o sul, era dificil
antigamente, para urn presidente latino-americano, estar a par de tudo por ser
bastante complicado via jar. Conseqiientemente, o presidente do Comite Executi-
vo estava em melhores condiceies de cumprir essas funcOes. Agora é muito facil it
e vir, o que é born para a Sociedade. Mas naquela epoca eu desempenhava o papel
de presidente interino, apesar de nao se-lo, e tentava nao ofender ninguem — algo
que as vezes era urn pouco dificil.
A SIP e Peron
Houve urn incidente em uma reuniao de Montevideu. Eu nao estava pre-
sente, mas creio que Peron enviou urn grupo de valentOes para observar o que se
passava. Dizem que portavam armas claramente visiveis. A intimidacao nao in-
terferiu corn a Assembleia. Nao sei que satisfacao eles deram a Peron, mas sem
davida tentaram mostrar sua importancia. Conta-se outra anedota da assembleia,
em que dizem que todo mundo recebeu urn retrato de Peron. Parece que George
Healey, do Times Picayune, de Nova Orleans, mandou ernoldurar o retrato e o
colocou no banheiro de sua casa.
Uma reuniao em Havana em 1958
'l'ivemos uma reuniao da Junta de Diretores em Havana durante o inverno
do ano em que Castro tomou o poder. Em toda parte pessoas eram assassinadas.
A sede da Junta foi urn lugar nas proximidades de Havana chamado Rosita de
Ordenos. Foi construiclo por urn homem em homenagem a sua esposa. Todos nos
tinhamos suites muito luxuosas. Tambem andavamos bem protegidos. Nossas
escoltas — designadas por Batista — eram policias em motocicletas equipadas corn
metralhadoras. George Healy ocupou o quarto vizinho ao meu. "lbdos os aparta-
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mentos tinham uma cozinha eletrica completa; todos os interruptores eletricos
estavam situados em urn mOvel dentro do apartamento. George e Maragaret tira-
ram seas coisas e colocaram as malas vazias sobre o aquecedor. Entao, George foi
experimentar os interruptores para identificar os que acendiam as luzes. Sem per-
ceber, incendiou o aquecedor e queimou sua mala!
Duas mortes
Ocorreram outros incidentes nao divertidos. Lembro-me de que Jules Dubois
morreu de urn ataque cardiaco em conseqiiencia da altitude. E um sujeito encan-
tador da Costa Rica, Ricardo Castro Beeche, is de aviao para uma assembleia em
Montego Bay, na Jamaica, quando uma turbulencia sacudiu o aparelho, lancan-
do Castro contra o teto e partindo-lhe a nuca.
A dificuldade das viagens
Nessa epoca, viajar nao era facil. Quando fui a reuniao de Caracas, em 1945,
o Unica, transporte disponivel era urn avid() DC-3, que saia de Miami. Fizemos
escala em Porto Principe e depois em Sao Domingos. De volta a Miami, estava
corn pressa para fazer conexao corn um vOo para Wilmington, na Carolina do
Norte. Tolamente, tentei sair depressa da alfandega. Alguem me agarrou e gritou:
"Onde pensa que vai?" Eu estava nas maos do servico de inteligencia naval — a
guerra ainda nao havia terminado — e logo compreendi que havia cometido urn
erro. Levaram-me a urn lugar onde ficaram me interrogando durante duas horas.
Quiseram saber o que fazia, e eu lhes disse que era escritor. "Sobre o que escreve?"
perguntaram-me. 'Fentei explicar-lhes que era jornalismo e que as vezes escrevia
sobre as tecnicas de impressao, entre elan algumas novas e revolucionarias. A
palavra "revolucionarias" deixou-os ern alertal E claro que perdi a conexao corn o
voo. Nunca mais faro isso.
Recordando Pedro Beltran
Fui urn afortunado por ter conhecido Pedro Beltran. Nao me lembro muito
da Assembleia de Lima, mas quando minha esposa e eu nos dispunhamos a vol-
tar para Nova York, Pedro se aproximou de mim e me informou: "0 presidente
colocou seu aviao a nossa disposicao. Voce gostaria de voar sobre o Amazonas?"
"E claro", respondi. "De-me duas horas para trocar minhas reservas". Foi assim
que Susan e eu, os Beltran e mais quatro ou cinco pessoas, subimos num avid()
que nos levou a Iquitos. Ali passamos tres dias maravilhosos. Nunca havia estado
nesse lugar. E uma lembranca memoravel. Depois nos levaram a sua granja ao sul
de Lima. Ele tratava muito bem seus empregados. Tambem conhecemos a bela
residencia que tinham em Lima, de arquitetura colonial. Soubemos depois que,
quando houve a mudanca de governo, tiraram-lhe essa casa, a derrubaram e pelo
terreno fizeram passar uma avenida.
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0 Peru foi o primeiro pais da America Latina a ter urn general que impOs
uma ditadura de esquerda. Chegaram ate a confiscar El Comercio, a revista de
Miro Quesada.
Miss6es a lugares de conflito
Fizemos o maxim() para dar respaldo ao ABC Color do I'araguai. Durante
nossos debates, decidimos que, em vez de evitar os lugares onde se acossava a
liberdade de imprensa, la fariamos intencionalmente ato de presenca. 0 Paraguai
foi urn dos primeiros lugares. Iriamos la para protestar contra o general Stroessner.
Mas entre o anancio da nossa viagem e a chegada a Assuncao, Stroessner foi
deposto. Nosso protesto transformou-se em celebracao.
Agora, a estrategia e diferente corn as missoes investigadoras da SIP que
viajam a diferentes lugares. Somos afortunados pelo fato de haver tantos socios
dispostos a pagar suns despesas de viagem quando integram essas missOes. Corn
freqtiencia crescente, as autoridades da SIP e o presidente da Comissao de Liber-
dade de Imprensa viajam a lugares onde ha problemas para apoiar a imprensa
local.
Jules Dubois
A Comissao de Liberdade de Imprensa e de Informacao sempre foi forte,
comecando por Jules Dubois. Fomos afortunados por poder contar corn ele nessa
primeira epoca. 0 coronet Robert McCormick deu-lhe carta branca para viajar
para onde quisesse. Especulava-se que Jules nao era simplesmente urn correspon-
dente, mas representava a CIA. Perguntei sobre isso a muita gente, mas ninguem
me deu uma resposta concreta. Era persistente e muito barulhento, e tinha a
habilidade de estar em varios lugares ao mesrno tempo. Simplesmente aparecia
em qualquer lado. Mas representou a SIP corn muita competencia no campo da
liberdade de imprensa. Era rude. Se nao gostava de alguem, dizia-Ihe na cara.
Uma vez, escutei-o declarar que a familia de urn editor proeminente era comunista.
Nao era, mas a politica da familia nao era a mesma que a de Jules. Esse era o
comportamento dele.
Pedro Joaquin Chamorro
A historia da SIP conta corn urn born nnmero de personagens pitorescos.
Pedro Joaquin Chamorro era um agitador. A maioria de nos nao estava inteirada
do grande pleito entre as familias Chamorro e Somoza. Lembro-me que em certa
ocasiao Chamorro regressou a Nicaragua proveniente do exilio e o detiveram e
encarceraram. Disserarn-me que a primeira coisa que fez foi proclamar a liberda-
de de imprensa em sua propria defesa. Nao sei se essa histOria e verdadeira, mas e
urn dos relatos.
40
Valentia latino-americana
Aqueles de nos que estavamos em Editor and Publisher frequentemente ad-
miravamos a valentia dos editores latino-americanos que compareciam as assem-
bleias da SIP para dizer a verdade sobre seus proprios governos e sobre a falta de
liberdade. Em seguida regressavam a seus paises. Em varias ocasiOes admiramos a
coragern dessas pessoas. Creio que a SIP teve alguma influencia ao poder demons-
trar estas condicOes ao editores norte-americanos. Lamentavelmente, nao conse-
guimos influir nos narcotraficantes. Eles parecem nao respeitar nada.
O leitor e a imprensa
Sou de opiniao que, atualmente, a principal ameaca a liberdade de impren-
sa esta no fato de esta ser encarada como um direito adquirido e garantido, mas
as pessoas nao entendem o que ela represents. 0 publico leitor de hoje é muito
critico da imprensa. Em muitos casos, essa critica e justificada. Mas nao enten-
dem que a imprensa e o mensageiro, nao a causa dos problemas sobre os quais
informa. Muitos acham que a imprensa deve ser seletiva no que relata, que so
deve publicar o que é born, nao o que e mau.
A credibilidade da imprensa contribui para o problema. 0 tema da
credibilidade surge quando as pessoas se recusam a compreender que a imprensa
se limita a comunicar. A imprensa nao inventa as coisas, mas e acusada de faze-lo.
O latino-americano e o norte-americano
A SIP promove e defende de maneira exemplar a liberdade de imprensa. A
Declaracao de Chapultepec segue urn caminho correto. 0 conceito do Institute
de Imprensa e excelente. Foi muito bem formulado e me sinto particularmente
feliz por ver os latino-americanos assumindo papeis cada vez mais ativos na SIP.
Muitos acharn que esta era uma Sociedade controlada e patrocinada por norte-
americanos para os latino-americanos. Na verdade, havia mais socios pagando
suas cotas na America Latina do que nos Estados Unidos. Mas sempre tive a espe-
ranca — e esta comeca a se concretizar — de que o que iniciamos para ajudar os
latino-americanos se transformasse em urn programa de auto-ajuda. Atravessa-
mos urn longo periodo em que o principal jornal de qualquer cidade latino-ame-
ricana, e seu editor, era o Unico socio desse local. E estes socios consideravam a
SIP como de seu dominio privado: nao queriam outros socios do seu pais. Mas
agora ha sangue novo, como Julio Mesquita. Ele obteve urn grande exito em
atrair novos socios do Brasil. E as pessoas na Argentina estao fazendo o mesmo.
Essa atitude nao existia ha 30 anos. 0 pai de Julio e Brito, no Rio, eram praticamente
os Unicos socios que tInhamos no Brasil. Agora contamos corn socios em toda
parte. Tambem no Mexico. Sao muito bons e muito ativos. Jorge Fascetto e Ratil
Kraiselburd sao outros exemplos.
41
Donos de publicacoes e jornalistas
Creio que se equivocam aqueles que caracterizam a SIP como uma Socieda-
de de donos de publicacOes e nao de jornalistas em geral. Aquele que nao tern a
batuta na mao tende a nao fazer outra coisa senao se queixar. Neste pais, os sindi-
catos se envolvem para proteger a integridade e a liberdade. Isso nao ocorre ne-
cessariamente na America Latina; la, estao mais preocupados em proteger seus
cargos e a corporacao. Se nao fosse pelos donos que enfrentaram os ditadores,
nao teria existido uma oposicao. Foram eles que assumiram a responsabilidade.
Gostaria que a SIP tivesse mais apoio nos Estados Unidos. Temos a tenden-
cia a olhar para o oeste, para o leste, mas nao para o sul. Este sempre tern sido o
nosso problema. Se nao fosse por alguns obstinados, como Jim McClatchy e Ed
Seaton, que apreciam a importancia da relacao regional, nossa situacao seria ain-
da mais dificil. Seaton curnpriu uma esplendida tarefa ao obter a ajuda das funda-
cOes para varios projetos.
Tenho a impressao de que a SIP progride, a tal ponto que instituicOes euro-
peias, como a Associacao Mundial de PublicacOes (antes FIEJ), solicitam corn
empenho novos sacios na America Latina. Os latino-americanos que estao filiados
a AMP e ao IPI sao tambern membros da SIP, creio que sem excecao.
De Nova York a Miami
Fui urn pouco resistente a saida da sede da SIP de Nova York. Mas tenho de
reconhecer que Miami é o lugar onde ela deve estar: e a porta de entrada para a
America Latina. De modo que apoiei esta iniciativa assim que me recuperei da
lastima inicial de perder o escritorio. Para mim, era muito conveniente to-lo em
Nova York, sobretudo quando era presidente do Comite Executivo. Tenho de
reconhecer que foi uma decisao acertada que, comprovadamente, tem dado mui-
to born resultado.
42
TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA
1954
• 0 presidente Eisenhower prop& estender o direito de voto aqueles que corn-
pletem 18 anos.
• A atriz Marilyn Monroe casa-se corn o ex-jogador de baseball Joe Di Maggio.
• Frank Sinatra ganha o Oscar por sua atuacao em "A urn passu da eternidade".
• Homens de negOcios britanicos comecam a utilizar regularmente o primeiro
computador eletronico.
• 0 presidente Eisenhower impede o senador McCarthy de investigar a CIA em
relacao a possiveis infiltracCies do comunismo nesse organismo.
• 0 Instituto Nacional do Cancer dos Estados Unidos chama a atencao para o
vinculo entre o cancer e o cigarro.
• 0 escritor Ernest Hemingway ganha o premio Nobel de Literatura.
• Morre aos 84 anos o pintor Henri Matisse.
• Em Genebra chega-se ao acordo de que o Vietna sera dividido ao longo do
paralelo 17, coin os comunistas controlando o norte.
• 0 cantor Elvis Presley grava seu primeiro disco: "That's All Right Mama".
• 0 govern() da Tailandia oferece bases aos paises ocidentais para a luta contra o
comunismo no sudeste asiatico.
1955
• Morre aos 76 anos, em Princeton (N.J.) — seu lar durante os oltimos 33 anos — o
cientista Albert Einstein.
• Nikita Khrushchev substitui Georgi Malenkov e assume a lideranca da Uniao
Sovietica.
• 0 ator Marlon Brando ganha o Oscar por sua atuacao em "On the Waterfront".
• Morre aos 34 anos o saxofonista Charlie "Yardbird" Parker, urn dos criadores
do "bebop".
• Na Argentina, o presidente Juan Peron e deposto e assume provisoriamente o
govern() o general Eduardo Lonardi.
• Morre aos 24 anos o ator James Dean.
• Ingressam nas NacOes Unidas 16 novos membros, mas ha repadio ao ingresso
da Mongolia e do Japao.
• Morre na Suica o escritor alemao Thomas Mann, premio Nobel de Literatura.
• A Organizacao Mundial de Satide declara que os residuos atomicos constituem
urn serio perigo a sande.
43
20 Reporte sobre a historia  da SIP
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20 Reporte sobre a historia da SIP

  • 1. REPORTAGENS SOBRE A HISTORIA DA SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA ALBINO GOMEZ é escritor, jornalista e diplomata. Exerceu o jornalismo no radio, na televisao e na imprensa. E redator das emissoras de radio mais importantes de Buenos Aires, diretor artistico do Canal 7 (hoje ATC) e colaborador dos canals 9, 11 e 13; redator das revistas "Primeira Plana", "Competen- cia", "Confirmado", da Agencia ALA (Miami), do jornal "La Pren- sa", de "La Voz del Interior" e do "Diario de Caracas". E tambem editorialista, secretario de reda- cao e correspondente nos Estados Unidos do jornal "Garin" alem de colaborador das revistas "El Arca", "Clasica" e "Archivos del Presente". Como funcionario do servico diplomatic° da Argen- tina, trabalhou em Montevideu, Santiago do Chile, Atenas, Pretoria, Cidade do Cabo, Nova York (ONU) e Washington, D.C. (embaixada para a Casa Branca). Foi diretor geral de Imprensa e Comunicacoes do Ministerio de Relacoes Exteriores de dezembro de 1983 a julho de 1986 e em- baixador na Suecia, no Quenia e no Egito. Durante o tempo em que, por motivos politicos, esteve afastado do Servico de Relacoes Exteriores (1976- 1982), atuou como secretario regional de Comunicacao da
  • 2. ALBINO GOMEZ REPORTAGENS SOBRE A HISTORIA DA SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA S.I.P.
  • 3. PROLOGO D eviamos este livro a SIP. Desde o excelente trabalho de Mary A. Gardner, que abarcou a historia da nossa instituicao entre 1926 e 1960, nao voltamos mais a lalar no passado, ccrtamente porque o correr dos acontecimentos destas tiltinias quatro cItcaclas jainais deu wept' a nossa luta permanente em Mesa da liber- Jade de imprensa e ao acompanhamento de todas as acnes clue dia apps dia c imo apkis ano devernos realizar pant cumprir Os objetivos da nossd instituic5o. Mas esse livro tornou-se entao necessario, porque depois de 34 anos de experien- cias muito ricas c diversas, corn a SIP ja institucionalizada, sua estrutura, composicao c objetivos internamente consolidados c esclarecidos, era impossivel fugir de uma apresentacao academica dirigida ao publico menos familiarizado corn tudo isso e corn sua acao. Dai o fato da edicao ter sido publicada em ingles. A situacao atual € diferente. Quase 40 anos depois, a SIP 6 bastante conhecida em todo o Continente, mas a luta pelo cumprimento de seus objetivos nao apenas nao terminou, Inas cresce dia a dia, e nao sornente nos aspectos defensivos, mas tambem nas acOcs construtivas que realiza atraves do seu Institute de Imprensa e naquelas vinculadas ao melhor desenvolvimento do ensino do jornalismo em nossas universi- dades. Entretanto, apesar da intensidade do nosso trabalho no presente e da nossa ne- cessidade de projetarmos para o futuro, continua sobrando tempo para olhar para tras; e acreditamos ser necessario coletar de alguma maneira as experiencias mats in- tensas destas ultimas decadas, porem nao mais mediante urn formato academico como fizemos anteriormente, mas de uma maneira mais vital e realista, atraves da memoria viva dc alguns de seus ex-presidentes e de seus mais ilustres dirigentes — ou seja, de seus verdadeiros protagonistas, porque definitivamente as instituicaes sao sects ho- mens. Por isso excluimos desta vez uma nova historia contada por uma so pessoa, ja que, apesar de toda a objetividade profissional que pudesse colocar em sua tarefa, nao deixaria de ser mats quc uma interpretacao absolutamente pessoal, tao respeitavel quanto dificil de representar urn consenso. Em troca, adotamos a modalidade de historias contadas por seus prOprios atores, atraves de reportagens que, convertidas em verdadeiros testemunhos, an suprimir-se as perguntas dos jornalistas, contem todas as vantagens de assegurar a diversidade de opiniao — que sempre respeitamos e defendemos — e a etica da responsahilidade pesso- al, que sempre estimulamos e agradecemos. No final do meu mandato, considero uma honra poder encerra-lo corn a apresen- tacao deste livro em sua edicao dupla — em espanhol e em ingles — cuja finalidade cinica é continuar divulgando em todo o Continente a acao e a luta da SIP. JORGE FASCETTO Presidente
  • 4. 0 QUE E A SIP? A Sociedad Interamericana de Prensa e uma organizacao sem fins lucrativos dedicada a defesa da liberdade de expressao e de imprensa em todas as Americas. Seus principais objetivos: • Defender a liberdade de imprensa onde quer que esteja ameacada nas Americas. • Proteger os interesses da imprensa nas Americas. • Defender a dignidade, os direitos e as responsabilidades do jornalismo. • Estimular normal elevadas de profissionalismo e conduta empresarial. • Promover o intercambio de ideias e informacOes que contribuam para o desen- volvimento tecnico e profissional da imprensa. • Estimular o conhecimento amplo e urn major intercambio de informacoes en- tre os povos das Americas em apoio aos principios basicos de uma sociedade livre e da liberdade individual. Breve historia da SIP A SIP comecou a se desenvolver em 1926, quando cerca de 130 jornalistas das Americas, reunidos em Washington, D.C. para o Primeiro Congresso Pan-ameri- cano de Jornalistas, tomou uma resolucao que aprovava o estabelecimento de uma organizacao interamericana permanente de jornalistas. 0 Congresso reu- niu-se posteriormente na Cidade do Mexico, em 1942, quando foi criada a Co- missao Permanente, que viria a se tornar a SIP durante a conferencia realizada em Havana no ano seguinte. Em reuniOes subsecitientes em Caracas, Bogota e Quito, a SIP pouco a pouco foi se transformando em uma instituicao estabelecida. Embora nessa epoca fosse uma organizacao predominantemente latino-arnericana, em 1946 urn pequeno grupo de editores e diretores de jornais da America do Norte fundaram nos Estados Unidos uma junta nacional da instituicao hemisferica. Talvez o ano mail importante do ponto de vista institucional na histOria da SIP tenha sido 1950.' Ate esse ano, as conferencias da organizacao foram realizadas sob os auspicios do governo do pais anfitriao, corn fundos prOprios e de acordo corn a sua conveniencia. As delegaceies litnitavam-se a sentar e votar por paises, e os membros nem sempre eram jornalistas. E por isso que decidimeos intercalar entre as reportagens uma cronologia muito sintetica dos acontecimentos que os jornais das Americas destacaram em suas manchetes de 1950 a 1989, para que nossos leitores pudessem acompanhar as alternativas da SIP dentro de urn contexto historico-jornalistico. 7
  • 5. Os delegados, reunidos na cidade de Nova York em 1950, mudaram esta situacao ao adotar novos estatutos que evitaram esses patrocinios. Desde entao, a SIP trans- formou-se em uma entidade independente — independente de qualquer governo ou interesse particular. A organizacao so conta coin os fundos formados pelas cotas de seus membros. Foi tambem importante a insercao de uma clausula determinando que os delegados enviados as reunitles representariam apenas suas publicacOes, cada urn corn direi- to a urn voto. Inicialmente, a medida que a organizacao se reestruturava, quase do zero, corn urn ninnero limitado de membros e seus cofres vazios, estas grandes mudancas provocaram urn enorme encargo economic°. Apesar disso, uma nova SIP inde- pendente — alimentada por alguns poucos membros — desde entao floresceu e cresceu sem cessar. Hoje, a SIP conta corn mais de 1.300 membros, que representam jornais e revistas desde a Patagonia ate o Alasca, corn uma circulacao combinada que se aproxima dos quarenta e cinco milhOes. A SIP conta corn Bois organismos afiliados autonomos: o Institute de Imprensa, que oferece aos sOcios latino-americanos assessoria tecnica sobre temas do setor, e o Fundo de Bolsas, que oferece recursos para atividades educativas. A organizacao e dirigida por uma Junta de Diretores que presta contas a todos os sacios durante a Assembleia Geral anual, cuja sede alterna entre a America do Norte e a America do Sul. Urn Comite Executivo supervisiona as atividades diari- as do pessoal da organizacao, que trabalha na sede da SIP em Miami, na Florida. Liberdade de Imprensa A Comissao de Liberdade de Imprensa e Informacao, pedra angular da SIP, fica atenta as ameacas e violacOes a liberdade de imprensa em todas as Americas e desenvolve respostas adequadas. Cada pais conta corn u►n vice-presidente regional que informa a Comissao sobre os temas e fatos que afetam a liberdade de imprensa em seu pais. Os relatorios sao discutidos e analisados duas vezes por ano na Reuniao de Meio do Ano da SIP, realizada durante a primavera boreal, e na Assembleia Geral, que tern lugar todo mes de outubro. A Comissao apresenta suas conclusoes e recomendacOes a Junta de Diretores, que entao toma uma decisdo sobre o caminho a seguir. As respostas a uma ameaca ou contestacao a liberdade de imprensa podem variar desde uma simples resolucao anunciando que a organizacao esta a par de uma 8
  • 6. ameaca potential, ate enviar uma missao especial de socios para realizar investi- gacOes adicionais e/ou apresentar a situacao diretamente aos responsaveis pelo problema. 0 relatario anual da Comissao sobre os abusos a liberdade de imprensa e considerado o documento mais completo da sua classe. Instituto de Imprensa da SIP Em 1957, os membros da SIP fundaram a Centro Tecnico, uma entidade inde- pendente sem fins lucrativos, para oferecer aos socios — especialmente aqueles da America Latina — informacoes e assistencia tecnica. Rezava a filosofia da criacao do Centro que se uma publicacao conta corn uma alta qualidade tecnica e muito mais dificil elimina-la. Em 1962, o Centro Tecnico ampliou suas atividades, quando recebeu urn donativo de urn rnilhao de dolares da Fundacao Ford, e desde entao ampliou suas ativida- des ate ficar auto-suficiente. Em 1955, mudou o seu nome para Instituto de Imprensa da SIP. Atualmente, seu trabalho inclui a organizacao de seminarios, a edicao da revista Hora de Cierre, que inclui uma separata em portugues, e tarn hem tern publicado varios livros sobre jornalismo. Fundo de Bolsas Convicta de que urn jornalismo perspicaz contribuiria para um melhor entendi- mento entre os paises do Hemisferio Ocidental, a SIP estabeleceu, em 1955, o Fundo de Bolsas da SIP, na qualidade de ulna filial autonoma, corn o apoio gene- roso de fundacOes e de publicacOes pertencentes a organizacao. O programa da organizacao oferece aos jornalistas jovens uma oportunidade esti- mulante de estudar ou trabalhar fora de seus paises durante nove meses. Os individuos podem solicitar uma balsa atraves de uma solicitacao encaminha- da ate 31 de dezernbro de cada ano. Os ganhadores sao anunciados na Reuniao de Meio do Ano, realizada no mes de marco do ano seguinte. Os interessados podem receber o formulario de solicitacao e informacOes adicio- nais escrevendo para a sede do Fundo de Bolsas da SIP em Miami. Premios Todos os arras a SIP premia o trabalho destacado de jornalistas e jornais nas Ame- ricas, corn uma ampla gama de premios e recompensas. Os premios, financiados exclusivamente por doacOes voluntarias dos socios, tern por objetivo reconhecer aqueles que se destacaram nas comunidades onde trabalham. 9
  • 7. Public46es Hora de Cierre e uma revista em espanhol dirigida ao pessoal da inclilstria editorial das Americas, sendo considerada amplamente como a principal fonte de noticias e informacOes sobre os aspectos tecnicos do setor, ainda que se esteja planejando ampliar mais ainda o seu contendo. Corn mais de 15.000 leitores na America Central, America do Sul e Caribe, Hora tie Cierre tambem constitui urn importante veiculo publicitario para as empresas que desejam promover seus bens e servicos no amplo mercado editorial da Ame- rica Latina. 0 Institute de Imprensa tambem publicou urn clicionario pratico bilingtie ingles- espanhol espanhol-ingles, de termos de Jornalismo e Artes Graficas, urn manual para jornalistas, urn manual de estilo e numerosas publicaceies sobre temas de administracao de jornais e revistas. NotiSip (IAPA News em ingles), é o boletim informativo bimestral que a SIP pu- blica para manter seus sOcios a par das atividades e eventos da organizacao. 0 boletim tambem oferece informacOes sobre temas da liberdade de imprensa e contem informacOes sobre as atividades e lucros dos sOcios, calenclarios de atividades etc. 10
  • 8. TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA 1950 • Corn a lideranca de Jawarharlal Nehru, a India se transforma na democracia mais povoada do mundo. • A Coreia do Norte invade a Coreia do Sul. • 0 cientista Klaus Fuchs é condenado a 14 anos de prisao por entregar a URSS segredos atomicos vitals dos Estados Unidos. • Morre aos 94 anos o dramaturgo irlancles George Bernard Shaw. • Morre aos 60 anos, na Gra-Bretanha, o bailarino e coreOgrafo sovietico Vaslav Nijinsky. • 0 cirurgiao norte-americano R.H. Lawler realiza o primeiro transplante renal. • Morre aos 80 anos o estadista sul-africano Jan Smuts, antigo lider da guerrilha boer. • A nadadora norte-americana Florence Chadwick bate o recorde mundial femi- nino no cruzamento do Canal da Mancha, corn o tempo de 13 horas e 23 minutos. 1951 • As NacOes Unidas transferem-se para seu novo predio em Manhattan. • As forcas das NacOes Unidas rechacam uma ofensiva con junta da China e da Coreia do Norte nas proximidades do paralelo 38. • 0 presidente Truman afasta o General Mac Arthur de seu cargo de comandante das forcas das NacOes Unidas, apOs este militar ter ameacado invadir a China. • 0 piloto automobilistico argentine Juan Fangio vence o Grande Premio da Franca. • As pessoas de cor sao retiradas do registro eleitoral e perdem dal em diante o direito ao voto. • A Deutsche Grammophon lanca no mercado o primeiro disco "long-playing", de 33 rpm. • Em Nova York, a cadeia de TV-WCBS transmite pela prirneira vez uma partida de baseball em cores. • Estima-se que mais de urn milhao de sul-corcanos morreram desde o inicio da guerra contra a Coreia do Norte. • 0 escritor norte-americano J.D. Salinger publica seu romance "0 Apanhador no Campo de Centeio", cuja critica aos adultos o transforma em urn grande exito entre a geracao jovem. 11
  • 9. HORACIO AGUIRRE (Diana Las Americas, Miami, Florida, USA) M eu primeiro contato corn a SIP teve lugar quando, exilado nicaragiien se no Panama, eu terminava meu curso de direito e trabalhava no Panama America, cujo diretor era o Dr. Harmodio Arias, urn dos gran- des juristas da lingua castelhana. Apesar de muito jovem, ja era editor do jornal e tive a oportunidade de con hecer a veiha SIP, aquela que se reorganizou em Nova York, que quis venter o argentino Juan Peron em uma reuniao realizada no Uru- guai, onde este colocou uma enorme quantidade de delegados para ganhar as eleicOes, mas sua tentativa resultou infrutifera. Eu havia said° do desterro sob a protecao de duas bandeiras — a dos Estados Unidos e a do Panama. No caso dos Estados Unidos, minha situacao era excepci- onal, uma vez que nunca aquele pais havia outorgado o direito de asilo. Mas as circunstancias assim o determinaram. A mim interessavam muito os temas inter- nacionais e me preocupei em conhecer essa associacao, a SIP, que vinha funcio- nando desde 1942 entre Havana e Mexico. Mas quando passei a conhece-la ple- namente, ja estavamos na SIP de 1948 a 1950, que se reorganizava em Nova York. E quando digo que passei a conhece-la plenamente, quero dizer corn uma dedicacao total — a margem do meu trabalho jornalistico — , mas pondo tambein este trabalho a servico da difusao dos objetivos e das atividades da SIP. Assim, you trabaihando e me integrando as diferentes comissOes: de Liberdade de Imprensa, de Premios etc. E me recordo tambem muito especialmente de que, naqueles anos, tinhamos muito mais tempo do que hole em dia, o que nos permitia trabalhar mais lenta e conscientemente, como faziamos em Miami Beach corn William Pepper na Comissao de Liberdade de Imprensa, e corn Jules Dubois. 0 Diario Las Americas na SIP Assim chegamos a primeira Assembleia Geral no Mexico em outubro de 1953, e é la que solicito a incorporacao do Diario Las Americas, que eu acabara de fundar em 4 de julho daquele mesmo ano. Em 1954, tenho o prazer de conhecer Tina Hills, recern-casada corn o Sr. Ramos, que já era meu grande amigo, como irmao. E ja se passaram 45 anos desde estes fatos e recordacOes ... Naquela epoca, eu precisava lutar muito corn o jornal recem-fundado, que, embora muito mo- desto, precisava enfrentar economicamente o que implicava — e ate hole conti- nua implicando — pertencer a urn organismo como a SIP, onde aqueles que atu- am, viajam e participam de suas reuniOes, incorrem pessoalmente corn os gastos que efetuam. Mas devia faze-lo, toda vez que minha presenca era duplamente 12
  • 10. indispensavel, pela organizacao e pelo jornal, porque cada vez que a SIP se reu- niu, nunca meus leitores deixaram de saber - extensivamente - tudo o que ocorria em seas comissOes e assembleias. Assim foram passando os anos ate que em 1964, no Mexico, fui eleito diretor, para nunca mais deixar de se-lo, mais tarde presidente da SIP e ate hoje presiden- te da Comissao de Assuntos Internacionais. Mas agora gostaria de me referir a algumas situacOes pontuais e conflituosas que a SIP enfrentou, para terminar estas recordacOes corn Willy Gutierrez, criador do Centro Tecnico, hoje chamado Instituto de Imprensa, baluarte fundamental da Sociedade. A Associacao A SIP estava empenhada na luta titanica contra a associacao ou colegiatura obrigatoria — e devemos insistir no termo obrigatoria — para se exercer o jornalis- mo em qualquer parte do mundo. Desde ja, o que nos interessava era a nossa zona geografica e regional. Haviamos imaginado a proposta de levar esta nossa luta a Corte Interamericana de Direitos Humanos — organism° intergovernamental, produto de urn tratado entre Estados e regido pelo Direito Internacional Publico — corn o objetivo de ditar uma decisao ou sentenca, ou produzir uma opiniao corn respeito ao fato de que a associacao obrigatOria violava a Declaracao Universal dos Direitos Humanos. A SIP, como organismo nao governamental, nao tinha proeuracao para re- correr ao Tribunal Interamericano de Direitos Humanos. Para isso, precisava pelo menos conseguir que a Comissao Interamericana de Direitos Humanos recomen- dasse ao Tribunal que escutasse urn organism° nao governamental da sociedade civil, no apelo a um questionamento legal. Mas acontece que a citada Comissao era fundamentalmente politica, constituida por representantes de governor. En- tao, ocorreu-me que o nnico caminho a seguir era conseguir que um governo acolhesse o nosso caso diante do Tribunal. Assim estavam as coisas quando foi convocada uma conferencia da Associacao Interamericana de Homens da Im- prensa, em San Jose da Costa Rica. E para Id fui corn Alejandro Aguirre, na epoca ja muito ativo na nossa Sociedade, e falei corn o presidente da Costa Rica, Alberto Monge, que is justamente pronunciar um discurso na abertura da conferencia. Disse-lhe mais ou menos o seguinte: Senhor Presidente, o senhor sabe que, para exercer o jornalismo onde exista colegiatura obrigatOria, e preciso reunir as condicOes que a lei determina para isso. E, na verdade e por direito, para ser jornalista o necessario é usar a palavra escrita — ou a falada, se o meio de comuni- cacao for o radio ou a televisao — e este é urn direito consubstancial do ser huma- no, corn o qual ele nasce. Porque ninguem nasce, por exemplo, corn o direito de abrir o coracao ou de construir a ponte de Brooklyn, sem ter satisfeito todos os 13
  • 11. requisitos de seguranca piiblica provenientes do curso academico de medicina ou engenharia, ou de tal ou qual, mas isso nao pode ser exigido para se expressar, para falar. Poderia ter sido possivel impedir Ruben Dario de trabalhar em La Naciori de Buenos Aires por nab estar colegiado? Ou que o dirigente de seu partido — Monge era Social Democrata —, Carlos Andres Perez, nao pudesse trabalhar no Prensa Libre da Costa Rica, aqui neste pais, durante o seu exilio, por nao estar colegiado? E que Pedro Joaquin Chamorro, que nao era jornalista colegiado e era exilado de Somoza, nao tivesse podido trabalhar no mesmo jornal? Entao, o pre- sidente Monge me disse: "Estou totalmente de acordo que e absurdo que se exija a colegiatura do jornalista e que isso seja estahelecido por Iei. Mas o que se pode fazer? Expliquei-lhe entao que, como essa disposicao violava a Declaracao Uni- versal dos Direitos Humanos e, por conseguinte, a Declaracao Interamericana, derivada da anterior, precisavamos levar o caso diante da Corte, mas para isso precisavamos contar corn o patrocinio de urn Estado, de urn governo, e era isso o que concretamente eu ]he pedia em nome da SIP. Sua resposta foi positiva, mas etc precisou exercer uma enorme pressao como Poder Executivo, dentro do seu prOprio Conselho de Governo, porque seu Chanceler defendia a tese de que a colegiatura era democratica e deveria existir. Entretanto, Monge intercedeu dian- te da Corte para que pudessemos apresentar diante dela a nossa demanda — ou seja, conseguiu-nos uma especie de "franquia", o que constituiu urn verdadeiro privilegio. Sobretudo porque ele sabia que na propria Corte, diante de uma vota- cao, seu pais votaria contra a nossa posicao. Mas nao tinhamos nenhuma outra possibilidade de nos fazermos ouvir na Corte. E, corn as valiosas colaboracoes de urn advogado costarriquenho, Fernando Guier, de German Emilio Ornes e de outran duas ou tres pessoas, pode-se fazer uma apresentacao de enorme valor doutrinario, demonstrando que a colegiatura obrigatoria constituia realmente uma violacao da Declaracao dos Direitos Humanos. Nao obstante, é claro que nao pudemos tornar obrigatorio o desenvolvimento desta tese e sua vigencia em cada pais, mas ja tern havido alguns exemplos favoraveis, apesar das pres6es em contrario serem muitas, algumas delas bastante vinculadas a diferentes formas de chantagem. 0 fato e que coube a mim a honra providencial de ter sido, nesta bela bata- lha, urn instn.tinento operativo essencial, contando corn a colaboracao de todos os inembros da Junta de Diretores, corn a colaboracao de toda a Assembleia. Nin- guem colocou obstaculos. Todos cooperaram. Deus ou as circunstancias guise- ram que fosse eu o instrumento que conseguiria que urn governo que se opunha na Corte a nossa demanda, nos concedesse a "franquia" para nos apresentarmos diante dole. Mas, para entender todo o significado desta hatalha pela colegiatura, que se manifesta simultaneamente em muitas frentes, ou seja, em varios paises, devemos passar a outro terna concomitante que em seguida you desenvolver. 14
  • 12. A UNESCO Corn German Ornes, Garcia Lavin, Jim Canel e winos outros, estivemos qua- se urn mes inteiro no Hilton de Paris, trabalhando desde as oito da manha ate as onze da noite neste caso, e na demonstracao do poder descomunal que a Uniao Sovietica exercia sobre a UNESCO em 1978. Na ocasido, o governo de Fidel Castro e todos os governos comunistas tinham uma coordenacao absoluta e dominavam o Sr. M. Bow, que era urn diretor geral completamente subordinado a Unido Sovie- tica. As sedes das embaixadas cubana e sovietica eram os locais de reuniao e plane- jamento. Os paises que defendiam, como nos, a tese de que a colegiatura obrigato- ria era incompativel corn a Declaracao Universal dos Direitos Flumanos e corn o ideal e os principios democraticos em geral, eram quarenta. Entre eles estava o Japao, cujo embaixador pronunciou urn discurso maravilhoso, no qual chegou a dizer que, se a sindicalizacao tivesse lido obrigataria para os pintores, a escola Cubista nao teria existido. Porque a Academia, quando ela emergiu, a teria repudiado e, podendo representar o poder organizado dos pintores, poderia to-la impedido. E assim, do mesmo modo, poderia ter procedido em relacao a outras escolas corn as quais, por ocasiao do seu surgimento, a Academia nao comungasse. Entretanto, sobre Os quarenta paises lancava-se em cima o resto, muito mais numeroso: cem ou cento e dez, ou mais, que em bloco votavam contra. E o mais grave e que tambem os membros do organismo administrativo da UNESCO fazi- am parte desta conspiracao: é claro que deviam seus cargos aos socialistas. Por outro lado, tinhamos paises do nosso lado que apareciam como democraticos, mas sustentavam a mesma tese que a Unido Sovietica, incluindo Costa Rica, Venezuela e Colombia, cujos governos cram supostamente democraticos. 0 que pudemos observar foi que tudo isso era manejado corn uma precisao matematica pela Uniao Sovietica, que sabia que uma das maneiras de se conquis- tar o mundo era atraves dos Orgaos de informacao pUblica, porque a Uniao Sovi- etica ha anos ja nao se preocupava em organizar colegiaturas. 0 melhor era ocu- par as universidades e os centros culturais. Ja nao interessavam tanto as greves nem os colegiados. Muito mais importante que uma greve era urn jornal. Ou seja, o artigo de um jornalista, ou a manchete de urn jornalista que tivesse o seu norne sob ela; mudar de posicao urn paragrafo de uma noticia — nao elimina-lo, caso nao fosse possivel, mas coloca-lo no final; enfim, todos esses recursos que bem conhecemos. E nisso tudo a Uniao Sovietica estendia a sua organizacao, influin- do nas delegacOes, na Assembleia Geral, e em qualquer outro organismo ou de- partamento, por menor que fosse. Amadeo M. Bow e seu sucessor Amadeo M. Bow era urn homem muito culto, pelo menos no sentido acade- mico da palavra. Urn comunista bem vestido, mas que desconhecia a cortesia, 15
  • 13. pelo menos para usa-la conosco. Quando se afastou do seu cargo, ficou em seu lugar urn subdiretor, amigo meu, que conhecia muito bem o monstro por dentro, e havia sido subsecretario da Educacao Publica na Espanha: Mayor Zaragoza. Falei corn ele e repeti-lhe os argumentos que havia utilizado em minha conversa corn o presidente da Costa Rica. Ele sabia muito hem o que estava acontecendo, assim como sabia que havia comecado o enfraquecimento da Ulna° Sovietica. Obvia- mente, nao estava decidido a ser urn marionete dos comunistas, como havia sido M. Bow, e me disse: "Como diretor geral, nao patrocinarei nenhuma campanha que coiba a liberdade de expressao nem tenha por finalidacle lutar contra os ide- ais que os senhores representam". Isso aconteceu na reuniao que tive corn ele ern seu gabinete, acompanhado por Alejandro Aguirre, corn quem comentamos que M. Bow nao nos deixava sequer andar pelos corredores. E claro que corn Mayor Zaragoza tudo era diferente; tinhamos urn acordo de cavalheiros que ja vinha de algum tempo, embora sempre houvessemos nos tratado coin uma certa cerim6- nia. Entao, diante da sua declaracao, respondi: "Diretor, tenho que levar sua pala- vra a Junta de Diretores da SIP, e nao quero confia-la a minha mernOria porque alguns colegas poderiam pensar que eu tivesse incorrido em algum erro de inter- pretacao, levado talvez pela minha simpatia pelo senhor, pelo fato de comparti- lharmos a lingua espanhola ou a mesma origem etnica, ou o que quer que fosse que pudesse me fazer ver alern da realidade, da posicao e da eventual conduta de Mayor Zaragoza. Entao, gostaria de destacar suas frases fundamentals em urn car- tao — que the mostrei — para transmitir suas palavras textual e fielmente a Junta, sem qualquer erro. 0 que quero é escreve-las, sem pretender que o senhor as assine". Entao, ele me disse — lembro-me que a essas alturas ja eram cerca de onze horas da noite: "0 senhor disse que nao me pede que as assine, mas eu as assino". E assim o fez, com data e tudo, naquele cartao que, plastificado, ainda conservo em minha casa. A verdade e que a mudanca foi radical. Mayor Zaragoza comecou a dar trucOes e sabia muito bem o que fazia. Conhecia a nossa posicao e tambein a posicao dos Estados Unidos. Logo sobreveio a saida deste pais da UNESCO, a da Gra-Bretanha e creio que tambem a da Australia e de Singapura. 0 caso dos Esta- dos Unidos é muito especial, porque sua saida foi determinada por razbes funda- mentalmente orcamentarias, mas intimarnente vinculadas ao fato de toinar cons- ciencia de que estavam provendo fundos para a anti-liberdade, e sem dUvida ao nosso trabalho — que colocou a descoberto toda essa operacao da Uniao Sovietica, seguida pelos paises do Terceiro Mundo que a apoiavam e pelos Nao Alinhados — tambem alertou os Estados Unidos sobre a ideologia que estavam contribuindo para defender. Nao podiam continuar pagando uma burocracia que, como disse urn de seus delegados, "cravava urn punhal na liberdade". Os Estados Unidos nao 16
  • 14. podiam conceber que urn jornalista, para trabalhar em urn jornal americano, tivesse que estar colegiado ou ter urn titulo que o habilitasse a isso. Ainda que fosse estrangeiro, bastaria que houvesse cumprido corn as disposicOes da Id da imigracao. Mas, voltando a Mayor Zaragoza, devo assinalar que, ate hoje — e ja praticamente terminado o seu mandato —, cumpriu corn a sua promessa, apesar de nunca haver cessado a pressao em sentido contrario. Porque ate hoje ha na Assembleia Geral da UNESCO muitissimos mais votos contra a liberdade de ex- pressao do que a favor dela. Nova Ordem Mundial da Informacao E, continuando no mesmo terra, devo dizer que a Nova Ordem Mundial da Informacao — que no entanto permanece sendo uma ameaca — esta assentada sobre a colegiatura obrigatoria, porque e ela que faria corn que os patrocinadores da Nova Ordem Mundial da Inforrnacao — de uma coloracao completamente mar- xista-leninista — pudessem obrigar o mundo a fazer o que eles quisessem. Por exemplo, proibir o que acreditarem que nao deve ser publicado, e publicar o que quiserem que seja publicado. 0 fato é que des controlam grande parte desses organismos. Controlam tambem as juntas de diretores dos sindicatos e, por isso, para eles, a Nova Ordem Mundial da Informacao era e continua sendo de vital importancia para a dominacao dos meios de informacao pUblica. Como? Atraves desses colegiados. E porque eles controlam os colegiados? Porque sao eles que tern a capacidade, o arrojo e a dedicacao suficientes para faze-lo. Em relacao a isso, devo me referir a famosa Comissao dos Sete Sabios do Sr. McBride, que rezava pela cartilha da Uniao Sovietica. Essa Cornissao era mais que urn bravo da direcao geral da UNESCO para estes fins. De alguma forma aparecia as vezes como suave mediadora, mas no fundo era outra coisa. Para nos, defenso- res do jornalismo livre, a Comissao McBride era uma dor de cabeca, e assim me lembro dela ate hoje. Chegamos a jantar corn McBride, mas tudo estava compro- metido corn uma serie de situacOes que, em contraste corn a nossa clara posicao em defesa da liberdade de expressao, sempre ficavam subordinadas a negociacbes e a coisas obscuras, manejadas por urn McBride corn a licenca da Uniao Sovietica para trabalhar. Uma vez compareceu a uma Assembleia da SIP para explicar o motivo dos ditames da sua Comissao, mas nao convenceu ninguem. Sem procla- mar abertamente sua adesao a Uniao Sovietica, sem dizer "Eu sou a favor da Uniao Sovietica", defendia sua posicao ideolOgica. Certamente, nao atuava como a delegacao de Cuba. Fora nomeado pela UNESCO, mas quem a UNESCO nome- ava? Por que nao nomeavam Lord McGregor, da Inglaterra? Aqueles que decidi- am estas nomeaceies faziam parte da conspiracao. Era precis() encontrar urn McBride — que descanse ern paz, pois ja se foi. Que minhas palavras nao o ofen- darn. Mas ele foi nomeado especificamente para isso. E tinha tanto poder que 17
  • 15. tinhamos de nos preocupar nas reuniOes ou, por exemplo, em algum cafe da manha corn ele certa manha, corn quem comparecia conosco, porque fulano ou beltrano poderia nao convir que nos acompanhasse. Tinhamos de ter ate esse tipo de condescendencia para nao prejudicar nossa posicao. A verdade é que a Unido Sovietica manejava todo esse pessoal, mas o orga- nismo que coordenava, que dispunha dos recursos economicos para sugerir con- ferencias, nomear comissOes, convidar pessoas, imprimir livros e colocar quem quisesse nos postos chaves, era a UNESCO. E quem ela colocava nestes postos? Sem dtivida, as comunistas — fossem eles venezuelanos, nicaragnenses ou de qual- quer outra nacionalidade. Alem disso, defendendo a necessidade de estahelecer uma Nova Ordem Mundial da Informaca'o, corn o argument° ridiculo da existencia do desequilibrio informativo produzido pelo mundo industrializado, dono das grandes cadeias de televisao, das agendas de noticias etc. Como que descobrindo ingenuamente a existencia inevitavel de urn desequilibrio entre 'Daises grandes e pequenos, e entre os meios de comunicacao mais ou menos poderosos. Mas, colocando as coisas claramente, como seria possivel e razoavel obrigar, par exemplo, urn meio de comunicacao latino-americano a publicar 30% do seu conteitdo sobre o sudeste asiatico? Os meios de comunicacao de qualquer lugar do mundo devem publicar as noticias que interessam ao seu publico. Corn que autoridade e de acordo corn que leis do mercado seria possivel exigir de urn nosso jornal que pelo menos dedicasse cem polegadas semanais a Singapura? S6 se apoderando da livre empre- sa e da liberdade de informacao, algo que apenas a legitimo proprietario do jor- nal pole fazer, poderiam ser impostas essas irrazoaveis pretensOes. Mas nao creio que valha a pena insistir nisso tudo, porque e grosseiramente obvio. Gestoes diante de ditaduras: Uruguai, Paraguai e Nicaragua Seja como Presidente da SIP ou corno membro de suas comissOes, tomei parte de varias delegacOes que tiveram de fazer gestoes em defesa de meios de comunicacao e de jornalistas cujas liberdades haviam sido infringidas. Assim, estive no Uruguai, que tinha nesse momento urn govern() militar, mas so pude- mos conversar corn funcionarios militares de segundo escalao e nao fomos rece- bidos pelo chefe de Estado. Em Assuncao, pudernos nos encontrar corn Stroessner, mas depois de estar corn ele em sua mesa de conferencias, ao sair do Palacio Presidencial, apesar do controle que die tinha sabre o seu pais, fomos violentamente atacados por uma turba de 20 ou 25 homens vaiando e gritando. Stroessner disse-me — corn grande cinismo — que a Paraguai era urn pais regi- do por instituicOes democraticas e que a liberdade que the pediamos para a fund- onamento do ABC Color nao era possivel, porque ela nao dependia do Poder Execu- 18
  • 16. tivo, mas do Pocler Judiciario, e que sendo a democracia do Paraguai uma democra- cia quimicamente quase pura, urn poder nab podia invadir o campo do outro. Outro caso que me ocupou intensa e extensamente foi o do meu carissimo e muito lembrado amigo Pedro Joaquin Chamorro. Em todas as Assembleias e em todos os organismos da S1 P, meu respaldo aos depoimentos e a posicao de Pedro Joaquin Chamorro foi integral. Eu era exilado politico de Somoza, mas isso nao significava que ventilasse sistematica, metifidica e apaixonadamente minhas idei- as, mas sim que a minha posicao tinha fortes razOes de carater ideolOgico vincu- ladas a liberdade de expressao. Sempre estive disponivel para Pedro Joaquin, e que para isso valha o testemunho de sua esposa Violeta. Mais: em algumas ocasi- ()es tivemos pontos de vista de calker sociologic° nos quais nao necessariamente coincidiamos, mas na essencia, no fundamental — ele sabia disso contava corn todo o meu respaldo. Mais ainda: quando o mataram — id se passaram vinte anos eu estava em Madri e eram oito horas da manha naquela cidade quando telefonaram para o hotel e me deram a noticia. Ali mesmo, de imediato, escrevi meu editorial sobre ele e mobilizei o que pude para ser declarado que haviam matado urn heroi da liberdade de imprensa. Fomos companheiros de corporacao e a ele nunca faltou nem o meu respaldo nem o do jornal. De qualquer modo, devo dizer que a minha conviccao pessoal e de que Pedro Joaquin foi morto pelos sandinistas. Eu o adverti em Nova York, na esquina da Quinta Avenida corn a rua 50. Ele havia recebido o premio Moors Cabot e eu o acompanhei. No almoco que the foi oferecido na Universidade, ele me pediu que traduzisse. Corn muitas limitacties, eu o ajudei, e quando nos despedimos, disse-the: "Pedro Joaquin, tenha cuidado. Eu estudei o comunismo e ha dois can- didatos para produzir a queda de Somoza — o arcebispo de Managua, que nao era cardeal, ou Pedro Chamorro. Eles o matam, fazem acreditar que foi Somoza e assim tem inicio o problema". Eu estava tao convencido disso que, quando soube de sua morte, em Madri, telefonei para o meu jornal para que fosse reservada uma pagina para a America Central, porque ai vinha bomba. E, desde entao, a pagina seis passou a ser dedicada, sem anuncios, a America Central, pois eu ja sabia o que nos esperava. Voltando ao meu dialog° corn ele, disse-lhe tarnbem: "0 mais pen- goso e voce, porque os sandinistas matam voce, que e adversdrio deles, e assim se produz o caos na Nicaragua, porquanto o arcebispo nao e adversario politico para eles". Isso eu the disse no final de outubro e ele foi motto em janeiro. E preciso levar em conta que Violeta, apOs cinco ou seis anos na presidencia, nao conse- guiu esclarecer o assassinato. E verdade que Pedro Joaquin tinha tido muitas mostras da hostilidade dos Somoza — do pai e dos filhos — mas o que acontecia e que, para Somoza, a existencia de Pedro Joaquin era urn escudo. Porque se al- guem chegava Id, ele mostrava La Prensa e dizia: "Aqui eu sou o chefe de uma das 19
  • 17. maiores tiranias registradas na historia do mundo; agora, diga-me em que pais podem escrever o que escrevem aqui? Certamente, isto nao quer dizer que nao tenha havido epocas em que fecharam La Prensa, em que prenderam Pedro Joaquin, o torturaram, mas houve outros periodos em que nao aconteceu nada corn ele nem corn o jornal. Ou seja, quando disseram a Somoza que Pedro foi morto, ele Os a mao na cabeca, pois se deu conta do tipo de problemas que teria de enfrentar. Mas o meu tema da Nicaragua nao terminou corn Somoza, porque depois de sua queda o povo estava confuso e havia uma tolerancia para corn a esquerda que nao existia para corn outros tipos de governo. E desde o primeiro momento se estabeleceram os problemas da falta de liberdade. Em 1979, ern Toronto, en- contrei Violeta corn seu filho e the disse: "Violeta, o que voce assinou nao tern nada a ver. E exatamente o contrario do que defendemos corn seu marido na SIP". Ela estava confusa. E seu filho ]he disse: "Eloracio tern toda rano no que diz". Trava-se da proibicao de publicar coisas impopulares. E era a lei que decidia o que era impopular. Era isso o que dizia a lei que ela havia assinado. Isso era cInico e grosseiro. Ela fazia parte de urn colegiado — era co-presidenta — e me disse: "Tudo depende do que voce entende por liberdade de imprensa". Evidentemen- te, estava confusa. Isso foi em 1979, e ate 1990 os cubanos estiveram Id infiltrados. Em geral, meu jornal nab e uma publicacao dedicada a sair insultando as pessoas e coisas no genero — e urn jornal bastante moderado. Mas, no caso de Cuba, e preciso ver o que fizeram esses barbaros. Meu jornal nasceu no dia 4 de julho de 1953; vinte e dois dias depois aconteceu o assalto ao quartet Moncada. E nos fizemos uma especie de minuta de tudo o que foi essa revolucao. Na epoca, pas- sou pelo meu escritorio uma grande quantidade de pessoas de diferentes periodos e de diferentes correntes ideolOgicas cubanas. Certamente, Miami e a cidade que, depois de Havana, tem mais cubanos. Sem diivida alguma. Entao, naturalmente, fui cada vez mais me vinculando a eles. Destruiram nossa Nicaragua porque era Fidel Castro quem estava por tras. Os americanos nunca chegaram. Mas, voltando ao tema anterior e para encerra-lo, a verdade e que depois, durante a sua presidencia, e ja nao colegiada, mas unipessoal, Violeta nao conse- guiu esclarecer o assassinato de Pedro Joaquin. E eu a vi dizer pela televisao em urn dos mornentos em que estava tendo problemas corn os sandinistas: "Ate este momento, ainda nao se sabe quem matou meu marido". Ou seja, eta nao conse- guiu esclareceu e, alem de tudo, mais tarde perdoou. 0 Centro Tecnico (Institute de Imprensa) Como disse no inicio, queria terminar meu testemunho corn esta questa°. Infelizmente, morreu esse grande jornalista e estadista que era Willy Gutierrez, que foi quern convenceu os americanos em Nova York, nos escritorios de Madison, que era precise ter urn Centro Tecnico. Willy pensava em tudo. Tinha uma cultu- 20
  • 18. ra humanistica e era urn grande patriota e urn heroi. Lutou na guerra do Chaco e so conseguia dormir quatro ou cinco horas, por ter sido afetado pelos gases nessa guerra. Sua ideia era clarissima sobre a necessidade de criar o Centro, para que os jornais pequenos pudessem ter uma assistencia tecnica barata, ja que os grandes jornais tinharn sells proprios centros tecnicos e nao precisavam dole. Mas para urn jornal pequeno, incluindo o Diario Las Americas, embora hoje corn 46 anos de vida, uma conferencia ou urn ciclo de conferencias de uma semana da SIP pode ser infinitamente mais Util que para o Washington Post ou para The Miami Herald, que tern seus proprios centros tecnicos. Essa foi a ideia de Willy Gutierrez, e ele conseguiu para ela patrocinio eco- nomic°, creio que da Ford e de alguem mais. Eu, por exemplo, no ano de 1970 ou 1972, queria passar da imprensa velha, de chumbo, para o offset, e ele me ajudou muitissimo nisso. Tambem me ajudou muito Ed Scripps — ja morto — primo-ir- mao de Charles Scripps, que foi presidente do Centro Tecnico e conseguia di- nheiro e patrocinio. Devo citar tambem outro grande entusiasta e patrocinador do Centro Tecnico, Jim Copley, que alem disso foi urn brilhante presidente da SIP e quern me tornou membro do Comite Executivo, pois sabia da minha vontade de servir a SIP. Consideracao Final Finalmente, e como resumo, gostaria de assinalar que haver conseguido que se abrissem as postas da Corte Interamericana de Direitos Humanos atraves de urn governo que, alem de tudo, nao estava interessado em nos dar respaldo, por manter uma posicao contraria a nossa, nao pode deixar de ser considerada uma acao realmente bem sucedida. Eu diria entao que essa, junto corn aquela da UNESCO, foi minha gestao maxima na SIP, compartilhada, e claro, corn colegas brilhantes, colegas que fizeram pela SIP uma enorme quantidade de coisas nobres e efetivas. 21
  • 19. ENRIQUE ALTAMIRANO (El Diario de Hoy, San Salvador, El Salvador) S into muita falta dos meus primeiros anos na Sociedade Interamericana de Imprensa. Comecei a colaborar quando o Centro Tecnico (hoje Institute de Imprensa) esteve sob a competente direcao de Guillermo Gutierrez, que se propos, coma urn apostolado, a capacitar os jornais do continente no uso de novas tecnologias e dar novos rumos a sua politica informative. Willy (Gutierrez) fazia todo o esforco para envolver os diretores dos jornais em decisiies que em geral eram deixadas nas maos de gerentes e engenheiros. Os seminarios Guillermo Gutierrez era urn brilhante organizador de seminarios, aos quais compareciam membros das familias proprietarias dos jornais mais importantes do hemisferio. "Ibmava-se o cuidado de escolher pessoas que tivessem a ver umas corn as outras, para elevar o nivel da discussao e, assim, estimular um avanco qualitativo de conteudos e de sistemas de producao. A tematica dos seminarios — no inicio rnais corn urn carater amplo do que focalizado — abordava os pontos fracas da maioria das organizacOes: a uso de fotografias e graficos, controle de qualidade, respaldo as informaceies, independencia editorial, temas de interesse humane, administracao de redacdes. Dedicou-se a pedir a jovens executivos de jornais ibero-americanos que dissertassem sabre suas experiencias e conhecimen- tos pessoais. Nos seminarios havia a representacao de grandes, medios e pequenos jor- nais: El Tiempo, El Universe y el Comercio, La Nada"' e La Prensa de Buenos Aires, El Mercurio, Novedades e La Prensa de Managua, as jornais caribenhos e as publica- cOes do interior da Argentina. Os expositores eram tecnicos norte-americanos ou hispanicos, como Jorge Zayas de Cuba e Carlos Suarez, argentino. Os seminarios, coma o sao ate hoje, cram faros de animada discussao. Nin- guern ficava calado. Em um deles, Guillermo Klappenbach, de La Nacion de Buenos Aires, ganhou o premio "microfone de ouro", que seus companheiros brinca- lheles ]he outorgaram. Os menos imaginativos sempre perguntavam aos exposi- tores norte-americanos par que em seus jornais nao se dava nenhuma cobertura as noticias da America Hispanica. A mim coube sofrer do contrario: as informa- cOes, cronicas, denUncias, editorials e artigos assinados sobre El Salvador publicadas nos jornais dos Estados Unidos, parte delas tendenciosas e maliciosas, intensifi- caram a portentoso drama da guerra e as reformas econOmicas que assolararn a pais na decada de 80. 22
  • 20. A discussao aberta e o intercambio de ideias do Centro Tecnico, que se man- tern atualmente no Institute de Imprensa, refletem o carater da SIP nesses anos: ser urn foro de discussao sem restricOes. 0 tema essencial foi e continua sendo a situacao da liberdade de imprensa no hemisferio, mas outras questOes eram tam- ben' abordadas, seja pelos prOprios membros ou pelos conferencistas convidados para as reuniaes. Em alguin momento dos Ultimos quinze anos teve-se a infeliz ideia de proi- bir os comentarios depois das conferencias e das apresentacaes. Decidiu-se que so seriam admitidas perguntas, mas quando essas conduziam seu comentario, obri- gou-se a faze-las por escrito. No seio da associacao dos jornais Iivres existe uma forma velada de censura a liberdade de expressao. Desafios nos primeiros anos e situacoes menos claras Nos primeiros anos da SIP, os desafios eram clarissimos: jornais e jornalistas que sofriam perseguicOes, fechamentos, ataques e ate assassinatos por parte de ditaduras militares. Meu pai me contava sobre a luta aberta de Gainza Paz pelas liberdades argentinas. A isso seguiu German Ornes contra Trujillo, e em seguida os Rivera e os Zayas, entre outros, contra Castro. Houve o caso de jornais apologistas de urn regime que depois se transformaram em seus criticos e foram perseguidos. Mas corn os acontecimentos do Chile e a posterior instauracao do regime auto- cratic° de Pinochet, apresentaram-se situacbes onde os perfis nap eram muito claros. Era possivel acusar os jornais chilenos de colaboracAo corn uma ditadura, quando a mesma havia restituido uma substancial medida de liberdade ao jorna- lismo? Durante certa epoca, os pobres jornais chilenos enfrentaram urn destino cruel, pois lhes era limitado ate expor o que ocorria em seu pais. Na reuniao de Vancouver, ha dez ou doze anos, varios deles — lembro-me de Tomas McHale, Hermogenes Perez de Arce, urn dos Edwards — pediram-me que defendesse sua posicao, ja que, por nao haver urn so diretor em defesa do Chile, eles ficavam de fora. De certa maneira, os nicaragiienses de Novedades passaram por urn transe parecido: nao podiam se defender. Cabe defender urn jornal de propriedade de urn familiar de Somoza? Edgar Solis, seu diretor, s6 protestava debilmente quando os Chamorro acusavam o governo e Novedades. Chegou-se ao desenlace na reuniao de 1978, em Miami: a mesa diretora da SIP permitiu que representantes das organizacoes e movimentos contra Somoza tomassem o podio sem qualquer restricao. Quando Solis acusou os sandinistas de comunistas, German Ornes levantou-se para dizer, abruptamente, que isso era demais, e se tivesse que escolher entre ser "somozista" ou comunista, ficava com a segunda opcao. 0 Novedades foi confiscado, o novo regime imediatamente comecou a es- 23
  • 21. trangular La Prensa, e Solis, que e urn jornalista honesto e nao tinha outro susten- to sena() o seu trabalho, passou alguns anos vendendo salsichas em uma esquina de Miami, ate que eu pudesse tird-lo desse estado de calamidade. Nunca ninguem denunciou o roubo do Novedades pelos sandinistas. Critica a organizacab Publicar em meio a vendavais politicos nao e facil, la que para algumas personagens da SIP termina-se por ser contaminado. Ou somos menos iguais ao resto. 0 fato de ao longo do tempo os cargos de direcao da organizacao serem ocupados pelas mesmas pessoas e jornais influi na sua atitude. Acho que eventu- almente as autoridades da SIP teriam de ser escolhidas a partir de va.rias listas, para escapar deste jogo em que estamos envolvidos ha tempo e que lembra as eleicOes por aclamacao do Presidium Sovietico. A existencia de aristocracias e inerente a todo agrupamento humano. No nosso, a SIP, sermos paladinos da liberdade de expressao e uma carts de entrada, mas sempre que as ameacas venham de regimes nao democraticos. A deny ncia contra movimentos de terror, mafias ou govemos populistas nao tennina nunca, assim como as coacOes exercidas pelas forcas "de baixo". Ha na verdade uma vantagem quando os inimigos sac, ditadores corn caracteristicas classicas. Em todo o tempo que assisti corn impecavel regularidade as reunicies da SIP, nunca foram debatidos as marcas do terrorismo nem o grave problema da desinformacao. Como eu havia passado pela experiencia de ser alvo de urn ata- que — estive no meio de um tiroteio durante mail de vinte minutos, quando 0 predio do jornal foi atacado por bombas e rajadas de metralhadoras — esta ques- tao para tnim nao tinha nada de distante nem de teorica. Por isso me alegrei quando me convidaram para participar de uma discussao sobre seqtiestros e ter- rorismos na reuniao de San Diego. Foi montada uma simulacao. 0 jogo consistia em fazer elucubracOes sobre urn sequestro em urn pais democratic°. Nao era permitido sair do tema, muito menos fazer referencia a fatos da vida real. Nem antes nem depois tocou-se no assunto. Quanto a desinformacao, nem mesmo se apresentou como urn jogo te- orico. Mas em uma reuniao realizada em Buenos Aires, chefes de movimentos terroristas (on insurgentes, se preferir) chegaram a expor sua verdade. E os que la estavam so podiam fazer perguntas por escrito. Acho que na SIP se dava a palavra sempre e quando o personagem era pro- tegido de jornais liberals dos Estados Unidos, como aconteceu corn Jacobo Timmerman. Os jornalistas argentinos presentee nessa reuniao ficaram tao indig- nados corn o que acontecia que urn apOs outro pediam a palavra, balbuciavam sons na medida em que a colera lhes permitia e se sentavam, lividos. Experimen- tei este sofrimento nos muitos anos em que o meu jornal denunciou os desmandos 24
  • 22. do regime de NapoleOn Duarte, sem que ninguem tomasse conhecimento do assunto. Coube a mim o papel de urn jornal perseguido pelo govern() do seu pais, que nao tinha credibilidade porque os liberais haviam ungido o autocrata. Duarte terminou desacreditado quando foi descoberto que ele havia desviado fundos de ajuda as criancas para contas prOprias. Era muito clificil denunciar, quando a prOpria Comissao de Liberdade de Imprensa da SIP nomeava representantes de jornais de outros paises para prestar informacOes sobre o que acontecia no proprio pais. Eu protestei a tutela que nos impos ao nomear urn executivo de La Nacian, da Costa Rica, que nunca por os pes em El Salvador, para falar sobre nos. Aos atropelos e perseguicoes que sofria- mos por parte do regime de Duarte — que suprimiu toda propaganda do governo em nosso jornal quando mais de sessenta por cento da economia estavam em suas maos — juntava-se a incredulidade corn relacao a nossa dernincia. Invejo Os jornais, editores e jornalistas cujas batalhas sao contra ditadores que estao do outro lado de suas fronteiras. Nessas condiccies, é muito facil se esconder por tras da bandeira da liberdade. Sao muitas as boas recordacOes das reuniOes que tive o privilegio de assistir, e onde ao lado da vergonha merecida por aqueles que nao podem ser classifica- dos de "moderados", encontrei grande amizade, compreensao e ajuda. Lembro corn saudade de "meus amigos mortos", e especialmente de Guillermo Martinez Marquez. A isto de ser "moderado" devo acrescentar uma reflexao final: o grande jornalismo neste continente, e no mundo, tern lido feito por aqueles que fogem aos molder aceitos e travam suas lutas guiados por suas proprias conviccOes. Creio que o pior que pole acontecer a urn pais é seus jornalistas terem medo de fugir ao conventional. 25
  • 23. TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA 1952 • Morre aos 56 anos de idade o rei Jorge VI, da Gra-Bretanha, e sobe ao trono a Prince- sa Elizabeth. • Pela primeira vez em uma cinirgia e utilizada na Filadelfia uma valvula artificial do coracao. • 0 cantor e bailarino Gene Kelly estreia em Hollywood urn maravilhoso musical: "Singing in the rain." • 0 presidente Truman assina o tratado de paz com o Japao, que da por terminada a Segunda Guerra Mundial no Pacifico. • A atriz britanica Vivien Leigh ganha o Oscar por seu papel em "Urn bonde chamado desejo". • Morre aos 33 anos, de cancer, Eva Peron, a carismatica esposa do presidente argentino Juan D. Peron. • Abdica o rei Farouk, do Egito, abandonando o pais do porto de Alexandria, a bordo de seu luxuoso iate. • 0 jovem principe Hussein é coroado na Jordania, quando a enfermidade de seu pai o impede de continuar reinando. • 0 ator Charles Chaplin é investigado nos Estados Unidos como simpatizante do comunismo. • E outorgado o premio Nobel da Paz ao Dr. Alberto Schweitzer. • No Brasil, o govemo cria o Institute do Café para aumentar as exportacties desse produto. • Morre aos 82 anos a famosa educadora Maria Montessori. 1953 • Morre aos 73 anos Josef Stalin. • 0 lider comunista Josip Broz, con heddo como Tito, é eleito presidente da lugoslavia. • A "Twentieth Century Fox" anuncia o advento da tela "Cinemascope". • Morre aos 39 anos, em Nova York, o poeta Dylan Thomas. • Morre aos 61 anos de idade o compositor sovietico Sergei Prokofiev, autor de "Pedro e o Lobo". • 0 Dr. Jonas Salk testa corn exito nos Estados Unidos a vacina contra a polionlielite. • No Egito, as forcas armadas destronam o rei Fuad (filho do ex-rei Farouk) e é procla- mada a reptablica. • Francis Crick e James Watson, cientistas britanicos, descobrem na Universidade de Cambridge (Gra-Bretanha) a estrutura molecular do DNA. • Winston Churchill ganha o premio Nobel de Literatura por suas obras historicas. 26
  • 24. DANILO ARBILLA (Busqueda, Montevideo, Uruguai) D urante a ditadura uniguaia, Id pelos anos 1975-1976, meu pais atraves sou uma situacao hastante dramatica e singular, quando sua ditadura foi se transformando em urn dos regimes mais totalitarios do Cone Sul. Porque as outras ditaduras, claro, foram muito sangrentas, e a uruguaia nao, mas sem dovida foi a mais totalitdria. Nesse momento nab havia nenhuma voz que a denun- ciasse fora do pais. 0 Departamento de Estado mal comecava a faze-lo, corn o adven- to de Carter a presidencia dos Estados Unidos, mas nao eram muitas as vozes. De minha parte, eu tinha aquele conceito estereotipado da SIP tao comum no meu pais e na America Latina. Vale dizer que, segundo esse conceito, a SIP parecia ser uma organizacao de empresarios de direita; que tinha a ver corn a CIA e tudo a mais. Mas eu comecei a ver que a SIP era realmente a (mica voz que denunciava as ditaduras da America Latina e, alem disso, era ouvida. A Unica voz corn forca, a -Unica voz corn ressonancia. E claro que depois de caidas as ditaduras apareceram muitas vozes, mas nunca eu as tinha ouvido antes, nunca tinhamos visto em seu momento tantos lutadores, .nem tantas organizacOes que presumivelmente haviam atuado. De todo modo, ninguem se pronunciou como a Sociedade Interamericana de Imprensa. Urn dialog° ilustrativo Digo isto porque me faz bem. Certa vez, depois da ditadura, entrevistei juni to corn o correspondente do New York Times Rant Sendic, que foi o principal lider dos Tupamaros; terminada a reportagem, enquanto conversavamos informalmen- te, ele me disse: "Danilo, o Basqueda esta se saindo muito bem", e de minha parte fiz o mesmo elogio a Mate Amargo, publicacao que ele editava. Entao, o corres- pondente norte-americano ficou surpreendido, e achou muita grata que os edito- res de duas publicacaes tao opostas do ponto de vista ideologic° e filosafica esti- vessem trocando ponderacOes. Mas o interessante do caso e que Sendic me dizia: "Sabe o que acontece, Danilo? Nos que temos estado presos, as vezes precisamos saber o que acontece Id fora, e quando pergunto a muita gente o que aconteceu nesses anos, parece que todos sentem a obrigacao de me dizer que estavam lutan- do, que estavam fazendo o que podiam Mas eu nao precisava desta resposta, porque com uma ditadura o que se podia fazer? Se, para comecar, nos, que havi- amos sido as guerrilheiros, estavamos no carcere, estavamos presos, haviamos perdido Eu acho que as pessoas tinham que viver, tinham que continuer assis- tindo o futebol, tendo seus carnavais. E nao creio que ninguem tenha lutado, e 27
  • 25. tudo bem que nao tenham lutado, porque a ditadura impedia que se lutasse. A luta havia terminado e nos estavamos presos. Quem mais is lutar?" 0 ingresso na SIP E a isso quero me referir quando aludo aqueles que, apos a queda da ditadu- ra, fingiam que haviam lutado. A SIP, ao contrario, havia atuado, denunciado, defendido, e sua acao foi muito importante. Em seguida a isso, resolvi em 1978 associar-me a SIP, e o fiz como diretor da revista Noticias e como editor das revis- tas Hoy e Basqueda, representando as tres publicaceies na SIP. Assim, em 1979 assisti a minha primeira Assembleia da SIP, e, no total, du- rante a ditadura, assisti a catorze assembleias como finico delegado do Uruguai, denunciando a falta de liberdade de imprensa no meu pais. E, gracas a SIP, essa deraincia chegou a todo o mundo. Para os militares uruguaios, a gravidade do fato é que nao podiam acusa-la de ser comunista. Certamente, essas dentancias me criaram problemas reais, porque perdi muitos empregos, ja que alguns meios de comunicacao nao se atreviam a desagradar o governo e cediam as suas pres- saes. Assim perdi Noticias, uma coluna que fazia para urn jornal e urn programa de radio. Houve urn momento, por volta de julho de 1981, em que me vi sem emprego. Eu, que tinha varios, como a necessidade impOe as vezes aos jornalistas, havia ficado totalmente sem emprego; tanto que pensei em emigrar. Foi quando Basqueda, que era uma revista mensal, transformou-se em semanario e pude vol- tar a trabalhar. Mas o que quero destacar e que a SIP foi a voz mais retumbante, a voz mais efetiva, a voz mais contundente, e se constituiu na fonte que o Departamento de Estado utilizou para fazer seus relatorios, coisa que eu pude comprovar fidedigna- mente atrave's dos meus proprios relatorios sobre o Uruguai, e dos relatOrios sobre outros paises. Porque ao ler aqueles do Departamento de Estado sabre os Direitos Humanos, durante a epoca de Carter, podia perceber que praticamente eram ca- pias dos relatOrios da SIP. E. isso tinha muito peso. Por isso, jamais me esquecerei, coma uruguaio, o que a Sociedade fez pelo meu pais. Trabalhar na SIP Por isso resolvi continuar trabalhando nela, nao almejando algum cargo, porque aqueles que me conhecem bem sabem que sou um homem muito pole- mico e pouco diplomatico; quer dizer, nao tento me congracar corn ninguem, mas defendo o que acredito — no acerto ou no erro — corn uma veemencia que nao condiz corn a de alguem que esta buscando votos. Isto qualquer urn pode ratificar na SIP. E se obtive urn cargo, foi gracas ao argentino Raul Kraiselburg, que confiou a mim a presidencia da Comissao de Liberdade de Imprensa. Depois fui mantido nela durante quatro anos por seus sucessores, David Lawrence, Gabriel Cano e 28
  • 26. Oliver Clarke, que tambem depositaram em mim sua confianca. Assim como Jorge Fascetto, atual presidente, que tambem me concedeu a possibilidade de me manter no cargo, caso nao ocupasse outra posicao, mas fui eleito segundo vice- presidente e por isso tive de deixar a Co►nissao, ja que nao podia acumular os dois cargos. Enquanto a presidi, o fiz corn veemencia e entusiasmo; algumas vezes minha gestao foi discutida, mas cu devia isso a SIP, e o digo realmente de coracao. Porque o que a SIP fez pelo Uruguai, repito mais uma vez, foi muito importante, e dal a minha divida para corn ela. Mas deve-se saber que trabalhar na SIP e muito caro. Talvez urn pouco da forca da SIP provenha do fato de seus dirigentes pagarem todos os seus gastos. E eu digo isso sem intencao de marcar diferencas nem corn nenhuma outra inten- cdo oculta, mas de todo modo é preciso dize-lo. Em outras organizaWes de defesa da liberdade de imprensa, seus dirigentes, em alguma medida, sao empregados delas e, como tais, recebern salarios. Vale dizer que defendem a liberdade de im- prensa corn a mesma conviccao corn que eu o faro, mas sao pagos para isso. Aqui, ao contrario, nos pagamos para taze-lo. Essa é a diferenca. Par exemplo, eu diria que nos Ultimos tres ou quatro anos participei de muitas missOes, e essas minhas gestOes em defesa da liberdade de imprensa devem ter custado as empresas que representei entre 40 e 60 mil dolares por ano. Outro exemplo: hoje se reunia o Comite Executivo; trabalhamos desde as oito da manila e ao meio-dia tivemos urn airflow, mas dentro de sete dias vai nos chegar a conta desse almow do Comite Executivo. E nao estou falando da passagem, da inscricao, do hotel, que ja sahemos serem gastos pagos pela minha empresa, mas, como membro do Co- mite Executivo, eu pago a minha parte desse almoco. Ou seja, na SIP nao ha nenhum privilegio, nenhuma prebenda. Quanto mais se trabalha, mais se paga. E isso tambem e importante, porque produz a vocacao para estar e trabalhar na SIP. Ja que ocupar cargos na SIP, pelo menos no que se refere ao meu pais, tambem nao e algo que confira a alguem maior importancia ou dcstaque social. Haveria em mcu pais muitos outros lugares onde se pode aparecer corn melhor e maior repercussao social do que na SIP, mas nao é isso que importa. Esta-se na SIP por razbes mais elevadas. Ideias falsas acerca da SIP Eu estudei a SIP, vivo a SIP, conhcco-a profundamente, e voltando par isso mesmo ao tema do estereeitipo que existe sobre ela, recomendo a leitura de urn prologo de Gregorio Selser, urn homem que — voce sabe, Albino — ninguem pode- ria dizer que tenha sido, em vida, partidario da SIP nem muito menos; foi urn homem de esquerda, ideologo de todos os movimentos do Terceira Mundo nos anos 60. Entretanto, nesse prOlogo dedicado a um livro de Pedro Joaquin Chamorro, Gregorio Selser diz que é preciso reconhecer a SIP as coisas boas que 29
  • 27. fez, porque é claro que a SIP fez — e aqui vem uma grande enumeracao — isto e aquilo de born. Parece-me ser este um exemplo muito valid° para enfraquecer o famoso estereotipo, e nao me lembro se e ali que se menciona o fato de, durante a ditadura de Somoza, a SIP ter salvo a vida de Tomas Borge, que depois foi minis- tro do Interior do govern() sandinista. Foi a SIP que salvou sua vida. Tambem verdade que quando mais tarde o sandinismo se tornou governo, transformou-se em inimigo numero urn da SIP. 0 caso é que ha dois anos ou dois anus e meio, nao me lembro corn precisao, em uma reuniao de Puebla onde estava Tomas Borge, este me disse em pfiblico que o seu jornal Barricada tinha interesse em se filiar a SIP, e acrescento, alem disso, que depois de escutar uma conferencia que eu havia feito, ele teve de admitir que o govern() que integrou atacou a liberdade de imprensa; essa liberdade de Imprensa bem entendida corno ele a via agora, depois de ter sido, por sua vez, agredido pelo governo nicaragiiense. Mas nao pudemos concordar corn sua filiacao, apenas por uma rigida razao estatutaria — a de que nao podem ser membros da SIP jornais que sejam porta-vozes oficiais de partidos politicos. E o Barricada o era, nao obstante o fato de, como presidente da Comissao de Imprensa, eu ter feito uma declaracao em apoio ao Barricada pela perseguicao que essa publicacao sofria do governo de Aleman, e inclusive fui a Nicaragua e tive la reuniOes, fiz declaracOes e uma conferencia a imprensa denun- ciando todos esses fatos. Depois, e lamentavelmente, o Barricada fechou; e digo lamentavelmente porque é sempre lamentavel o fechamento de urn jornal. Mas isto e urn pouco urn resumo do que e a SIP. A SIP tern seus defeitos, a SIP pode ter pessoas corn uma visao muito conservadora — é preciso ter em conta que falamos de uma instituicao de mil e trezentos filiados — mas tambem tern pessoas corn uma visa° muito liberal e muito aberta. Alem disso, ha coisas muito claras que as pessoas nao sabem da SIP; por exemplo, a profunda conviccao corn que defende a liberdade, mas nao a liberda- de das empresas, embora as vezes tenha tido de se ocupar da Papel Prensa, ou tambein o tenha feito naqueles casos em que o papel foi utilizado corno urn mecanismo de pressao. Nao nego tampouco que tenha tido de Sc ocupar da pro- paganda oficial, porque essa e uma das armas que foram utilizadas para atacar os rneios de comunicacao. Mas a verdade indiscutIvel e que a SIP defende os jorna- listas. Fundamentalmente os jornalistas. E quando a SIP briga, trabalha e dedica tempo e dinheiro para protestar contra a impunidade no assassinato de jornalis- tas, faz isso pelos trabalhaclores, porque se Os donos das empresas da SIP sao tao ricos, eles nao podem ter problemas: para isso servem os carros blindados e os guarda-costas. Quando os empresarios estao defendendo o que defendem, estao defendendo os jornalistas — assim corno quando sao organizados cursos de capacitacao, porque neste caso estao contribuindo para a profissao, e isso é feito continuamente. 30
  • 28. Conduta transparente e equitativa E urn fato certo e inegavel que a SIP tern uma conduta desse tipo. E ha centenas de histOrias, centenas de fatos que comprovam isso de todos os modos. Durante o govern() sandinista da Nicaragua e durante a ditadura de Pinochet, no Chile, a SIP, no ambito do seu Comite Executivo, tomou uma decisao muito conhecida e muito importante: o jornal La Prensa, de Managua, que combatia e era terrivelmente castigado pelo sandinismo, recebia apoio dos Estados Unidos e de muitas organizacOes, entre elas uma instituicao que para nos estava notoria- mente vinculada a CIA. 0 jornal La Epoca, do Chile, publicacao que se opunha a Pinochet, foi duramente atacado por seu governo, mas tambem recebia assisten- cia e apoio econOmico dessa organizacao vinculada a CIA. Assim, o Comite Exe- cutivo da SIP enviou cartas diretas a esses jornais, comunicando-lhes que a SIP nao iria intervir em seus assuntos internos, mas nao via corn bons olhos a origem da ajuda que estavam recebendo, e que isso, tambem, de certa forma limitava a SIP na defesa que pudesse fazer de seus casos. Este foi um fato que motivou uma decisao muito esclarecedora do Comite Executivo, e que faz corn que nao restem duvidas sobre qual é a filosofia e a politica da SIP. Tal fato tambem motivou uma carta de Violeta Chamorro a todos os membros do Comite Executivo, expressan- do que ela havia sido ofendida pela ciecisao de forca. Para esclarecer as coisas e evitar interpretacOes erradas, cabe tambem men- cionar o problema da reuniao de 1972 ou 1973 no Chile, made notoriamente — segundo soube pelas pessoas que me contaram — a SIP cornpareceu enganada a essa reuniao, e anos depois veio a publico que ela foi parte de uma estrategia dos Estados Unidos contra Allende. Foi por isso que figuras de destaque, donos de jornais muito importantes da America, interromperam a reuniao de Sao Domin- gos em 1976 e denunciaram e criticaram aqueles membros da SIP que, consciente ou inconscientemente, contribuiram de algum modo para que a SIP fizesse essa reuniao ern Santiago do Chile durante a greve dos camioneiros. A SIP pioneira Em contraposicao aquele fato penoso, em outra reuniao da SIP, mal havia terminado a guerra entre Peru e Equador, as duas delegaceies chegaram a urn acordo e lancaram urn documento conjunto falando da necessidade de paz e harmonia, em uma atitude exemplar sustentada por uma visao adulta do proble- ma. Desse primeiro acordo feito depois da guerra foram protagonistas jornalistas e diretores de meios de comunicacao equatorianos e peruanos. F. assim como nesta ocasiao a SIP foi pioneira de urn fato tao positivo, o foi igualmente muitas outras vezes, adiantando-se a outras instituicoes e organizacOes. Assim o fez quando comecou per sua propria conta e antes que alguem o fizesse, a denunciar a falta 31
  • 29. de liherdade em Cuba. Agora todo mundo parece descobrir que em Cuba ha urn regime marxista-leninista que, de acordo corn os ensinamentos de Lenin, nao pole permitir a liherdade de imprensa, porque segundo sua doutrina os orgaos de difusao devem ser orgaos de propaganda do Partido, e tudo o mais é tolice. E Fidel Castro sempre impediu a liberdade de imprensa por sua coerencia a ideologia marxista-leninista. 0 que nao se explica é que so recenternente tenham se dado conta disso. A SIP, no entanto, sempre clamou pelo que acontece em Cuba, desde o primeiro momento. E por esse clamor de sempre, a SIP foi muitas vezes acusada de estar vinculada a CIA, de estar a servico do imperialismo. Entretanto, hoje a verdade do que continua acontecendo em Cuba vem nos mostrar que a SIP esta- va certa. A SIP tambem foi pioneira na questao dos assassinatos de jornalistas. Nesse sentido, devemos recordar a reuniao hemisferica da Guatemala, onde se deu o inicio, a genese, a origem de declaracbes posteriores da UNESCO e de outras efetuadas pela OEA. Alem disso, tambem a criacao do relator da liberdade de imprensa surgiu dessa reuniao. Foi a partir dai que a liberdade de imprensa adqui- riu a categoria de direito humano, porque parecia que ate entao a liberdade de expressao e a liberdade de imprensa nao tinham nada a ver corn os direitos hu- manos — nem ao menos cram parte do seu contelido. E tudo isso, como se pole ver, que vai alem dos interesses das empresas, foi e e uma tarefa da SIP. E devo acrescentar que ela nao apenas vai mais alem, mas as vezes vai contra esses inte- resses, porque e sabido que toda empress jornalistica contraria a um governo costuma ter problemas, pelo menos no nosso Continente. Nao a imposicao das proprias ideias Outra acusacdo errOnea e injusta é que a SIP defende ferrenhamente seus sOcios, mesmo que a sua posicao nao seja justa. A SIP sustentou em diversas opor- tunidades que ser jornalista, ter urn meio de comunicacao, nao significa ter uma autorizacdo para impor suas prOprias ideias. A SIP jamais negou que ha delitos de comunicacao; o que nao quis nem quer sao leis de imprensa nem leis especiais, corn delitos especiais e corn privilegios especiais. Os codigos estao ali e sao para todos os cidadaos. Os delitos nao sao da imprensa — os delitos sao da comunica- cao, que atraves dos meios de difusao podem ter agravantes. Mas tambem ocorre que se eu paro em uma praca e difamo alguern diante de outras pessoas, cometo contra aquela pessoa urn delito de difamacao. Neste caso, a SIP tambem tem silo muito clara e equanime. Em muitas missbes em que foi defender jornais que haviam feito dentincias contra hostilidades de urn governo, a SIP teve, imediata- mente apOs denunciar os fatos, de emitir comunicados contrarios aos interesses dos denunciantes, porque finalmente veio a comprovar que o jornal do caso esta- va fazendo o jogo do seu proprio partido, aproveitando-se da Sociedade para 32
  • 30. pressionar e continuar em uma situacao que nao estava dentro da etica ou das regras admitidas. Isso nos ocorreu ulna vez no Panama e no n orte do Mexico. A SIP defende seus membros, mas em tudo o que esteja em ordem e de acordo corn a lei. E nao busca a imunidade nem a impunidade de seus membros, mas sim sua liberdade dentro da lei comum. 0 discurso da SIP tern sido sempre muito claro nesse sentido e tem se opos- to a todo tipo de abuso em materia de liberdade de imprensa — e sobretudo tern se oposto muito especialmente a todo tipo de actio que possa significar urn cerce- amento ou uma limitacao do direito a informacao dos cidadaos. Nao somente pelos Congressos, nao somente pelos Governos, nao somente pelos sindicatos ou instituiceies, mas ate pelos proprios meios. Por isso, a SIP tem sido contra as auto- regulamentacOes e contra toda norma de limitacao estabelecida por cartels de jornais. 0 direito a informacao e urn direito de cada cidaddo que nao pode ser limitado. NA° pode ser restringido. Tampouco se pode restringir os meios de co- municacao. Eles nao podem se reunir e diner vamos ver o que informamos, o que noticiamos e o que nao noticiamos. Deve haver livre competencia para que possa haver tambem livre informacao. Ninguem tern o direito de limitar a liberdade de informacao. Nem os sindicatos nem os donos de jornais nem os jornalistas. Por- que tambern muitos sindicatos de jornalistas pretendem estabelecer uma especie de controle dos jornalistas ou da informacao atraves de normas ou codigos de etica. E isso constitui uma limitacao ao direito dos cidaddos a informacao. Defini- tivamente, urn jornalista e, para a SIP, urn cidadao que exerce o seu direito de informacao, que consiste cm recolher e difundir a informacao de maneira perma- nente. Ele se prepara para isso que, alem de tudo, e o seu meio de vida. Mas nao é muito mais que isso. 33
  • 31. ROBERT BROWN (Editor and Publisher, Nova York, USA) S enti urn profundo orgulho quando, como presidente da SIP no bienio 1973- 1974, participei da formacao da Comissao Mundial de Liberdade de Im prensa. Fechamos o primeiro acordo corn o Institute de Imprensa Interna- cional, em Boston, do que se classificou como a estrategia "urn por todos e todos por urn" em materia de liberdade de imprensa. 0 acordo proclamava que "urn ataque a qualquer meio informativo ou de opiniao em qualquer parte do mundo representava urn ataque a todos os meios". Foi assim que a SIP e o IPI formaram a Comissao Mundial de Liberdade de Imprensa para criar lacos entre os organismos de meios internacionais e poder atuar em conjunto corn a escala mundial. Ocorre que eu conhecia Ernest Meyer, o principal executivo do WI. Fui urn dos primeiros socios do IPI quando da sua fundacao. Compartilhavamos criterios e percebemos que a SIP era, nessa epoca, principalmente uma organizacao regional, enquanto 0 IPI era regional fora da America Latina e contava corn poucos membros nas Ame- ricas. Em uma troca de impressOes, chegamos a um acordo de que os ataques contra a liberdade de imprensa nao eram estritamente locais, mas internacionais. 0 presidente seguinte da SIP, George Beebe, entusiasmou-se corn o projeto e o aperfeicoou. A Comissao de Liberdade de Imprensa e Informacao é hoje o que e gracas a Beebe. A parte isso, nao me lembro de nada muito significativo que tenha ocorrido durante a minha presidencia. Fiquei feliz ao ser eleito para culminar quase uma vida de dedicacao a esta Sociedade. Comecei como tesoureiro, depois presidi a Comissao de Bolsas e, sete anos mais tarde, cheguei a presidencia do Comite Executivo. Dediquei-lhe muito tempo durante sua consolidacao, fazendo o possi- vel para ajudar a SIP, que, nesse momento, era pequena e tentava abrir caminho. Fomos afortunados em contar coin estrelas no nosso meio. Estrelas como Jack Knight, Andrew Heiskell e outros desse calibre, como tambem os lideres latino-americanos. Isso nos manteve a tona. Hoje em dia, foram os jovens pro- gressistas que tomaram a frente para fazer prosperar a organizacao. Fico feliz em ver isso. Esforco internacional e enfrentamentos Conquanto seja uma organizacao regional, a SIP ajudou o tema da liberda- de de imprensa a captar a atencao do mundo. Fomos os primeiros a nos ater ao tema, a nos organizar. 0 IPI veio depois, e a FIEJ (agora AMP) mais tarde ainda. As sociedades norte-americanas nao manifestaram interesse durante urn born tern- 34
  • 32. po. A American Society of Newspaper Editors mandou utna comitiva aos quatro cantos do mundo depois da Segunda Guerra Mundial. Falaram da liberdade de imprensa corn quem os escutasse. Entao, o bloco sovietico tentou usurpar o tema da liberdade de imprensa atraves da UNESCO. Queriam que a UNESCO adotasse propostas para a criacao de uma Nova Ordem Mundial da Informacao. Este con- ceito enfocava as responsabilidades da imprensa, e nao as suas liberdades, as quais se impunham todo tipo de condicaes. A SIP aliou-se aqueles que se opunham a esta interpretacao. A SIP convocou uma reuniao especial em San Jose, na Costa Rica, em frente ao lugar onde a UNESCO debatia o tema. Eu nao pude comparecer a essa reuniao. Estive em uma anterior em San Jose. Nessa ocasiao, um reporter de The Tico Times intencionalmente violou a lei nacional de colegiatura obrigatOria. Este ato con- verteu-se em urn caso juridico celebre, que culminou corn uma vitoria da SIP. Atualmente continua-se lutando contra a mesma lei em diferentes paises da Ame- rica Latina. Eu, em particular, desde o inicio me opus a colegiatura dos jornalis- tas. Nao creio que se possam impor limitacties a faculdade de escrever de urn jornalista segundo a universidade onde ele tenha estudado. Nunca me coube assistir nenhuma das reuniOes que foram convocadas como parte da resistencia a Nova Ordem Mundial da Informacao. Mas mantive contato estreito corn pessoas que, estas sim, Id estiveram, como o diretor da Comissao Mundial de Liberdade de Imprensa. Este me colocou a par do que estava aconte- cendo. Por fim ganhamos, principalmente porque o ponto de vista de Federico Mayor Zaragoza diferia daquele de M. Bow, a quem substituiu como diretor geral da UNESCO. Tenho percebido que agora um grupo de nacCies, principalmente africanas, querem ressuscitar o debate sobre a Nova Ordem Mundial da Informacao. Mao creio que a tentativa va adiante, mas se for, pode ser urn incOmodo. Felizmente, os grupos das Americas estao de sobreaviso quanto a materia. A Assembleia de Nova York: nova etapa Faz quase 50 anos que fui designado tesoureiro da SIP. A Sociedade nessa epoca vivia precariamente, enfrentando grandes dificuldades para conseguir so- cios, sobretudo na America Latina. Existia urn nacleo norte-americano bastante solid°, decidido a que a instituicao prosperasse. Foi depois da reuniao de 1950 no Waldorf (Nova York), quando foram aprovados novos estatutos, que a SIP deslanchou. Antes disso, alguns de nos nos reuniamos no restaurante Barbetta, na rua 47, em Nova York. Era urn pequeno restaurante italiano corn toalhas de algodao, onde urn prato de talharim custava US$ 1,25. Hoje em dia é urn restau- rante elegante, administrado pela filha do Sr. Barbetta. Entre os que nos juntava- mos la estava Julio GarzOn, diretor de La Prensa de Nova York; Hall Lee, diretor da 35
  • 33. Pan American Magazine, e Ferris Flint, o cabeca daqueles que quiseram reformar os estatutos. Cada socio urn voto A Assembleia realizada ern Havana em 1943 estava repleta de jornalistas — corn e sem emprego — que, so par estarem presentes, tinham o direito de voto. Por conseguinte, nao eram sOcios, nao pagavam cotas nem nada. Foi entao que al- guns do nosso grupo, incluindo Lee Hills, decidiram que era necessaria uma mu- danca. Era mister estabelecer que cada soda tivesse direito a urn voto. Depois de Havana houve uma serie de reuniOes, em Caracas e em Quito. Eu estive em Cara- cas, mas nao em Quito. Foi em Quito que foi dada a autorizacao para convocar a reuniao de Nova York. A reuniao de Quito foi presidida por Carlos Mantilla, da familia Mantilla, dona do principal jornal de la. Mantilla era tambem presidente da SIP e nos deu o seu apoio. A delegacao dos Estados Unidos recebeu a autoriza- cao para modificar os estatutos. Comecamos a planejar a reuniao de 1950 no Waldorf, onde seriam apresen- tados os novos estatutos, nos quais se estabelecia a regra de urn voto por mem- bro. Corn isso teria fim a influencia comunista. Compareceram a essa reuniao as diretores de publicacbes de todo o Continente. Editor and Publisher publicou urn document° em tres idiomas. Par ocasiao dessa Assembleia, o nosso tesoureiro era Tom Kerney, do Trenton Times, de Nova Jersey. Tom se interessou muito e viajava para Nova York para assistir as reuniOes. Nosso mestre era Tom Wallace, de Louisville, urn homem dedicado. Tambem estava la Bill Carney, do New York Times. Farris Flint foi funda- mental para a redacao da nova carta magna. Eu prestei o meu apoio, embora nao tenha estado na reuniao de Quito. Simplesmente havIamos decidido em Havana que nao permitiriamos que os comunistas atingissem seu objetivo. Entre outras coisas, estavam aprovando resolucOes a meia-noite, atacando os Estados Unidos. Nao representavam nenhum governo; so representavam sua propria filosofia. 0 mesmo aconteceu em Caracas. Nos percebemos que teriamos de tomar a frente da situacao. Farris Flint emprestou Hall Lee, para que este dedicasse tempo integral a preparacao da reuniao de Nova York. Nos the arranjamos lugar em nossos escrito- rios, que na epoca ocupavam o 17" andar da Torre Times. Tambem the arranja- mos uma sala, urn telefone e uma secretaxia. Dedicou todo a seu tempo a escrever cartas e promover a reuniao. Foi iitil para motivar todos os que posteriormente compareceram. Eram os pais e avos daqueles que assistem hoje as assembleias da SIP. Toni Wallace foi a presidente da reuniao, que teve lugar no salao Empire do Hotel Waldorf. Pelo que me lembro, nao houve polemicas. Tivemos interpreta- 36
  • 34. (do simultanea. Elegemos uma junta de diretores. Torn Karney foi eleito primeiro tesoureiro. Era tesoureiro do comite organizador e passou a se-lo do grupo hemisferico. So mais tarde vim a assuimir essa funcao. Uma origem familiar remota Meu interesse nasceu de outro interesse: o que teve meu pai no primeiro Congresso Pan-americano que se realizou, se nab me engano, em 1927 em Wa- shington. Ele teve urn sonho que terminou quando chegou a Grande Depressao. Depois, nao teve mais. Em maio de 1942, os mexicanos organizaram o que se chamou de Primeiro Congresso Nacional e Pan-americano de Imprensa. Meu pai ainda era vivo. Eu quis continuar o que ele havia comecado. Depois veio o congresso de Havana em junho de 1943. Fulgencio Batista enviou aos Estados Unidos um representante chamado Manolo Braila para nos convidar a comparecer ao congresso, corn tpdas as despesas pagas. Dez ou onze de nos fomos, mas pagamos nossas proprias despesas. Todos os que foram a reuniao de Nova York pagaram uma inscricao, o que nos proporcionou alguns recursos. A situacao era precaria, mas nos sobrevive- mos. Reunimos dinheiro suficiente para continuar e para criar urn Fundo de Bol- sas e Premios. Aquele que doasse US$ 2.500 teria direito a escolher urn premio. Se a cloaca° fosse inferior, o dinheiro era juntado ate chegar a soma dos US$ 2.500, e entao se estabelecia um premio SIP. Atualmente, as quantias sao superiores. Tentativa de uma auditoria de circulacao Tentamos estabelecer um servico de auditoria de circulac-do para publica- vies latino-americanas, ja que na regiao nao existia nada como o Audit Bureau of Circulation que tinhamos nos Estados Unidos. Chegamos a estabelecer a Oficina de CirculaciOn Certificada, que depois acho que se transformou em outra coisa. Nab duvido de que muitas publicacoes latino-americanas pensassem nao precisar desse servico. Nossa iniciativa aconteceu pensando na rapidez em que chegariam a America Latina as estrategias norte-americanas de tecnologia de mercado. As- sim entenderam os principais jornais da regiao. No anuario publicado por Editor and Publisher, incluiamos a circulacao declarada pelos jornais latino-americanos. Estas nao eram nada precisas e nos explicavam que era impossivel ter dados mais concretos. Tinhamos de aceitar o que nos diziam. Presido a Comissao e o Fundo de Bolsas Primeiro presidi a Comissao de Bolsas, criada durante a reuniao de Nova York ou pouco depois. Em seguida, fui presidente do Fundo de Bolsas. Houve tambem uma Comissao Tecnica, que se desenvolveu ate se tornar o Centro Tec- nico. Estive no Fundo de Bolsas durante cinco anos. Tinhamos a ideia de que o ensino era proveitoso para os jornalistas. Dadas as nossas caracteristicas de grupo 37
  • 35. internacional regional, decidimos tambem que os norte-americanos deveriam viajar mais a America Latina para conhece-la melhor, e tambem o inverso. IM- ciou-se a politica de alternar: urn ano eram dadas bolsas a norte-americanos para estudar na America Latina; no ano seguinte, a bolsa era dada a urn latino-ameri- cano para estudar nos Estados Unidos. Estavamos conscientes de que as nossas bolsas eram muito modestas e mal davam para custear os gastos de alguem mo- rando fora de sua terra. Nossos esforcos para melhorar as bolsas conseguiram aumenta-las para USS 3.500, corn a ajuda da Fundacao Angel Ramos. Posterior- mente, outros tambem passaram a colaborar corn o fundo. A presidencia do Comite Executivo Já nao sou presidente do Comite Executivo, porem me presentearam corn uma placa que me declara presidente honorario. Fui presidente durante sete anos. Tomei como principio que caberia ao presidente do Comite Executivo dirigir a Sociedade na ausencia do Presidente. Acho que Os estatutos confirmam esta in- terpretacao. Como a presidencia alterna cada ano entre o norte e o sul, era dificil antigamente, para urn presidente latino-americano, estar a par de tudo por ser bastante complicado via jar. Conseqiientemente, o presidente do Comite Executi- vo estava em melhores condiceies de cumprir essas funcOes. Agora é muito facil it e vir, o que é born para a Sociedade. Mas naquela epoca eu desempenhava o papel de presidente interino, apesar de nao se-lo, e tentava nao ofender ninguem — algo que as vezes era urn pouco dificil. A SIP e Peron Houve urn incidente em uma reuniao de Montevideu. Eu nao estava pre- sente, mas creio que Peron enviou urn grupo de valentOes para observar o que se passava. Dizem que portavam armas claramente visiveis. A intimidacao nao in- terferiu corn a Assembleia. Nao sei que satisfacao eles deram a Peron, mas sem davida tentaram mostrar sua importancia. Conta-se outra anedota da assembleia, em que dizem que todo mundo recebeu urn retrato de Peron. Parece que George Healey, do Times Picayune, de Nova Orleans, mandou ernoldurar o retrato e o colocou no banheiro de sua casa. Uma reuniao em Havana em 1958 'l'ivemos uma reuniao da Junta de Diretores em Havana durante o inverno do ano em que Castro tomou o poder. Em toda parte pessoas eram assassinadas. A sede da Junta foi urn lugar nas proximidades de Havana chamado Rosita de Ordenos. Foi construiclo por urn homem em homenagem a sua esposa. Todos nos tinhamos suites muito luxuosas. Tambem andavamos bem protegidos. Nossas escoltas — designadas por Batista — eram policias em motocicletas equipadas corn metralhadoras. George Healy ocupou o quarto vizinho ao meu. "lbdos os aparta- 38
  • 36. mentos tinham uma cozinha eletrica completa; todos os interruptores eletricos estavam situados em urn mOvel dentro do apartamento. George e Maragaret tira- ram seas coisas e colocaram as malas vazias sobre o aquecedor. Entao, George foi experimentar os interruptores para identificar os que acendiam as luzes. Sem per- ceber, incendiou o aquecedor e queimou sua mala! Duas mortes Ocorreram outros incidentes nao divertidos. Lembro-me de que Jules Dubois morreu de urn ataque cardiaco em conseqiiencia da altitude. E um sujeito encan- tador da Costa Rica, Ricardo Castro Beeche, is de aviao para uma assembleia em Montego Bay, na Jamaica, quando uma turbulencia sacudiu o aparelho, lancan- do Castro contra o teto e partindo-lhe a nuca. A dificuldade das viagens Nessa epoca, viajar nao era facil. Quando fui a reuniao de Caracas, em 1945, o Unica, transporte disponivel era urn avid() DC-3, que saia de Miami. Fizemos escala em Porto Principe e depois em Sao Domingos. De volta a Miami, estava corn pressa para fazer conexao corn um vOo para Wilmington, na Carolina do Norte. Tolamente, tentei sair depressa da alfandega. Alguem me agarrou e gritou: "Onde pensa que vai?" Eu estava nas maos do servico de inteligencia naval — a guerra ainda nao havia terminado — e logo compreendi que havia cometido urn erro. Levaram-me a urn lugar onde ficaram me interrogando durante duas horas. Quiseram saber o que fazia, e eu lhes disse que era escritor. "Sobre o que escreve?" perguntaram-me. 'Fentei explicar-lhes que era jornalismo e que as vezes escrevia sobre as tecnicas de impressao, entre elan algumas novas e revolucionarias. A palavra "revolucionarias" deixou-os ern alertal E claro que perdi a conexao corn o voo. Nunca mais faro isso. Recordando Pedro Beltran Fui urn afortunado por ter conhecido Pedro Beltran. Nao me lembro muito da Assembleia de Lima, mas quando minha esposa e eu nos dispunhamos a vol- tar para Nova York, Pedro se aproximou de mim e me informou: "0 presidente colocou seu aviao a nossa disposicao. Voce gostaria de voar sobre o Amazonas?" "E claro", respondi. "De-me duas horas para trocar minhas reservas". Foi assim que Susan e eu, os Beltran e mais quatro ou cinco pessoas, subimos num avid() que nos levou a Iquitos. Ali passamos tres dias maravilhosos. Nunca havia estado nesse lugar. E uma lembranca memoravel. Depois nos levaram a sua granja ao sul de Lima. Ele tratava muito bem seus empregados. Tambem conhecemos a bela residencia que tinham em Lima, de arquitetura colonial. Soubemos depois que, quando houve a mudanca de governo, tiraram-lhe essa casa, a derrubaram e pelo terreno fizeram passar uma avenida. 39
  • 37. 0 Peru foi o primeiro pais da America Latina a ter urn general que impOs uma ditadura de esquerda. Chegaram ate a confiscar El Comercio, a revista de Miro Quesada. Miss6es a lugares de conflito Fizemos o maxim() para dar respaldo ao ABC Color do I'araguai. Durante nossos debates, decidimos que, em vez de evitar os lugares onde se acossava a liberdade de imprensa, la fariamos intencionalmente ato de presenca. 0 Paraguai foi urn dos primeiros lugares. Iriamos la para protestar contra o general Stroessner. Mas entre o anancio da nossa viagem e a chegada a Assuncao, Stroessner foi deposto. Nosso protesto transformou-se em celebracao. Agora, a estrategia e diferente corn as missoes investigadoras da SIP que viajam a diferentes lugares. Somos afortunados pelo fato de haver tantos socios dispostos a pagar suns despesas de viagem quando integram essas missOes. Corn freqtiencia crescente, as autoridades da SIP e o presidente da Comissao de Liber- dade de Imprensa viajam a lugares onde ha problemas para apoiar a imprensa local. Jules Dubois A Comissao de Liberdade de Imprensa e de Informacao sempre foi forte, comecando por Jules Dubois. Fomos afortunados por poder contar corn ele nessa primeira epoca. 0 coronet Robert McCormick deu-lhe carta branca para viajar para onde quisesse. Especulava-se que Jules nao era simplesmente urn correspon- dente, mas representava a CIA. Perguntei sobre isso a muita gente, mas ninguem me deu uma resposta concreta. Era persistente e muito barulhento, e tinha a habilidade de estar em varios lugares ao mesrno tempo. Simplesmente aparecia em qualquer lado. Mas representou a SIP corn muita competencia no campo da liberdade de imprensa. Era rude. Se nao gostava de alguem, dizia-Ihe na cara. Uma vez, escutei-o declarar que a familia de urn editor proeminente era comunista. Nao era, mas a politica da familia nao era a mesma que a de Jules. Esse era o comportamento dele. Pedro Joaquin Chamorro A historia da SIP conta corn urn born nnmero de personagens pitorescos. Pedro Joaquin Chamorro era um agitador. A maioria de nos nao estava inteirada do grande pleito entre as familias Chamorro e Somoza. Lembro-me que em certa ocasiao Chamorro regressou a Nicaragua proveniente do exilio e o detiveram e encarceraram. Disserarn-me que a primeira coisa que fez foi proclamar a liberda- de de imprensa em sua propria defesa. Nao sei se essa histOria e verdadeira, mas e urn dos relatos. 40
  • 38. Valentia latino-americana Aqueles de nos que estavamos em Editor and Publisher frequentemente ad- miravamos a valentia dos editores latino-americanos que compareciam as assem- bleias da SIP para dizer a verdade sobre seus proprios governos e sobre a falta de liberdade. Em seguida regressavam a seus paises. Em varias ocasiOes admiramos a coragern dessas pessoas. Creio que a SIP teve alguma influencia ao poder demons- trar estas condicOes ao editores norte-americanos. Lamentavelmente, nao conse- guimos influir nos narcotraficantes. Eles parecem nao respeitar nada. O leitor e a imprensa Sou de opiniao que, atualmente, a principal ameaca a liberdade de impren- sa esta no fato de esta ser encarada como um direito adquirido e garantido, mas as pessoas nao entendem o que ela represents. 0 publico leitor de hoje é muito critico da imprensa. Em muitos casos, essa critica e justificada. Mas nao enten- dem que a imprensa e o mensageiro, nao a causa dos problemas sobre os quais informa. Muitos acham que a imprensa deve ser seletiva no que relata, que so deve publicar o que é born, nao o que e mau. A credibilidade da imprensa contribui para o problema. 0 tema da credibilidade surge quando as pessoas se recusam a compreender que a imprensa se limita a comunicar. A imprensa nao inventa as coisas, mas e acusada de faze-lo. O latino-americano e o norte-americano A SIP promove e defende de maneira exemplar a liberdade de imprensa. A Declaracao de Chapultepec segue urn caminho correto. 0 conceito do Institute de Imprensa e excelente. Foi muito bem formulado e me sinto particularmente feliz por ver os latino-americanos assumindo papeis cada vez mais ativos na SIP. Muitos acharn que esta era uma Sociedade controlada e patrocinada por norte- americanos para os latino-americanos. Na verdade, havia mais socios pagando suas cotas na America Latina do que nos Estados Unidos. Mas sempre tive a espe- ranca — e esta comeca a se concretizar — de que o que iniciamos para ajudar os latino-americanos se transformasse em urn programa de auto-ajuda. Atravessa- mos urn longo periodo em que o principal jornal de qualquer cidade latino-ame- ricana, e seu editor, era o Unico socio desse local. E estes socios consideravam a SIP como de seu dominio privado: nao queriam outros socios do seu pais. Mas agora ha sangue novo, como Julio Mesquita. Ele obteve urn grande exito em atrair novos socios do Brasil. E as pessoas na Argentina estao fazendo o mesmo. Essa atitude nao existia ha 30 anos. 0 pai de Julio e Brito, no Rio, eram praticamente os Unicos socios que tInhamos no Brasil. Agora contamos corn socios em toda parte. Tambem no Mexico. Sao muito bons e muito ativos. Jorge Fascetto e Ratil Kraiselburd sao outros exemplos. 41
  • 39. Donos de publicacoes e jornalistas Creio que se equivocam aqueles que caracterizam a SIP como uma Socieda- de de donos de publicacOes e nao de jornalistas em geral. Aquele que nao tern a batuta na mao tende a nao fazer outra coisa senao se queixar. Neste pais, os sindi- catos se envolvem para proteger a integridade e a liberdade. Isso nao ocorre ne- cessariamente na America Latina; la, estao mais preocupados em proteger seus cargos e a corporacao. Se nao fosse pelos donos que enfrentaram os ditadores, nao teria existido uma oposicao. Foram eles que assumiram a responsabilidade. Gostaria que a SIP tivesse mais apoio nos Estados Unidos. Temos a tenden- cia a olhar para o oeste, para o leste, mas nao para o sul. Este sempre tern sido o nosso problema. Se nao fosse por alguns obstinados, como Jim McClatchy e Ed Seaton, que apreciam a importancia da relacao regional, nossa situacao seria ain- da mais dificil. Seaton curnpriu uma esplendida tarefa ao obter a ajuda das funda- cOes para varios projetos. Tenho a impressao de que a SIP progride, a tal ponto que instituicOes euro- peias, como a Associacao Mundial de PublicacOes (antes FIEJ), solicitam corn empenho novos sacios na America Latina. Os latino-americanos que estao filiados a AMP e ao IPI sao tambern membros da SIP, creio que sem excecao. De Nova York a Miami Fui urn pouco resistente a saida da sede da SIP de Nova York. Mas tenho de reconhecer que Miami é o lugar onde ela deve estar: e a porta de entrada para a America Latina. De modo que apoiei esta iniciativa assim que me recuperei da lastima inicial de perder o escritorio. Para mim, era muito conveniente to-lo em Nova York, sobretudo quando era presidente do Comite Executivo. Tenho de reconhecer que foi uma decisao acertada que, comprovadamente, tem dado mui- to born resultado. 42
  • 40. TESTEMUNHOS E CRONOLOGIA 1954 • 0 presidente Eisenhower prop& estender o direito de voto aqueles que corn- pletem 18 anos. • A atriz Marilyn Monroe casa-se corn o ex-jogador de baseball Joe Di Maggio. • Frank Sinatra ganha o Oscar por sua atuacao em "A urn passu da eternidade". • Homens de negOcios britanicos comecam a utilizar regularmente o primeiro computador eletronico. • 0 presidente Eisenhower impede o senador McCarthy de investigar a CIA em relacao a possiveis infiltracCies do comunismo nesse organismo. • 0 Instituto Nacional do Cancer dos Estados Unidos chama a atencao para o vinculo entre o cancer e o cigarro. • 0 escritor Ernest Hemingway ganha o premio Nobel de Literatura. • Morre aos 84 anos o pintor Henri Matisse. • Em Genebra chega-se ao acordo de que o Vietna sera dividido ao longo do paralelo 17, coin os comunistas controlando o norte. • 0 cantor Elvis Presley grava seu primeiro disco: "That's All Right Mama". • 0 govern() da Tailandia oferece bases aos paises ocidentais para a luta contra o comunismo no sudeste asiatico. 1955 • Morre aos 76 anos, em Princeton (N.J.) — seu lar durante os oltimos 33 anos — o cientista Albert Einstein. • Nikita Khrushchev substitui Georgi Malenkov e assume a lideranca da Uniao Sovietica. • 0 ator Marlon Brando ganha o Oscar por sua atuacao em "On the Waterfront". • Morre aos 34 anos o saxofonista Charlie "Yardbird" Parker, urn dos criadores do "bebop". • Na Argentina, o presidente Juan Peron e deposto e assume provisoriamente o govern() o general Eduardo Lonardi. • Morre aos 24 anos o ator James Dean. • Ingressam nas NacOes Unidas 16 novos membros, mas ha repadio ao ingresso da Mongolia e do Japao. • Morre na Suica o escritor alemao Thomas Mann, premio Nobel de Literatura. • A Organizacao Mundial de Satide declara que os residuos atomicos constituem urn serio perigo a sande. 43