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O Cotidiano
  no Centro de
Educação Infantil




Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância
        Cadernos Pedagógicos – volume 4

             Brasília, janeiro de 2005
Edições UNESCO

                Conselho Editorial da UNESCO no Brasil
                            Jorge Werthein
                          Cecilia Braslavsky
                         Juan Carlos Tedesco
                            Adama Ouane
                           Célio da Cunha

                     Comitê para a Área de Educação
                               Alvana Bof
                            Candido Gomes
                             Célio da Cunha
                           Katherine Grigsby
                       Marilza Machado Regattieri




             Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação
     dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas,
         que não são necessariamente as da UNESCO, do Banco Mundial
e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, nem comprometem as Organizações.
    As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro
    não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO
    a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região
ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
O Cotidiano
    no Centro de
  Educação Infantil




Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância
       Cadernos Pedagógicos – volume 4

                                            FUNDAÇAO
                                       MAURICIO SIROTKY SOBRINHO




               Organização: OMEP
Organização: Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar – OMEP, Brasil

                      Coordenação: Maria Helena Lopes

                                Elaboração:
    Elizabeth Amorin, Halei Cruz, Loide Pereira Trois, Maria Helena Lopes

              Colaboração: Maria da Graça Horn, Vital Didonet

                            Revisão Técnica:
                    UNESCO (Alessandra Schneider),
       Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (Alceu Terra Nascimento,
                Jéferson dos Santos, Márcio Mostardeiro)

               Revisão: Ana Maria Marschall, Marise Campos

                                  Capa:
                               Edson Fogaça

                      Projeto Gráfico e Edição de Arte:
                 Estúdio ADULTOS e CRIANÇAS CRIATIVAS




      © UNESCO, 2005

        O Cotidiano no Centro de Educação Infantil. – Brasília: UNESCO,
           Banco Mundial, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, 2005.
           94 p. – (Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância:
           Cadernos Pedagógicos; 4)


            1. Educação infantil – Ensino de Ciências 2. Ensino de Ciências
        3. Educação Pré-escolar – Ensino de Ciências I. UNESCO II. Série
                                                                CDD 372

     BR/2005/PI/H/5
Sumário


Apresentação ........................................................................................................... 7

Introdução ............................................................................................................... 9

Educar versus cuidar .............................................................................................. 11
     Elizabeth Amorim

Entrando em um novo mundo ................................................................................ 17
     Elizabeth Amorim

Agressividade e limites: possibilidades de intervenção............................................ 23
     Loide Pereira Trois

Saúde da criança.................................................................................................... 31
      Halei Cruz

Organização do tempo e do espaço ...................................................................... 51
     Elizabeth Amorim

A pedagogia de projetos e a mediação do educador .............................................. 61
     Elizabeth Amorim e Maria Helena L opes

Proposta pedagógica e relações centro infantil, família e comunidade .................... 75
     Elizabeth Amorim e Maria Helena L opes

Acompanhamento e avaliação das crianças no centro infantil ................................ 85
     Elizabeth Amorim
Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi
Apresentação
    O novo ordenamento legal, inaugurado pela Constituição Federal de 1988, assegura à criança
brasileira o atendimento em creche e pré-escola e, a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, em 1996, a Educação Infantil passa a ser definida como a primeira
etapa da Educação Básica. Essa importante conquista nacional reitera um dos postulados da
Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, no ano de 1990, de que a
aprendizagem ocorre desde o nascimento e requer educação e cuidado na primeira infância.

    Nas últimas décadas, várias pesquisas têm demonstrado que os primeiros seis anos de vida
de uma criança se constituem em período de intenso aprendizado e desenvolvimento, em que
se assentam as bases do “aprender a conhecer”, “aprender a viver junto”, “aprender a fazer” e
“aprender a ser”. O atendimento educacional de qualidade, nessa fase da vida, tem um
impacto extremamente positivo no curto, médio e longo prazo, gerando benefícios
educacionais, sociais e econômicos mais expressivos do que qualquer outro investimento na
área social. Melhor desempenho na escolaridade obrigatória, menores taxas de reprovação e
abandono escolar, bem como maior probabilidade de completar o ensino médio foram
observados entre os que tiveram acesso à educação infantil de qualidade, quando comparados
aos que não tiveram essa oportunidade. A freqüência a instituições de educação infantil afeta
positivamente o itinerário de vida das crianças, contribuindo significativamente para a sua
realização pessoal e profissional.

   Esse reconhecimento levou as nações a assumirem em Dacar, em 2000, entre os compro-
missos pela Educação para Todos, a meta de ampliar a oferta e melhorar a qualidade da
educação e dos cuidados na primeira infância, com especial atenção às crianças em situação
de vulnerabilidade. Essa é uma das seis metas expressas no Marco de Ação de Dacar, do qual o
Brasil é um dos signatários, sendo a UNESCO a instituição das Nações Unidas que tem, entre
suas atribuições, a de apoiar os países no cumprimento dessa agenda.

    Em 2003, a Representação da UNESCO no Brasil, o Banco Mundial e a Fundação Maurício
Sirotsky Sobrinho firmaram parceria para a realização do Programa Fundo do Milênio para a
Primeira Infância em alguns estados do País. Esse desafio foi lançado pelo Banco Mundial e
prontamente acolhido pela UNESCO e pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, que com-
partilham a firme convicção de que garantir uma educação de qualidade desde os primeiros
anos de vida é um dos mais importantes investimentos que uma nação pode fazer.

   O Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância tem como principal objetivo a qualifica-
ção do atendimento em creches e pré-escolas, preferencialmente da rede privada sem fins
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                                         Cadernos Pedagógicos – volume 4

  lucrativos, isto é, de instituições comunitárias, filantrópicas e confessionais que atendem crianças em
  situação de vulnerabilidade social. A principal estratégia do programa é a formação em serviço dos
  profissionais de Educação Infantil, considerando que a qualificação do educador é reconhecidamente
  um dos fatores mais relevantes para a promoção de padrões de qualidade adequados na educação,
  qualquer que seja o nível, a etapa ou a modalidade. No caso da Educação Infantil, em que o
  profissional tem a dupla responsabilidade de cuidar e educar bebês e crianças de até seis anos, sua
  formação é uma das variáveis que maior impacto causa sobre a qualidade do atendimento.

      A série Fundo do Milênio para a Primeira Infância – Cadernos Pedagógicos constitui-se em
  importante recurso à formação continuada dos educadores. Seus quatro volumes, a saber, Olha-
  res das Ciências sobre as Crianças; A Criança Descobrindo, Interpretando e Agindo sobre o
  Mundo; Legislação, Políticas e Influências Pedagógicas na Educação Infantil e O Cotidiano no
  Centro de Educação Infantil, apresentam as principais temáticas relativas à aprendizagem e ao
  desenvolvimento infantil.

      Pretende-se, portanto, que o presente volume e os demais dessa série constituam-se em importante
  ferramenta de trabalho para os profissionais da área de Educação Infantil, proporcionando o acesso a
  novos e atualizados conhecimentos, a reflexão crítica e a construção de práticas inovadoras àqueles que
  têm em suas mãos a difícil e apaixonante tarefa de educar nossas crianças.

     Desejamos, ainda, compartilhar essa realização com a Organização Mundial de Educação
  Pré-escolar (OMEP – Porto Alegre), reconhecendo sua colaboração inestimável, e com os Empre-
  endedores Associados ao Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância, que comungam
  conosco a visão de que os primeiros anos de vida valem para sempre e de que a educação de
  qualidade, desde a mais tenra infância, é fundamental para a construção de um Brasil mais
  desenvolvido, mais humano e socialmente mais justo.


               Jorge Werthein                              Vinod Thomas                Nelson Pacheco Sirotsky
  Representante da UNESCO no Brasil               Diretor do Banco Mundial no Brasil    Presidente da Fundação
                                                                                       Maurício Sirotsky Sobrinho




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Cadernos Pedagógicos – volume 4                              Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

                                              toda essa curiosidade, dessa avidez pela
        ntrodução                             descoberta, pela surpresa e pela alegria,
                                              as crianças abrem-se como pequenos
      Convidamos todos vocês a percorrerem “girassóis”, receptivas a tudo e a todos,
  conosco um espaço muito importante, que buscando a riqueza da luz. Ao recebê-las,
  chamamos “Educação Infantil”. São cami- o que precisamos é redescobrir com elas
  nhos que passam por diversas abordagens o ser poético, a espontaneidade, a capa-
  dos conteúdos de Educação Infantil,         cidade de filosofar sobre as coisas e
  oferencendo aos educadores várias           reconhecer suas diferenças e peculiaridades.
  possibilidades de despertarem para a
  sensibilidade e a sabedoria das crianças.       Assim, elas nos sensibilizarão ao retorno
                                              à natureza, à alegria do jogo, do brincar e
      É um trajeto interessante, vivo e       da poesia. Nós lhes daremos a certeza
  comprometido com a reflexão inteligente, de que trabalharemos pela defesa
  com a disposição afetiva e com o desejo de seus direitos.
  de tentar vencer os obstáculos.
                                                  Por elas, abriremos o livro da história e
      Nosso veículo será a leitura de alguns  das tradições. Partilharão conosco do
  textos importantes, que terão como centro mundo, serão também artífices da
  a Educação Infantil e as ações e vivências manifestação cultural e construtoras de
  que podemos realizar com nossas crian-      sua própria história.
  ças. Muitos desses assuntos já são conhe-
  cidos, mas uma releitura sempre traz            Com elas,
  novidades, assim como uma viagem em         construiremos um


                                                                                                               Foto: Sebastião Barbosa
  boa companhia. Na busca do melhor           futuro mais feliz,
  convívio possível, vamos nos envolver em porque através do
  reflexões sobre algumas teorias             deslumbramento
  importantes, que nos auxiliarão a repen- de seu olhar
  sarmos melhor as práticas com as crianças. reencontraremos a pureza de nossa alma e
                                              a certeza do profundo e transcendente
      Para que isso se torne realidade, temos milagre da vida.
  que aprender a observá-las e a ouvi-las,
  pois, quando se expressam, querem               Contamos com a parceria de todos
  sempre nos contar coisas e nos questionar. nessa desafiadora aventura pelo espaço
                                              muito especial que envolve a criança que
      Que mundo é este que nos recebe?        nos é confiada na maior parte de seu dia.
  Como são as pessoas? O que é a natureza?
  Quem sou eu? E muito mais. Diante de


                                                                                                        9
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                              Cadernos Pedagógicos – volume 4




                                                     Para transitar pelos
                                                  caminhos da infância, é
                                                  preciso ter um olhar atento,
                                                  pisar com suavidade,
                                                  reconhecer seu espaço e
                                                  abraçar seu tempo.
                                                     Tudo isso porque fazemos
                                                  parte de seu mundo. Somos
                                                  responsáveis pelas crianças,
                                                  por sua alegria, e cabe-nos
                                                  orientá-las para jogar o jogo
                                                  da vida.
                                                      Para seguir suas trilhas,
                                                  temos de conhecer seus
                                                  anseios, identificar suas
                                                  carências e apresentar-lhes
                                                  ricas possibilidades.
                                                      É preciso projetar
                                                  alternativas criativas e
                                                  oferecer-lhes um caminho
                                                  seguro em direção à
                                                  felicidade.




                                                                                   Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi




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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                                                                                                 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância


                                                                                          ducar versus Cuidar                                      Mesmo hoje, ainda vemos nomenclatu-
                                                                                                                                                   ras distintas para atendimento de 0 a 3
                                                                                                                      Elizabeth Amorim             anos e de 4 a 6 anos. Por isso, nos per-
                                                                                       Bebê
                                                                                                                                                   guntamos: por que creche e pré-escola, e
                                                                                       Coisinha deficiente, inconsciente, inerme,                  não somente educação infantil? Por que
                                                                                       inválida, trabalhosa, querida.                              reafirmar essa divisão, se o que
                                                                                                            Mário Quintana – Na volta da esquina
                                                                                                                                                   desejamos é exatamente o contrário?

                                                                                       Eu educo ou cuido? Cuido e educo?                               Na realidade, a educação infantil
                                                                                    Afinal, qual é o meu papel?                                    atende crianças de 0 a 6 anos, e é isso
                                                                                                                                                   que interessa. Crianças de origens diferen-
                                                                                       Provavelmente você já se questionou                         ciadas, mas que têm em comum o “ser
                                                                                    frente a essa dúvida, principalmente se                        criança”, que se assemelham em algumas
                                                                                    atende crianças até a faixa etária                             características e que brincam, inventam e
                                                                                    dos 3 anos.                                                    sonham.
                                                                                       Por muito tempo, a ênfase no cuidado                           Felizmente, os avanços nos estudos
                                                                                    dominou o atendimento nos programas                            referentes à aprendizagem e ao
                                                                                    de creches, enquanto os programas pré-                         desenvolvimento infantil comprovam
                                                                                    escolares tinham o enfoque educacional                         ser a criança uma curiosa exploradora
                                                                                    como predominância; portanto, o “divór-                        do mundo físico e social. Desde bebês,
                                                                                    cio” entre educar e cuidar apresenta
                                                                                    longa tradição no atendimento infantil.
Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi / Kit Família Brasileira Fortalecida / UNICEF




                                                                                                                                                                                                         11
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                         Cadernos Pedagógicos – volume 4

  as crianças são capazes de estabelecer               Isso significa, em outras palavras, que
  relações significativas com os adultos e        cuidar inclui também preocupar-se com a
  os companheiros numa variedade e                organização do Centro Infantil, de seus
  complexidade bem maiores do que o               horários, de seus espaços e dos materiais.
  constatado no passado. Igualmente               Isto é, que seja um ambiente acolhedor e
  percebemos a criança como um ser                agradável, seguro e alegre, que possa
  global, sejam quais forem as                    oferecer experiências ricas e adequadas
  circunstâncias e situações,                     para as crianças que ali convivem diaria-
  independentemente de classe social,             mente. O ambiente e os momentos po-
  raça ou quaisquer outras diferenças.            dem ser planejados de modo que
                                                  oportunizem autonomia nas rotinas,
     A relevante integração entre educar          como vestir-se e despir-se, proceder à
  e cuidar lembra-nos que as atividades           higiene das mãos e da boca, alimentar-se,
  rotineiras também auxiliam na constru-          etc. Cabe ao educador identificar em
  ção da identidade de uma criança. O             cada uma dessas ações de cuidados as
  que essa integração – educar e cuidar –         inúmeras possibilidades educativas. Por
  na realidade quer enfatizar é a relevân-        exemplo, nessas ações que citamos, as
  cia e o direito da criança de ser               crianças estarão experimentando a consis-
  educada e cuidada. Não existe uma               tência dos materiais de higiene, a leveza
  forma de atendimento que dicotomize             das roupas e a espessura dos panos, as
  o cuidar do educador na Educação                cores e os sabores dos alimentos.
  Infantil. Deve haver uma perfeita
  sintonia entre o adulto – educador e               Os cuidados com a saúde (higiene,
  cuidador – e a criança a ser educada e          alimentação, crescimento e desenvol-
  cuidada. Assim, em estado de                    vimento) são também educativos,
  harmonia, os momentos vividos serão             constituindo-se em funções a serem
  prazerosos e promoverão múltiplas               vivenciadas e executadas por crianças e
  aprendizagens, motivo pelo qual se faz          educadores.
  necessário proporcionar envolvimento
  e atividades compartilhadas, em que                Todos os momentos vividos pela
  ora a iniciativa é do adulto, ora é da          criança são educativos, na medida em
  criança. A maneira de pensar e agir             que ela está constantemente aprenden-
  que associa cuidado e educação preci-           do, através da sua interação com o meio
  sa permear todo o projeto pedagógico            que a rodeia. Dessa forma, as dimensões
  dos centros infantis.                           do cuidado relativo à alimentação, ao
                                                  sono, à higiene, à saúde, etc., são
                                                  educativas sim!


12
Cadernos Pedagógicos – volume 4                            Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

     Quando trocar a fralda de um bebê,       atendidos em suas necessidades básicas e
  por exemplo, é importante conversar         de afeto. A educação e o cuidado são
  com ele, pois os olhos se encontram, há     uma necessidade e um direito da criança
  toque, sensação tátil e movimento; este é   primeiramente, mas também das famílias
  um momento de interação, momento de         que depositam confiança no trabalho que
  vínculo e aprendizagem. Por outro lado,     os centros realizam.
  quando você está com um grupo na faixa
  etária de 4 a 5 anos realizando a higiene       A maneira como você recebe, todos os
  que antecede o lanche, há diálogos          dias, cada criança e tudo o que acontece
  sobre esse momento e sua necessidade,       com vocês até a hora da saída são
  igualmente o contato com a água,            vivências que contribuem para o desenvol-
  quente ou fria, a fricção com a toalha.     vimento infantil, são geradoras de
  Novamente este é um momento                 conhecimento e, portanto, educativas.
  educativo!                                  Então, o conjunto de todas essas experiên-
                                              cias que se interpenetram são,
     E o lanche então! Rico encontro social   intrinsecamente, educação e cuidado.
  e de aprendizado em
  que partilhamos, vemos
  se há comida para todo
  mundo, diferenciamos
  alimentos, comparamos,
  classificamos e assim
  por diante.
     Outro aspecto
  importante a destacar é
  a expectativa que as
  famílias têm ao deixa-
  rem seus filhos nos
                                                                                                             Foto: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi




  Centros Infantis.
  Almejam uma
  educação de qualidade,
  que promova o desen-
  volvimento cognitivo e
  social, mas também
  esperam que seus filhos
  sejam bem cuidados e


                                                                                                    13
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                                     Cadernos Pedagógicos – volume 4

      Nesse contexto, podemos hoje supe-          reciprocidade e da complementaridade
  rar a cisão maléfica na atuação com a           existente entre tudo e todos.
  criança; na realidade, jamais deveríamos
  utilizar separadamente esses dois termos           Concluindo – ou resumindo – as
  e, por conseqüência, o sentido deles.           idéias aqui expostas, reiteramos enfati-
  No educar, está “embutido” o cuidar,            camente a necessidade de se ter claro
  pois a instituição infantil possui um i-        que, na instituição infantil, todas as
  nequívoco caráter educacional, mesmo            tarefas, brincadeiras e atividades
  porque a criança tem não somente ne-            realizadas têm valor educativo e
  cessidade, mas também direito de ser            envolvem cuidado.
  cuidada e educada.                              Referências Bibliográficas

      Definitivamente, devemos tirar de           AMORIM, Elizabeth. A dimensão do cuidado essencial no fazer
                                                  pedagógico infantil como exigência primeira na construção da
  nossas mentes a dicotomia educar/cui-           cidadania planetária. Dissertação de Mestrado. São Leopoldo,
  dar; somente assim não mais a verba-            Faculdade de Educação da UNISINOS, 2002.
  lizaremos e, o que é mais importante,           BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão
                                                  pela terra. 6.ed. Petrópolis Vozes, 2000.
  estaremos integrando cuidado e edu-             CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo:
  cação em nossos fazeres cotidianos.             Gente, 2001.
                                                  DIDONET, Vital. Não há educação sem cuidado. Porto Alegre,
      Sedimentando o que até agora discuti-       Pátio Educação Infantil, n.1, . p. 6-9 abr/jul. 2003.
                                                  HADDAD, Lenira. A ecologia do atendimento infantil:
  mos, não podemos deixar de conceituar o         construindo um modelo e sistema unificado de cuidado e
  cuidado na sua dimensão maior, que o            educação. Tese de Doutorado. São Paulo, Faculdade de Educação
                                                  da USP, 1997.
  designa não como um ato isolado, mas,           KULISZ, Beatriz. Prática pedagógica na educação infantil:
  antes, como uma atitude de zelo, preocupa-      indicações para a construção de um referencial pedagógico.
  ção, responsabilidade e envolvimento afeti-     Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, Faculdade de Educação da
                                                  PUCRS, 2001.
  vo. Ou seja, o cuidado envolve atenção e        ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. A necessária associação
  afeto, pois somente cuidamos daquilo que        entre educar e cuidar. Porto Alegre, Pátio Educação Infantil, n.1,
                                                  p.10-12, abr./jul. 2003.
  gostamos e desejamos preservar.
     O cuidado encontra-se na base da
  constituição do homem, já que sem ele
  não seríamos humanos. Implica aconche-
  go, afeto, ternura, sintonia e, sobretudo,
  implica valorizar e importar-se, com o
  outro e com o mundo, não focando so-
  mente o valor utilitário, mas primordial-
  mente a dimensão do respeito, da


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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                          Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

    Atividades de Estudo e                                                     “Por sua própria natureza, cuidado inclui
  Aprofundamento                                                              duas significações básicas, intimamente
                                         Maria Helena Lopes                   ligadas entre si. A primeira, atitude de
                                                                              desvelo, de solicitude e de atenção para com
      “... gostaria de propor uma reflexão                                    o outro. A segunda, de preocupação e de
      interessante. Na época em que vivemos, em                               inquietação, porque a pessoa que tem
      que a maior ou menor oportunidade de                                    cuidado se sente envolvida e afetivamente
      acesso ao conhecimento define muitas vezes                              ligada ao outro.”
      o futuro de uma pessoa, as atividades de                                                                         Leonardo Boff
      cuidado assumem cada vez mais uma posição
      de destaque. As máquinas e os robôs                                      • Quais são as possibilidades educa-
      puderam substituir o ser humano em várias                            tivas das crianças ao serem atendidas em
      tarefas, mas não nas de cuidado! O setor no                          suas necessidades de alimentação,
      qual mais crescem as oportunidades de                                higienização, repouso, lazer e afeto?
      emprego é o de serviços. E a competência
      neles exigida envolve também delicadeza e
      cuidado no trato. Outros setores que
      apresentam acentuado crescimento dizem
      respeito diretamente ao cuidado das pessoas




                                                                                                                                           Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi
      e do ambiente ecológico. Cabe, então, a
      pergunta: será que estaremos preparando um
      futuro melhor para nossas crianças se
      deixarmos o cuidado de fora das tarefas
      educativas em nossas creches e pré-escolas?”
                          Maria Clotilde Rossetti-Ferreira (2003, p. 12)

      • Debata com seus colegas
  a citação acima, relacionando-a com
  as idéias do texto Educar versus Cuidar.
  A partir das idéias levantadas com
  o grupo, responda à pergunta
  que finaliza a citação.




                                                                                                                                  15
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                           Cadernos Pedagógicos – volume 4




                 Foto: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi




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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                                      Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

                                                                              mesma, de acordo, é claro, com o seu
          ntrando em um Novo                                                  desenvolvimento. Sendo assim, será vá-
          Mundo                                                               lido denominarmos como adaptação o
                                               Elisabeth Amorim               tempo referente aos primeiros dias do
                                                                              ingresso da criança na instituição
     Conceitos1                                                               infantil?
     Adaptar: amoldar, apropriar,
                                                                                 O que realmente desejamos desse
  conformar.
                                                                              momento de transição: que a criança se
     Adaptado: acomodado, amoldado,
                                                                              molde ao meio, ou que se integre,
  ajustado.
                                                                              sentindo-se parte dele?
     Integrar: tornar-se inteiro; com-
  pletar, integrar, integralizar; juntar-se                                     É tempo de parar, parar e refletir sobre
  tornando-se parte integrante, reunir-se,                                    em que ideário estamos alicerçados...
  incorporar-se.
     Integrado: diz-se de cada uma das                                             “Com freqüência ‘deixar a casa’ é uma
  partes de um todo que se completam                                               experiência mais forte do que ‘entrar na
                                                                                   escola’.[...] Existe muito pouco crescimento se
  ou se complementam.
                                                                                   não há algum tipo de sofrimento ou ansiedade.
     Não poderíamos, neste momento,                                                Quando damos um passo à frente, para um
  deixar de refletir sobre os termos                                               novo estágio ou desafio, deixamos,
  mencionados, já que trataremos sobre a                                           necessariamente, algo para trás. Sem esses
                                                                                   altos e baixos a vida seria plana e as pessoas
  adaptação da criança à instituição
                                                                                   não se desenvolveriam. Quanto mais jovem for
  infantil.
                                                                                   o indivíduo, mais ajuda ele precisará ter para
      Muitas vezes, e esta é uma delas,                                            seguir em frente sem maiores sofrimentos.”
  utilizamos palavras sem realmente nos                                                                                            Nancy Balaban

  aprofundar sobre os seus significados e,                                        A separação é uma experiência que
  conseqüentemente, se ela é adequada à                                       ocorre em todas as fases da vida huma-
  situação.                                                                   na. Ela começa quando o bebê deixa o
      O termo adaptação é o mais indicado                                     conhecido e aconchegante útero mater-
  ao período a que nos referimos? É sabido                                    no e entra em um mundo de sons, luzes
  que a educação infantil tem a autonomia                                     e contatos. Daí em diante, ela se encon-
  como um de seus pilares, pois oferece                                       tra no aprender a andar, no dormir na
  situações para que a criança aja por si                                     casa dos avós, na entrada na escola, na
                                                                              briga com o(a) namorado(a), no casa-
      1
       Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s.d.




                                                                                                                                              17
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                         Cadernos Pedagógicos – volume 4


  mento e em inúmeras outras situações.              É ponto pacífico a forte e profunda
                                                  vinculação mãe/filho; por isso, Gilda
      Em todas esses acontecimentos, há o         Rizzo (2000) afirma que o período de
  abandono de um território familiar e o          integração “envolve muitos fatores e o
  ingresso no desconhecido, no novo               sentimento de, pelo menos, duas pes-
  ainda não experimentado. Também não é           soas: mãe e filho”, acrescentando ainda
  assim o que acontece conosco cada vez           que “o nível de segurança afetiva de uma
  que uma turminha nos “deixa” e entra            criança é muito dependente do nível de
  outra, ainda por nós desconhecida?              segurança afetiva básica da mãe”.
  Como será cada criança, como reagirá
  ao ambiente e a mim? Como EU reagi-                A integração de um bebê até em
  rei? Terei a sensibilidade necessária? É o      torno de 7 ou 8 meses é, normalmente,
  que nos perguntamos.                            tranqüila, pois ainda não entrou na cha-
                                                  mada época do “estranhamento” a am-
      Por isso, os dias iniciais na instituição   bientes e pessoas. Então, é a mãe que
  infantil exigem sempre um esforço de            “se integra”, passando alguns períodos
  integração conjunta da instituição, da          observando como as crianças são atendi-
  família e da criança. Até esse momento,         das nos diferentes momentos pela equipe
  habitualmente a criança conviveu basi-          do berçário.
  camente com sua família e no cotidiano
  somente com as pessoas de sua casa. No              A partir dessa idade, é comum as crian-
  lar, além da segurança da forte                 ças reagirem a novos ambientes; as carac-
  vinculação afetiva, há também a segu-           terísticas individuais nortearão as
  rança do lugar conhecido, que pode ser          diferentes reações que devem ser respeita-
  explorado a todo momento, tanto os              das, bem como a busca de alternativas
  cômodos quanto os objetos.                      facilitadoras deve estar presente, porque
                                                  precisamos lembrar que, até esse momen-
     Já na instituição infantil tudo é novo e,    to, o parâmetro da criança era a família,
  por conseqüência, desconhecido: mudam           seus hábitos e comportamentos. Dessa
  o espaço, a rotina, as pessoas... A criança     forma, ela espera que você aja e tenha as
  passa a conviver com mais adultos e crian-      mesmas reações dos adultos que ela co-
  ças em um ambiente estranho. O novo             nhece, principalmente dos pais. Leva
  mundo afeta também sua família, que sofre       tempo para as crianças perceberem que
  com esse processo de encaixar horários,         adultos diferentes se comportam de
  mudança de rotina e questionamentos             maneira diferente, e também demora um
  sobre como a criança será atendida.             pouco para elas diferenciarem o que



18
Cadernos Pedagógicos – volume 4                             Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

  acontece em casa daquilo que acontece           O vínculo com a educadora, nesses
  no centro infantil.                          primeiros dias, é o objetivo primordial,
                                               visto ser através dele que a criança se
      Para a criança, as regras e os compor-   sentirá segura para interagir nesse novo
  tamentos familiares são universais; então,   mundo. É você quem vai auxiliar cada
  causa estranheza, por exemplo, poder         criança a familiarizar-se com o novo
  sujar as mãos se em casa não pode ou,        ambiente, seus hábitos e rotinas, é
  ainda, você agir de forma diferente de       você que, através de demonstrações de
  sua mãe. Por isso, é necessário “avaliar”    segurança e tranqüilidade, mostrará
  todo o ambiente que a cerca – humano e       que ela é aceita, respeitada e entendida
  físico – e essa “avaliação” é realizada de   nesse meio que, apesar de novo, é
  acordo com a maneira como cada               organizado e preparado para ela.
  criança reage a situações novas.
                                                  É por tudo isso que, no livro O início
      Esse novo mundo – o centro infantil –    da vida escolar, Nancy Balaban diz que
  traz curiosidade, expectativa, inseguran-    as crianças sentem-se estranhas num
  ça e, às vezes,
  muito medo!
  Será que vão
  saber cuidar de
  mim? E se eu
  ficar doente? Se
  eu cair? Se a
  mamãe não vier
  me buscar? Se
  eu fizer xixi nas
  calças? Se eu
  não quiser
  comer? Quem
                                                                                                         Foto: Unicef




  sabe que eu não
  gosto de beter-
  raba ou de abó-                              grupo novo que é diferente do seu grupo
  bora? Na verdade, são muitos “se”, são       familiar e no qual elas não têm um status
  várias e diferentes dúvidas que, consci-     especial. Nesse local, talvez só você,
  ente ou inconscientemente, causam            educadora, saiba seus nomes, e ninguém
  grande apreensão!                            realmente gosta ou não delas de alguma


                                                                                                     19
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                        Cadernos Pedagógicos – volume 4

  maneira especial. Elas “não têm o seu           fase muitas vezes é confuso, pois,
  lugar natural nesse grupo, mas vão ter          mesmo percebendo que essa transição é
  que conquistá-lo através de seu compor-         necessária e boa para a criança, sentem-
  tamento. Embora elas ainda não saibam           se culpados, com sensação de perda e
  disto, é provável que o sintam”.                apreensivos por entregarem o que eles
                                                  têm de mais precioso a pessoas que, até
     Como vimos, as crianças reagem               aquele momento, ainda são estranhas.
  diferentemente umas das outras: algumas         Por isso, os pais precisam ser igualmente
  mostram-se desconfiadas, ou choram, ou          atendidos nessa fase de transição, devem
  não aceitam contato; outras ingressam           perceber que o centro infantil – e princi-
  querendo explorar todo o ambiente, ou           palmente você – entende que vários
  tentando deter-se em tudo ao mesmo              tipos de emoção estão aí envolvidos e
  tempo.                                          que é impossível compreender os senti-
     Essa transição e o estabelecimento de        mentos da criança sem avaliar simultane-
  confiança é gradativo, motivo pelo qual,        amente os sentimentos deles, uma vez
  durante os primeiros dias, é aconselhável       que este é um acontecimento significati-
  que a criança permaneça por um perío-           vo para ambos.
  do menor do que o normal na institui-               A reação da criança está muito ligada
  ção. Esse tempo vai sendo prolongado            ao estilo de vida de sua família, bem
  gradativamente, à medida que você               como ao tipo de relações dos adultos
  percebe que a criança tranqüiliza-se e          que a rodeiam e, principalmente, à sua
  age com maior naturalidade.                     relação com a mãe. Também a maneira
     Dentro do possível, é importante a           como a mãe encara essa separação
  presença familiar – principalmente a            influencia de forma direta o comporta-
  materna – no ambiente da instituição            mento da criança: se ela tem pena, medo
  durante esse processo, o que permite não        de dividir, ou fantasias em relação a
  somente maior segurança para a criança,         como seu filho será tratado, com certeza
  como também à família conhecer melhor           dificultará o processo.
  o local e a educadora. O comportamento             Quando há um bom nível de segu-
  familiar nesse momento é fundamental,           rança emocional, isto é, se a criança
  pois, com já dissemos, ele será um dos          estabeleceu uma relação de confiança
  parâmetros percebidos pela criança.             com a mãe, ela consegue, gradativa-
       Os sentimentos dos pais durante essa       mente, ficar afastada dela sem ter
                                                  medo de perdê-la. Tranqüilidade e



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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                       Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

  segurança, sem sentimento de culpa, é a
                                                     “Vai aqui este pedido aos professores, pedido
  conduta indicada, e a instituição deve
                                                     de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das
  encontrar-se permanentemente à disposi-
                                                     crianças: lembrem-se de que vocês são
  ção para esclarecer dúvidas e anseios. Por         pastores da alegria e de que sua responsa-
  isso, o período de integração deve ser             bilidade primeira é definida por um rosto
  cuidadosamente planejado para que                  que lhes faz um pedido ‘Por favor, me ajude
  sejam construídos a confiança e o conhe-           a ser feliz...’”
  cimento mútuos. É desse modo que                                                                      Rubem Alves
  acontece o estabelecimento de vínculos
                                                 Referências Bibliogáficas
  afetivos entre as crianças, as famílias e os
  educadores.                                    BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da separação à
                                                 independência. Porto Alegre: Artmed, 1998.
      Assim, é permitido à família               CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São
                                                 Paulo: Gente, 2001.
  conscientizar-se de que a instituição está     OLIVEIRA, Zilma de Moraes (Org.) Educação infantil: muitos
  habituada com esse momento e as educa-         olhares. São Paulo: Cortez, 1994.
                                                 OLIVEIRA, Zilma de Moraes et al. Creches, faz-de-conta e cia.
  doras, aptas a controlar as situações que      2.ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
  surgirem. Essa parceria torna o processo de    RESTREPO, Luis Carlos. O direito à ternura. Petrópolis: Vozes, 2000.
  transição não somente mais tranqüilo, mas,     RIZZO, Gilda. Creche: organização, montagem e
                                                 funcionamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
  sobretudo, representa o início de
  uma desejada, agradável e
  gratificante caminhada.



                                                                                                                        Foto: Sebastião Barbosa




                                                                                                                 21
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                    Cadernos Pedagógicos – volume 4

       Atividades de Estudo e Aprofundamento
                                            Elisabeth Amorim

       “O vivido só se torna recordação da lei da
       narração(...). E aí se torna outra vez vivo,
       aberto, produtivo. A memória que lê e que
       conta é a memória em que o ‘era uma vez’
       converte-se em um ‘começa’!”
                                                   Jorge Larrosa


     • Você se lembra do seu primeiro dia
  na escola? Quais eram os sentimentos:
  ansiedade, medo, expectativa, excitação?
  A lancheira foi aberta? Como era a edu-
  cadora? O que marcou em você? Se você
  não se lembra desses detalhes, pergunte
  a seus pais como foi.
     • Recorde, através da narração,
  algum fato ou situação em que sua vida




                                                                                           Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi
  sofreu mudança e, portanto, o novo e o
  desconhecido foram enfrentados.
  Quais foram os sentimentos e as reações?
     • Cite alguns procedimentos
  indicados para o período de integração
  da criança ao Centro Infantil.




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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                         Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

                                                           de toda pulsão, de todo impulso,
          gressividade e Limites:                          constituindo nossos instintos de
          possibilidades de                                autopreservação, instintos sexuais, de
          intervenção                                      destruição e de todo desejo. São as
                                                           pulsões de vida e de morte que constitu-
                                  Loide Pereira Trois      em a natureza humana. Todos os indiví-
                                                           duos possuem instintos agressivos que se
       “É necessário que o adulto entenda, aceite e
                                                           desenvolvem à medida que crescemos e
       valorize que a criança, ao brincar, necessita
       derrubar a torre de blocos de montar para
                                                           interagimos com o nosso meio ambiente.
       que assim possa valorizar a sua própria             Esses impulsos podem ser observados em
       capacidade de construir e errar.”                   nossos comportamentos e atitudes, mas
                                         Donald Winicott
                                                           sua origem não é consciente, ou seja,
                                                           fazem parte de nosso psiquismo, do
     Para que possamos entender as dife-                   nosso inconsciente.
  rentes manifestações da agressividade, é
  importante considerar que o erro faz                        É importante destacar que os impulsos
  parte de toda aprendizagem. Assim, para                  agressivos são constituintes de nosso
  montar uma torre de blocos, teremos                      desenvolvimento humano e que, por isso,
  que aprender a derrubá-la e ir refazendo                 não podem ser analisados como patológi-
  esse gesto até a descoberta da                           cos. Cabe aqui diferenciarmos as manifes-
  construção desse novo conhecimento.                      tações da agressividade e o ato agressivo.
  Partimos, então, da noção de que, ao
  longo do desenvolvimento humano,
  existem momentos de acerto e de erro
  na construção de nossos valores e con-
                                                                                                                Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi




  ceitos. O elemento fundamental nesse
  processo é a crença em nossa própria
  capacidade de superar conflitos e
  crescer com os desafios que nos são
  colocados.
     Conforme Sigmund Freud, grande
  pensador que estudou e desvendou a
  psique humana e nos deixou como
  legado a descoberta da noção de
  inconsciente, a agressividade faz parte



                                                                                                                                              23
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                         Cadernos Pedagógicos – volume 4

      O ato agressivo dificulta a nossa           ser atendido em suas necessidades vitais.
  capacidade de pensar, indicando riscos          Posteriormente, a criança passa a explorar
  para nossa aprendizagem. Por trás de um         mais ativamente o meio em que está
  ato agressivo não existe uma intenciona-        inserida e, assim, puxa, empurra, bate, joga
  lidade hostil consciente da criança; ao         objetos que estão ao seu alcance para
  contrário, ela está nos mostrando que           conhecer e aprender sobre os mesmos.
  algo não vai bem, que ela não está con-
  seguindo lidar com seus impulsos agres-             Numa etapa seguinte, surgem as
  sivos de maneira sadia, ou seja, é um           mordidas, um período maturacional da
  pedido de ajuda para que o outro lhe            criança que é percebido pelo apareci-
  mostre um modo de veicular sua energia          mento dos dentes e sua conseqüente uti-
  de forma construtiva. É uma energia pul-        lização: ela morde pela necessidade de
  sional que necessita ser canalizada para        saciar sua ansiedade. Por volta dos 2 anos,
  fins socialmente aceitos e produtivos           a criança inicia seu processo de controle
  para que ocorra um crescimento pessoal          esfincteriano, que vai se consolidar por
  e aprendizagem.                                 volta dos 3 anos, período em que os im-
                                                  pulsos agressivos são manifestados através
      Se afirmamos que uma criança é agres-       da produção dos excrementos (fezes e u-
  siva, estamos considerando que esta é uma       rina), e a criança tenta controlar o meio
  característica e um traço da identidade         que a cerca.
  dela e impedindo a percepção de que a
  criança está em formação e que, portanto,           A partir dos 4 ou 5 anos, vemos que os
  trata-se de características que podem ser       impulsos agressivos são direcionados à
  transitórias em seu desenvolvimento.            figura dos adultos como desafio a autori-
  Desse modo, a criança está agressiva por        dade, ou seja, é uma fase de “ teste”, na
  alguma causa e pode cometer atos                qual a criança passa a questionar os limi-
  agressivos que posteriormente poderão ser       tes de suas ações. Os impulsos agressivos
  reparados em seu comportamento.                 são manifestados através de várias atitu-
                                                  des que interpelam a capacidade de to-
      Vejamos como se manifestam os impul-        lerância, paciência e firmeza da figura de
  sos agressivos ao longo de nosso desenvol-      autoridade evocada. Como resultado des-
  vimento humano. Inicialmente, os nossos         sa fase, temos a formação do sentimento
  impulsos agressivos são manifestados            de respeito e a noção de limite interna-
  através de nosso instinto de sobrevivência.     lizada pela criança. Podemos perceber
  O choro do bebê apresenta seu estado de         que os impulsos agressivos estão presen-
  desconforto, desprazer (dor, frio) ou neces-    tes e vão evoluindo ao longo de nosso
  sidade nutricional (fome): ele chora para       desenvolvimento. Uma vez que esses


24
Cadernos Pedagógicos – volume 4                            Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

  impulsos sejam canalizados e desviados           Se como educadores não somos
  para outros fins, intensificando sua ma-     capazes de elaborar perguntas, formular
  nifestação, passam a ser considerados e      hipóteses e usar a nossa criatividade
  transformados em agressão ou ato             frente à agressão da criança, frente à
  agressivo.                                   situação que deu origem a esse ato, é o
                                               próprio educador que está se agredindo
     Como educadores, conhecemos bem o         por estar se considerando incapaz e
  que se sente diante de um ato agressivo.     impedindo seu próprio crescimento
  Vivencia-se sentimentos de angústia, de      diante desse desafio.
  dor, de não saber. O fundamental, nesse
  momento, é tomar distância do ocorrido e        É importante que possamos estabele-
  tentar escutar o que a criança está          cer laços afetivos seguros e verdadeiros
  querendo dizer em cada chute, em cada        com as crianças, compreendendo-as até
  empurrão, em cada palavra ou gesto.          mesmo em suas reações agressivas.
                                               Nessa compreensão, não se trata de
     É preciso se descentrar e incluir o       “deixar assim mesmo”, “esperar passar”
  pensamento como um terceiro termo            ou sentir pena da criança, mas
  entre o educador e a criança. Desse          justamente confiar na sua capacidade de
  modo, estaremos possibilitando um
  espaço de indagação e questionamento
  sobre o ato formulando perguntas, co-
  mo: a quem essa criança agride quando

                                                                                                Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS/Gian Calvi
  me agride?
      Quando um aluno enfrenta agressiva-
  mente o educador, e este pensa que a a-
  gressão é para ele, está colocando-se num
  nível imaginário a partir do qual só vai
  aumentar a atuação agressiva da criança,
  impedindo a formação de um espaço de
  diálogo e reflexão. É preciso ter em mente
  que a criança está agredindo através de
  mim outras situações presentes e
  passadas na sua história. É
  necessário, para compreender essa
  ação, descobrir a que ações, a que
  atitudes essa agressão se dirige.


                                                                                                                                                    25
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                        Cadernos Pedagógicos – volume 4

  resolver o conflito, de superar esse pro-          As saídas para as situações de agres-
  blema no amparo seguro da relação               são são complexas; no entanto, a resolu-
  afetiva com o educador.                         ção da agressão através de outra agressão
                                                  favorece a manutenção do comporta-
      A noção de limites se coloca através        mento agressivo. As punições e coações
  da formação do sentimento de respeito à         abusivas do adulto diminuem o comporta-
  figura de autoridade e da aposta na             mento agressivo temporariamente,
  capacidade de reparação do erro.                reaparecendo-o em contextos diferentes e,
      O importante é fazer com que a criança      muitas vezes, com mais intensidade.
  retire dessa situação elementos significati-       Somos adultos, mas a criança de
  vos para sua aprendizagem, repare o erro,       nossa infância habita dentro de nós e,
  procure tomar mais cuidado e atenção da         por vezes, precisamos revisar nossas
  próxima vez para que não volte a repetir o      próprias convicções morais, éticas, e
  ato agressivo. Assim, estamos conduzindo        pensar sobre a forma como fomos
  a criança a pensar sobre seus atos e modifi-    educados, como vivemos nossa
  car suas atitudes pela reflexão e pelo          infância, buscando qualificar a nossa
  entendimento do que ela mesmo faz e             formação pessoal e transformar a nossa
  provoca.                                        ação educativa.
      As atitudes de repressão, castigo               O educador é modelo, é uma refe-
  ou humilhações apenas provocam um               rência estruturante para a criança. As
  sentimento de desvalia e obediência             crianças aprendem não apenas com o
  cega, sem a conscientização do ato              que é dito, mas sobretudo com o que
  errado por parte da criança. Um outro           vêem, com a coerência entre as ações
  sentimento freqüente diante de situa-           e o discurso dos educadores; assim,
  ções de conflitos e brigas entre as             quando apresentamos modelos pau-
  crianças, e para o qual devemos ter             tados no diálogo, na cooperação, na
  bastante atenção, é quando uma crian-           solidariedade, esses serão repetidos e
  ça agride outra pessoa. Por vezes, po-          valorizados pela criança. Quando a
  demos nos identificar com o agredido            criança aprende a resolver verbalmen-
  e tomar partido frente à agressão.              te seus conflitos, explicando o que
  Aliando-nos com a pessoa agredida e             aconteceu e entendendo os motivos e
  culpabilizando ao extremo a criança             as conseqüências de seus atos, as
  envolvida, não estamos tomando dis-             situações de agressão e os atos agres-
  tância e refletindo sobre o ato                 sivos diminuem. Nesse caso, é funda-
  agressivo, mas sim fechando uma                 mental que haja a valorização dessa
  interpretação.

26
Cadernos Pedagógicos – volume 4                           Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

  conquista, reforçando-se a aprendiza-
  gem da criança.
      Como educadores, temos a possibi-
  lidade de criar espaços de aprendiza-
  gem nos quais a agressividade possa
  se manifestar de forma sadia e equili-
  brada e nos quais os atos agressivos
  não sejam mais necessários. Acreditar
  em nossa capacidade de superar essas
  situações, tomando-as como desafios
  constantes em nosso fazer cotidiano, é
  acreditar em nossa capacidade de
  transformar e de educar.
  Referências Bibliográficas

  BIAGGIO, A. Psicologia do desenvolvimento. Rio de
  Janeiro: Vozes, 1985.
  DELL’AGLIO, D. Controle esfincteriano. UFRGS, 1993
  (mimeo).
  FERNANDEZ, A. A mulher escondida na professora:
  uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da
  corporeidade e da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,
  1993.
  FERNANDEZ, A. Agressividade: qual teu papel na
  aprendizagem? Revista Paixão de Aprender.
  MACHADO, M. C.; NOGUEIRA, N. Como lidar com a
  criança agressiva. Revista Nova Escola, n.4, 1986.
  REDL, F.; WINEMAM, D. A criança agressiva. São Paulo:
  Martins Fontes, 1985.
                                                                                                    Ilustração de criança do abrigo Maria Goretti / Colombia




                                                                                                   27
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                                                                     Cadernos Pedagógicos – volume 4

  Atividades de Estudo e Aprofundamento                         logo para a briga, empurra, joga objetos,
                                          Loide Pereira Trois   bate ou chuta os colegas.

    Leia com atenção o caso relatado                                A intervenção da educadora, nessas
  abaixo.                                                       situações, é utilizar o diálogo e buscar,
                                                                com ele, as explicações para seus atos
      Pedro é aluno de um Centro Infantil                       errados. Embora ele a escute e preste
  há três anos, sua adaptação foi bastante                      atenção em sua conversa, não consegue,
  tumultuada, não queria ficar no Centro                        posteriormente, cumprir exatamente o
  de Educação Infantil e nem separar-se de                      que foi combinado com ela e, algumas
  sua mãe, fato que a deixava muito ansio-                      vezes, explica à educadora: “eu não
  sa e insegura. Aos poucos, com a ajuda e                      consigo me segurar”   .
  intervenção da educadora e dos demais
  integrantes da instituição, foi adaptando-
  se ao grupo e participando da rotina
  diária.
      Desse modo, foi aceitando melhor a
  separação de sua mãe e promovendo uma
  maior segurança e bem-estar a ela. A mãe
  do menino começou a ficar mais
  confiante em seu filho, aspecto que lhe
  era muito difícil, pois na maioria das
  vezes considerava-o frágil, com “muita
  dificuldade” e necessitando sempre de
  ajuda para fazer qualquer coisa.
      Após esse período de adaptação, o
  menino passa a participar ativamente das
                                                                Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS/Gian Calvi




  atividades, entende a rotina diária, é
  interessado, discute suas idéias e brinca
  com todos os colegas; no entanto, quan-
  do é contrariado, fica irritado, muito
  furioso e não aceita nenhuma forma de
  negociação ou cumprimento das regras
  de convivência. Nesses momentos, cos-
  tuma reagir de forma impulsiva e parte


28
Cadernos Pedagógicos – volume 4              Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

     Responda e Registre
     • O que você pensa sobre as atitudes
  do menino?
     • Como podemos caracterizar o
  comportamento desse menino com
  relação à agressividade e aos limites?
     • Qual seria sua forma de atuação se
  fosses educador nesse caso?
      Leia com atenção a cena abaixo:
      Marcos e Pedro são colegas da escola
  e ambos tem 5 anos. Marcos é uma
  criança bastante ativa, interessada em
  conhecer o ambiente e aceita com muita
  facilidade desafios. Pedro não tem
  irmãos, mora com seus avós e adora
  brincar de jogar bola, subir em árvores,
  correr e superar limites.
     Numa tarde, na hora do pátio, quan-
  do estavam brincando de futebol, dispu-
  taram a bola para fazer o gol e acabaram
  se empurrando. Pedro ficou muito bravo
  e começou a gritar e a chutar Marcos.
  Marcos chorou muito e foi socorrido pela
  educadora que estava no pátio.
     Diante dessa cena do cotidiano e com
  base na leitura do texto, responda:
     • Qual seria a intervenção do educa-
  dor buscando promover a consciência
  do ato agressivo?




                                                                                      29
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância   Cadernos Pedagógicos – volume 4




   Foto: Sebastião Barbosa




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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                      Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

                                                                        dessas populações, através da educação
                                                                        e do cuidado das crianças.
           aúde da Criança
                                                      Halei Cruz            Nessas ações estão incluídos alguns
                                                                        fatores que devem fazer parte da prática
      “São direitos fundamentais da criança                             dos responsáveis pela saúde infantil
      a proteção à vida e à saúde, mediante a                           dentro e fora de creches e centros de
      efetivação das políticas sociais públicas que                     Educação Infantil.
      permitam o nascimento e o desenvolvimento
      harmonioso, em condições dignas de                                   Procuramos abordar, neste artigo, os
      existência.”                                                      conhecimentos fundamentais que dizem
                           Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA   respeito às medidas preventivas de risco
                                                                        à saúde das crianças, ao seu crescimento,
     Em primeiro lugar, pensar em saúde                                 à alimentação e aos cuidados.
  infantil, principalmente na faixa de 0 a 6
  anos, é caracterizar o cumprimento dos                                   Precisamos conhecer e operar dentro
  direitos da primeira infância a uma vida                              do trinômio educação + saúde + assis-
  digna, feliz e saudável.                                              tência social, com vistas a colaborar no
                                                                        desenvolvimento da criança com a maior
     É certo que já existem leis que                                    qualidade possível .
  regulamentam os direitos das crianças
  e políticas intersetoriais que operam                                    Nessa concepção, não há áreas estan-
  em seu favor. No entanto, há que se                                   ques. Devemos considerar a saúde de
  considerar as grandes dificuldades a                                  forma simultânea, como o conjunto de
  serem vencidas para que tais políticas                                ações nas quais estejam envolvidos os
  atendam, se não à totalidade, pelo                                    programas de serviços sociais básicos de
  menos a maioria de nossas crianças.                                   educação, assistência social, lazer e
                                                                        cultura.
      Muitas ações sociais ainda precisam
  ser desenvolvidas para que se dê plena                                   O crescimento da criança
  garantia de saúde a um número significa-                                 O crescimento, assim como o desen-
  tivo de crianças, principalmente àquelas                              volvimento, é o resultado de modifi-
  pertencentes às camadas mais carentes e                               cações estruturais e funcionais que
  que, em nosso país, representam um                                    ocorrem no indivíduo desde a concep-
  número considerável.                                                  ção até a idade adulta.
     As instituições de Educação Infantil                                  Muitas vezes, há confusão entre o
  assumem sua parcela de responsabilida-                                significado dos termos crescimento e
  de na tarefa de minimizar as carências                                desenvolvimento, mas cada fenômeno

                                                                                                                              31
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                                Cadernos Pedagógicos – volume 4

                tem suas características próprias. En-    indivíduo poderá crescer.
                quanto o crescimento se refere ao            • Emocionais – o afeto, a atenção e a
                aumento das dimensões do corpo, o         sensação de segurança favorecem o
                desenvolvimento significa aquisição de    crescimento.
                habilidades como andar ou falar. O           • Socioeconômicos – crianças que
                crescimento se deve ao aumento de         vivem em ambiente de baixo nível socio-
                volume e do número de células do          econômico tendem a apresentar atraso
                organismo, e o desenvolvimento decorre    no crescimento.
                da maturação, da diferenciação e da          • Nutricionais – a alimentação ade-
                capacidade de ação integrada dos          quada fornece matéria-prima para o
                sistemas orgânicos.                       crescimento e a multiplicação das
                                                          células.
                   Todos os animais crescem e se             • Neuroendócrinos – os sistemas ner-
                desenvolvem, mas no homem esses           voso e endócrino (produtor de hormônios)
                processos ocorrem de forma mais lenta e   são responsáveis pela regulação do funcio-
                complexa. Os fatores que interferem no    namento do organismo. Desequilíbrios
                crescimento são:                          nesses sistemas produzem alterações no
                   • Genéticos – determinam o poten-      crescimento.
                cial de crescimento, isto é, o quanto o      O crescimento se inicia a partir da
                                                                                   fecundação,
                                                                                   isto é, da união
                                                                                   do espermato-
                                                                                   zóide com o
                                                                                   óvulo. O perío-
                                                                                   do de cresci-
                                                                                   mento da
                                                                                   criança dentro
                                                                                   do útero mater-
                                                                                   no é chamado
                                                                                   de período pré-
                                                                                   natal e, após o
                                                                                   nascimento,
                                                                                   período pós-
 Foto: UNICEF




                                                                                   natal.



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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                                                                         Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

                                                                                   O período pré-natal compreende duas      materna deficiente leva à maior probabi-
                                                                                fases: a embrionária e a fetal.             lidade de nascimento de uma criança
                                                                                                                            com baixo peso. Considera-se recém-
                                                                                    Na fase embrionária, correspondente     nascido de baixo peso a criança que
                                                                                ao primeiro trimestre da gravidez, o ser    apresenta peso inferior a 2.500 gramas
                                                                                em crescimento é denominado de em-          no momento do nascimento. Essas crian-
                                                                                brião. Nessa etapa, o crescimento é         ças têm maiores chances de adoecer e
                                                                                lento, ocorrendo a diferenciação das        até mesmo de morrer do que as crianças
                                                                                células para formar órgãos e sistemas. A    que nascem com peso adequado.
                                                                                exposição do embrião a agentes
                                                                                externos, como radiação, infecções, uso         O crescimento pós-natal se dá em
                                                                                de álcool, medicamentos e outras drogas     quatro fases:
                                                                                pela mãe, pode levar à ocorrência de            • Primeira Infância – do nascimento
                                                                                malformações que são alterações na          aos 3 anos. É uma fase de crescimento
                                                                                estrutura e no funcionamento de órgãos.     rápido, apesar de mais lento que na fase
                                                                                                                            fetal. Nessa etapa, as carências
                                                                                   Na fase fetal, correspondente aos        nutricionais e as infecções constituem os
                                                                                segundo e terceiro trimestres da gesta-     maiores riscos para a saúde e a vida das
                                                                                ção, há uma aceleração do processo de       crianças. Se compararmos o crescimento
                                                                                crescimento. A criança em formação é        do indivíduo em toda a sua vida, após o
                                                                                chamada, então, de feto. É a fase da vida   nascimento, essa etapa é aquela em que
                                                                                em que o crescimento se faz com maior       ele acontece com maior velocidade,
                                                                                velocidade e sofre grande influência do     principalmente no primeiro ano de vida.
                                                                                estado nutricional da mãe. A alimentação    Ao completar um ano, a criança triplicou
Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi/Kit Família Brasileira Fortalecida/UNICEF




                                                                                                                                                                                 33
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                        Cadernos Pedagógicos – volume 4

  o seu peso de nascimento e aumentou                 As crianças com atraso no crescimen-
  em 50% a sua estatura.                          to, ocasionado por fatores como desnu-
                                                  trição ou infecções, tendem a apresentar
     • Segunda Infância – corresponde ao          velocidade de crescimento maior que a
  período entre os 3 e os 10 anos. A              esperada para a idade após a correção
  velocidade de crescimento se mantém             daqueles fatores. Esse fenômeno é cha-
  constante e mais lenta que na fase anterior.    mado crescimento compensatório e
     • Adolescência – correspondente ao           ocorre até que a criança alcance o nível
  período entre os 10 e os 18 a 20 anos.          que teria se não houvesse o atraso. É
  Há um período inicial de aceleração da          observado, principalmente, nas crianças
  velocidade de crescimento (estirão              abaixo de 2 anos.
  pubertário) cujo máximo se dá em torno              O acompanhamento do crescimento
  dos 12 anos, para as meninas, e 14 anos,        e do desenvolvimento da criança, nos
  para os meninos. A partir daí, a velocida-      serviços de saúde, permite detectar
  de de crescimento diminui.                      precocemente, e assim tratar eficazmen-
     • Parada do Crescimento – ocorre             te, problemas que podem comprometer,
  entre os 18 e os 21 anos, quando o              muitas vezes de forma grave, a sua saúde
  indivíduo alcança o seu ponto máximo            e o seu futuro.
  de crescimento. Alguns tecidos, como a             Para o acompanhamento do
  pele, continuam seu processo de multi-          crescimento, utilizam-se gráficos com
  plicação celular.                               curvas de referência. Os gráficos mais
     A necessidade de maior demanda               usados, para crianças, são os que
  nutricional no período de crescimento           permitem analisar a evolução do seu
  determina maior risco à saúde. Quanto           peso no decorrer do tempo, tomado em
  maior a velocidade de crescimento,              meses, chamados de gráficos de peso
  maior será o efeito nocivo da deficiência       para a idade. Outros tipos de gráficos
  nutricional no indivíduo. Portanto, os          podem ser utilizados, de acordo com o
  períodos de maior risco são o pré-natal,        objetivo da avaliação do crescimento,
  a primeira infância e a adolescência. Ao        como o de estatura para a idade ou o
  longo deles é que se deve atuar com             de peso para estatura.
  mais atenção aos cuidados de saúde,                Considera-se que o crescimento é
  como alimentação adequada e preven-             adequado quando a criança apresenta
  ção de infecções.                               sempre ganho de peso a cada avaliação,



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Cadernos Pedagógicos – volume 4                            Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

  principalmente se a sua curva de             mentos, o que é chamado de desmame.
  crescimento acompanha as curvas do
  gráfico de referência.                          Devido ao seu valor nutritivo e às
                                               vantagens do seu uso, para a criança e
     Todas as crianças devem ter seu           para a mãe, o leite materno deve ser
  crescimento acompanhado, em avalia-          oferecido à criança até os 2 anos, segun-
  ções periódicas, nas consultas aos servi-    do a orientação da Organização Mundial
  ços de saúde.                                de Saúde (OMS).
     A vida e a saúde da criança são direi-        O leite de outros animais eventual-
  tos universais e garantidos pelo Estatuto    mente pode ser oferecido ao bebê, mas
  da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/   com grandes desvantagens em relação ao
  90), que regulamenta o artigo 227 da         leite humano. Isso porque cada animal
  Constituição da República Federativa do      produz leite de composição específica
  Brasil. O acompanhamento do cresci-          para as necessidades nutritivas e o ritmo
  mento é a ação de saúde que mais repre-      de crescimento dos indivíduos da sua
  senta a garantia dos direitos da criança.    espécie (Tabela 1).
     Alimentação da criança
     A alimentação é um dos mais impor-
  tantes fatores responsáveis pelo cresci-
  mento do indivíduo. É fundamental que
  todos os que trabalham com crianças
  contribuam para que elas tenham acesso
  à alimentação em quantidade adequada,
  de boa qualidade, tanto no valor
  nutritivo como no aspecto de higiene.
  No início de sua vida, o alimento mais
  importante para a criança é o leite de
  sua mãe. Até completar 6 meses,
                                                                                                             Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi/Kit Família Brasileira Fortalecida/UNICEF




  o bebê não necessita de outro
  alimento ou líquido que não
  seja o leite materno. A partir
  daí, deve continuar sendo
  amamentado ao peito,
  mas com acréscimo
  gradativo de outros ali-


                                                                                                    35
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                                                          Cadernos Pedagógicos – volume 4



       Tabela 1 – Tempo para duplicação do                                possam causar reações alérgicas no seu
  peso de alguns animais                                                  organismo.
     Animal / Duplicação de peso
                                                                             Tabela 2 – Diferenças constitucionais
     Homem / 180 dias        Cavalo / 60 dias                             entre leites
     Vaca / 47 dias          Cabra / 22 dias                                                   Humano                  Vaca            Cabra
     Carneiro / 15 dias      Porco / 14 dias                               Energia (Kcal)          68                    68               72
     Gato / 09 dias          Cão / 09 dias                                 Proteínas (g/100ml)    1.2                   3.6              4.0
     Cobaia / 06 dias                                                      Gorduras (g/100ml)     3.8                   3.6              4.0
                                                  Fonte: Crespin, 1992.
                                                                           Lactose (g/100ml)      7.0                   4.5              4.0
                                                                           Minerais (g/100ml)     0.2                   0.7              0.8
     As vantagens do leite materno para                                                  Fontes: King, 2001; Wehba, 1991; Pernetta, 1979.
  o ser humano, em relação a outros
  tipos de leite, são numerosas e, entre                                     • Equilíbrio emocional – a amamen-
  elas, temos:                                                            tação possibilita o reforço do laço afetivo
                                                                          entre a mãe e a criança, proporcionando
     • Valor nutritivo – o leite materno                                  sensação de bem-estar para ambas.
  possui nutrientes na quantidade e na
                                                                             • Desenvolvimento – crianças ama-
  proporção ideais para o crescimento e o
                                                                          mentadas exclusivamente ao peito, nos
  desenvolvimento adequado da criança
                                                                          primeiros seis meses de vida, tendem a
  (Tabela 2).
                                                                          ser pessoas mais extrovertidas, confiantes
     • Digestão – devido à constituição                                   e inteligentes. Segundo alguns autores,
  adequada ao organismo do bebê, o leite                                  crianças alimentadas com leite materno
  materno é facilmente digerido, não                                      raramente apresentam, na idade adulta,
  provocando distúrbios digestivos como                                   distúrbios sexuais, tendência ao uso de
  diarréia ou “prisão de ventre”.                                         álcool, de outras drogas ou ao suicídio.
     • Imunidade – o leite humano possui                                     • Economia – o leite materno não
  substâncias e células que protegem o                                    precisa ser comprado, o que gera grande
  organismo do bebê das principais doen-                                  economia para a família.
  ças infecciosas que podem levar a graves
                                                                             • Praticidade – o leite materno já está
  conseqüências. Por isso, a criança que
                                                                          pronto e na temperatura ideal para o
  mama no peito raramente adoece.
                                                                          consumo da criança, dispensando gasto
    • Alergias – por ser produzido natural-                               de tempo para o preparo.
  mente para a criança, o leite materno
  não apresenta elementos estranhos que


36
Cadernos Pedagógicos – volume 4                              Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância


     • Anticoncepção – mulheres que ama-           Na impossibilidade do uso de leite
  mentam seus bebês, exclusivamente e          materno, recomenda-se algum tipo de leite
  durante os seis primeiros meses, têm pouca   de vaca (em pó) modificado, a chamada
  probabilidade de engravidar nesse período.   fórmula infantil. Está demonstrado que
                                               alimentação de crianças menores de um
     • Prevenção de câncer – a                 ano com leite integral (em pó ou ao natural)
  amamentação confere à mãe proteção           não-humano pode provocar anemias,
  contra o câncer de mama (antes da            distúrbios nos intestinos e nos rins, além de
  menopausa) e de ovário. Essa proteção é      alergias, devido à composição estranha ao
  tanto maior quanto mais
  longo é o período de
  amamentação.
      • Retorno à forma
  física – o início da
  amamentação precoce,
  isto é, logo após o nasci-
  mento do bebê, reduz o
  sangramento uterino pós-
  parto e facilita a perda de
  peso da mãe, acelerando
  o processo de retorno do
  corpo à forma física
  anterior à gravidez.
     A amamentação não
  apresenta desvantagens e
  suas contra-indicações
  são raras, limitando-se ao
  uso de alguns medica-
                                                                                                          Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi




  mentos pela mãe e para a
  mãe portadora do vírus
  da imunodeficiência
  humana adquirida (HIV).




                                                                                                      37
Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância                              Cadernos Pedagógicos – volume 4

  seu organismo. As modificações produzidas       ingredientes devem ser cozidos e
  industrialmente nesses leites visam à redu-     amassados. Evita-se o uso de liquidificador
  ção da ocorrência desses distúrbios.            para que o estímulo à mastigação não seja
                                                  prejudicado. A papa deve conter, pelo
      A partir dos seis meses de vida, a crian-   menos, um alimento de cada grupo
  ça, mesmo amamentada no peito, deve             (Tabela 3).
  começar a receber outros alimentos, pois a
  partir daí o leite, isoladamente, não conse-       Tabela 3 – Grupos de alimentos constitu-
  gue suprir suas necessidades energéticas.       intes da papa de hortaliças
  Não é recomendada a introdução de                   Grupo / Nutriente Básico / Fonte
  alimentos que não o leite materno antes do
  sétimo mês de vida, porque só a partir dessa       Cereais e Tubérculos(alimentos de base) /
  idade o organismo estará preparado para            Carboidratos / Arroz, batata inglesa, aipim,
  recebê-los e digeri-los sem sofrer danos.          maisena, farinha de trigo, farinha de
                                                     mandioca, fubá, macarrão, etc.
     Inicia-se com a introdução de uma
  refeição de frutas sob a forma de sucos            Carnes, vísceras, ovos, leguminosas /
  (em copo) ou papas, oferecidas com                 Proteínas, minerais (fósforo, ferro, zinco,
  colher, em quantidades crescentes, de              etc.) e vitaminas do complexo B / Proteína
  acordo com a aceitação da criança,                 animal: carne de vaca,frango, peixe, ovos.
  preferencialmente pela manhã. Deve-se              Proteína vegetal: feijão, ervilha, lentilha, soja.
  preferir frutas maduras, da região e da            Vegetal (verduras, legumes) / Vitaminas e
  estação, por se apresentarem em melho-


                                                                                                          Fonte: Ministério da Saúde, 1998.
                                                     minerais / Cenoura, vagem, beterraba,
  res condições de qualidade e preço. A              abóbora, chuchu, tomate, folhas verdes, etc.
  criança nessa idade já não acorda à noite
  para comer e solicita refeições em ritmo           Gorduras / Lipídios / Óleo vegetal (milho,
  de quatro em quatro horas.                         girassol, soja, arroz, algodão), margarina,
                                                     manteiga, etc.
     Para os que não são amamentados ao
  peito, a fórmula infantil deve ser substitu-
  ída por uma adaptada ao segundo se-
                                                          A proporção da mistura deve ser de
  mestre de vida.
                                                  três partes do alimento base (carboidrato)
      Após a aceitação das frutas, inicia-se a    para uma do alimento protéico e uma dos
  introdução da papa de hortaliças, oferecida     outros grupos (3:1:1). Os cereais devem ser
  com colher, em quantidades crescentes. Os       oferecidos, de preferência, na forma inte-
                                                  gral.



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Cadernos Pedagógicos – volume 4                                                                                   Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância

           À medida que a criança cresce e                                                              O sal e o açúcar devem ser evitados
            adquire dentes, os alimentos devem                                                       na dieta infantil ou, se adicionados, em
               ser preparados e cortados em                                                          quantidades mínimas.
               pedaços pequenos.
                                                                                                        Os ingredientes da dieta devem ser
                                                                        A partir de sete a oito      bastante variados para evitar monotonia
                                                                     meses, a criança deve comer     no sabor e fazer com que ela seja mais
                                                                     a papa de hortaliças em duas    nutritiva. Cada refeição deve apresentar
                                                                     refeições diárias (almoço e     alimentos de cores variadas.
                                                                     jantar).
                                                                                                        Ao completar um ano, a criança já
               Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi




                                                                          Os grãos de leguminosas,   tem condições de comer o alimento
                                                                     bem amassados, podem ser        habitual da família.
                                                                     incluídos aos oito ou nove
                                                                     meses. Antes dessa idade,          No segundo ano de vida, ocorre redu-
                                                                     utiliza-se o caldo das          ção natural do apetite. Isso se deve à
                                                                     leguminosas pela dificuldade    diminuição da velocidade de crescimento.
                                                                     de digestão da casca dos seus      A criança amamentada ao peito deve
                                                                     grãos.                          continuar com leite materno. Caso
                                                                        Ovo, pescados e tomate       contrário, já pode utilizar leite integral.
                                                                     são introduzidos na dieta a     Evita-se oferecer doces, guloseimas,
                                                                     partir dos nove meses, por      refrigerantes, alimentos em conserva,
                                                                     serem alimentos que provo-      enlatados e coloridos artificialmente,
                                                                       cam alergias em algumas       por conterem substâncias nocivas ao
                                                                       crianças predispostas.        organismo. O regime ideal segue a
                                                                                                     pirâmide dos alimentos.
                               Aos nove
                           meses, a criança                                                              Pirâmide dos alimentos
                           já é capaz de                                                                 Na sua base, temos as fontes de
  pegar os alimentos (pão, carne, biscoito,                                                          carboidratos complexos, que devem ser
  etc.) e leva-los à boca.                                                                           consumidos em maior proporção, e
                                                                                                     fibras. Esses alimentos são os cereais
      Quanto ao tempero da papa de horta-                                                            (principalmente integrais) e os tubérculos.
  liças, podem ser usadas ervas aromáticas                                                           No centro, as fontes de proteínas,
  (salsa, cebolinha, etc.), cebola e alho.                                                           vitaminas, minerais e fibras (vegetais),




                                                                                                                                                           39
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  • 1. O Cotidiano no Centro de Educação Infantil Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Brasília, janeiro de 2005
  • 2. Edições UNESCO Conselho Editorial da UNESCO no Brasil Jorge Werthein Cecilia Braslavsky Juan Carlos Tedesco Adama Ouane Célio da Cunha Comitê para a Área de Educação Alvana Bof Candido Gomes Célio da Cunha Katherine Grigsby Marilza Machado Regattieri Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, do Banco Mundial e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, nem comprometem as Organizações. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
  • 3. O Cotidiano no Centro de Educação Infantil Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 FUNDAÇAO MAURICIO SIROTKY SOBRINHO Organização: OMEP
  • 4. Organização: Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar – OMEP, Brasil Coordenação: Maria Helena Lopes Elaboração: Elizabeth Amorin, Halei Cruz, Loide Pereira Trois, Maria Helena Lopes Colaboração: Maria da Graça Horn, Vital Didonet Revisão Técnica: UNESCO (Alessandra Schneider), Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (Alceu Terra Nascimento, Jéferson dos Santos, Márcio Mostardeiro) Revisão: Ana Maria Marschall, Marise Campos Capa: Edson Fogaça Projeto Gráfico e Edição de Arte: Estúdio ADULTOS e CRIANÇAS CRIATIVAS © UNESCO, 2005 O Cotidiano no Centro de Educação Infantil. – Brasília: UNESCO, Banco Mundial, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, 2005. 94 p. – (Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância: Cadernos Pedagógicos; 4) 1. Educação infantil – Ensino de Ciências 2. Ensino de Ciências 3. Educação Pré-escolar – Ensino de Ciências I. UNESCO II. Série CDD 372 BR/2005/PI/H/5
  • 5. Sumário Apresentação ........................................................................................................... 7 Introdução ............................................................................................................... 9 Educar versus cuidar .............................................................................................. 11 Elizabeth Amorim Entrando em um novo mundo ................................................................................ 17 Elizabeth Amorim Agressividade e limites: possibilidades de intervenção............................................ 23 Loide Pereira Trois Saúde da criança.................................................................................................... 31 Halei Cruz Organização do tempo e do espaço ...................................................................... 51 Elizabeth Amorim A pedagogia de projetos e a mediação do educador .............................................. 61 Elizabeth Amorim e Maria Helena L opes Proposta pedagógica e relações centro infantil, família e comunidade .................... 75 Elizabeth Amorim e Maria Helena L opes Acompanhamento e avaliação das crianças no centro infantil ................................ 85 Elizabeth Amorim
  • 6. Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi
  • 7. Apresentação O novo ordenamento legal, inaugurado pela Constituição Federal de 1988, assegura à criança brasileira o atendimento em creche e pré-escola e, a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, a Educação Infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação Básica. Essa importante conquista nacional reitera um dos postulados da Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, no ano de 1990, de que a aprendizagem ocorre desde o nascimento e requer educação e cuidado na primeira infância. Nas últimas décadas, várias pesquisas têm demonstrado que os primeiros seis anos de vida de uma criança se constituem em período de intenso aprendizado e desenvolvimento, em que se assentam as bases do “aprender a conhecer”, “aprender a viver junto”, “aprender a fazer” e “aprender a ser”. O atendimento educacional de qualidade, nessa fase da vida, tem um impacto extremamente positivo no curto, médio e longo prazo, gerando benefícios educacionais, sociais e econômicos mais expressivos do que qualquer outro investimento na área social. Melhor desempenho na escolaridade obrigatória, menores taxas de reprovação e abandono escolar, bem como maior probabilidade de completar o ensino médio foram observados entre os que tiveram acesso à educação infantil de qualidade, quando comparados aos que não tiveram essa oportunidade. A freqüência a instituições de educação infantil afeta positivamente o itinerário de vida das crianças, contribuindo significativamente para a sua realização pessoal e profissional. Esse reconhecimento levou as nações a assumirem em Dacar, em 2000, entre os compro- missos pela Educação para Todos, a meta de ampliar a oferta e melhorar a qualidade da educação e dos cuidados na primeira infância, com especial atenção às crianças em situação de vulnerabilidade. Essa é uma das seis metas expressas no Marco de Ação de Dacar, do qual o Brasil é um dos signatários, sendo a UNESCO a instituição das Nações Unidas que tem, entre suas atribuições, a de apoiar os países no cumprimento dessa agenda. Em 2003, a Representação da UNESCO no Brasil, o Banco Mundial e a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho firmaram parceria para a realização do Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância em alguns estados do País. Esse desafio foi lançado pelo Banco Mundial e prontamente acolhido pela UNESCO e pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, que com- partilham a firme convicção de que garantir uma educação de qualidade desde os primeiros anos de vida é um dos mais importantes investimentos que uma nação pode fazer. O Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância tem como principal objetivo a qualifica- ção do atendimento em creches e pré-escolas, preferencialmente da rede privada sem fins
  • 8. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 lucrativos, isto é, de instituições comunitárias, filantrópicas e confessionais que atendem crianças em situação de vulnerabilidade social. A principal estratégia do programa é a formação em serviço dos profissionais de Educação Infantil, considerando que a qualificação do educador é reconhecidamente um dos fatores mais relevantes para a promoção de padrões de qualidade adequados na educação, qualquer que seja o nível, a etapa ou a modalidade. No caso da Educação Infantil, em que o profissional tem a dupla responsabilidade de cuidar e educar bebês e crianças de até seis anos, sua formação é uma das variáveis que maior impacto causa sobre a qualidade do atendimento. A série Fundo do Milênio para a Primeira Infância – Cadernos Pedagógicos constitui-se em importante recurso à formação continuada dos educadores. Seus quatro volumes, a saber, Olha- res das Ciências sobre as Crianças; A Criança Descobrindo, Interpretando e Agindo sobre o Mundo; Legislação, Políticas e Influências Pedagógicas na Educação Infantil e O Cotidiano no Centro de Educação Infantil, apresentam as principais temáticas relativas à aprendizagem e ao desenvolvimento infantil. Pretende-se, portanto, que o presente volume e os demais dessa série constituam-se em importante ferramenta de trabalho para os profissionais da área de Educação Infantil, proporcionando o acesso a novos e atualizados conhecimentos, a reflexão crítica e a construção de práticas inovadoras àqueles que têm em suas mãos a difícil e apaixonante tarefa de educar nossas crianças. Desejamos, ainda, compartilhar essa realização com a Organização Mundial de Educação Pré-escolar (OMEP – Porto Alegre), reconhecendo sua colaboração inestimável, e com os Empre- endedores Associados ao Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância, que comungam conosco a visão de que os primeiros anos de vida valem para sempre e de que a educação de qualidade, desde a mais tenra infância, é fundamental para a construção de um Brasil mais desenvolvido, mais humano e socialmente mais justo. Jorge Werthein Vinod Thomas Nelson Pacheco Sirotsky Representante da UNESCO no Brasil Diretor do Banco Mundial no Brasil Presidente da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho 8
  • 9. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância toda essa curiosidade, dessa avidez pela ntrodução descoberta, pela surpresa e pela alegria, as crianças abrem-se como pequenos Convidamos todos vocês a percorrerem “girassóis”, receptivas a tudo e a todos, conosco um espaço muito importante, que buscando a riqueza da luz. Ao recebê-las, chamamos “Educação Infantil”. São cami- o que precisamos é redescobrir com elas nhos que passam por diversas abordagens o ser poético, a espontaneidade, a capa- dos conteúdos de Educação Infantil, cidade de filosofar sobre as coisas e oferencendo aos educadores várias reconhecer suas diferenças e peculiaridades. possibilidades de despertarem para a sensibilidade e a sabedoria das crianças. Assim, elas nos sensibilizarão ao retorno à natureza, à alegria do jogo, do brincar e É um trajeto interessante, vivo e da poesia. Nós lhes daremos a certeza comprometido com a reflexão inteligente, de que trabalharemos pela defesa com a disposição afetiva e com o desejo de seus direitos. de tentar vencer os obstáculos. Por elas, abriremos o livro da história e Nosso veículo será a leitura de alguns das tradições. Partilharão conosco do textos importantes, que terão como centro mundo, serão também artífices da a Educação Infantil e as ações e vivências manifestação cultural e construtoras de que podemos realizar com nossas crian- sua própria história. ças. Muitos desses assuntos já são conhe- cidos, mas uma releitura sempre traz Com elas, novidades, assim como uma viagem em construiremos um Foto: Sebastião Barbosa boa companhia. Na busca do melhor futuro mais feliz, convívio possível, vamos nos envolver em porque através do reflexões sobre algumas teorias deslumbramento importantes, que nos auxiliarão a repen- de seu olhar sarmos melhor as práticas com as crianças. reencontraremos a pureza de nossa alma e a certeza do profundo e transcendente Para que isso se torne realidade, temos milagre da vida. que aprender a observá-las e a ouvi-las, pois, quando se expressam, querem Contamos com a parceria de todos sempre nos contar coisas e nos questionar. nessa desafiadora aventura pelo espaço muito especial que envolve a criança que Que mundo é este que nos recebe? nos é confiada na maior parte de seu dia. Como são as pessoas? O que é a natureza? Quem sou eu? E muito mais. Diante de 9
  • 10. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Para transitar pelos caminhos da infância, é preciso ter um olhar atento, pisar com suavidade, reconhecer seu espaço e abraçar seu tempo. Tudo isso porque fazemos parte de seu mundo. Somos responsáveis pelas crianças, por sua alegria, e cabe-nos orientá-las para jogar o jogo da vida. Para seguir suas trilhas, temos de conhecer seus anseios, identificar suas carências e apresentar-lhes ricas possibilidades. É preciso projetar alternativas criativas e oferecer-lhes um caminho seguro em direção à felicidade. Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi 10
  • 11. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância ducar versus Cuidar Mesmo hoje, ainda vemos nomenclatu- ras distintas para atendimento de 0 a 3 Elizabeth Amorim anos e de 4 a 6 anos. Por isso, nos per- Bebê guntamos: por que creche e pré-escola, e Coisinha deficiente, inconsciente, inerme, não somente educação infantil? Por que inválida, trabalhosa, querida. reafirmar essa divisão, se o que Mário Quintana – Na volta da esquina desejamos é exatamente o contrário? Eu educo ou cuido? Cuido e educo? Na realidade, a educação infantil Afinal, qual é o meu papel? atende crianças de 0 a 6 anos, e é isso que interessa. Crianças de origens diferen- Provavelmente você já se questionou ciadas, mas que têm em comum o “ser frente a essa dúvida, principalmente se criança”, que se assemelham em algumas atende crianças até a faixa etária características e que brincam, inventam e dos 3 anos. sonham. Por muito tempo, a ênfase no cuidado Felizmente, os avanços nos estudos dominou o atendimento nos programas referentes à aprendizagem e ao de creches, enquanto os programas pré- desenvolvimento infantil comprovam escolares tinham o enfoque educacional ser a criança uma curiosa exploradora como predominância; portanto, o “divór- do mundo físico e social. Desde bebês, cio” entre educar e cuidar apresenta longa tradição no atendimento infantil. Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi / Kit Família Brasileira Fortalecida / UNICEF 11
  • 12. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 as crianças são capazes de estabelecer Isso significa, em outras palavras, que relações significativas com os adultos e cuidar inclui também preocupar-se com a os companheiros numa variedade e organização do Centro Infantil, de seus complexidade bem maiores do que o horários, de seus espaços e dos materiais. constatado no passado. Igualmente Isto é, que seja um ambiente acolhedor e percebemos a criança como um ser agradável, seguro e alegre, que possa global, sejam quais forem as oferecer experiências ricas e adequadas circunstâncias e situações, para as crianças que ali convivem diaria- independentemente de classe social, mente. O ambiente e os momentos po- raça ou quaisquer outras diferenças. dem ser planejados de modo que oportunizem autonomia nas rotinas, A relevante integração entre educar como vestir-se e despir-se, proceder à e cuidar lembra-nos que as atividades higiene das mãos e da boca, alimentar-se, rotineiras também auxiliam na constru- etc. Cabe ao educador identificar em ção da identidade de uma criança. O cada uma dessas ações de cuidados as que essa integração – educar e cuidar – inúmeras possibilidades educativas. Por na realidade quer enfatizar é a relevân- exemplo, nessas ações que citamos, as cia e o direito da criança de ser crianças estarão experimentando a consis- educada e cuidada. Não existe uma tência dos materiais de higiene, a leveza forma de atendimento que dicotomize das roupas e a espessura dos panos, as o cuidar do educador na Educação cores e os sabores dos alimentos. Infantil. Deve haver uma perfeita sintonia entre o adulto – educador e Os cuidados com a saúde (higiene, cuidador – e a criança a ser educada e alimentação, crescimento e desenvol- cuidada. Assim, em estado de vimento) são também educativos, harmonia, os momentos vividos serão constituindo-se em funções a serem prazerosos e promoverão múltiplas vivenciadas e executadas por crianças e aprendizagens, motivo pelo qual se faz educadores. necessário proporcionar envolvimento e atividades compartilhadas, em que Todos os momentos vividos pela ora a iniciativa é do adulto, ora é da criança são educativos, na medida em criança. A maneira de pensar e agir que ela está constantemente aprenden- que associa cuidado e educação preci- do, através da sua interação com o meio sa permear todo o projeto pedagógico que a rodeia. Dessa forma, as dimensões dos centros infantis. do cuidado relativo à alimentação, ao sono, à higiene, à saúde, etc., são educativas sim! 12
  • 13. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Quando trocar a fralda de um bebê, atendidos em suas necessidades básicas e por exemplo, é importante conversar de afeto. A educação e o cuidado são com ele, pois os olhos se encontram, há uma necessidade e um direito da criança toque, sensação tátil e movimento; este é primeiramente, mas também das famílias um momento de interação, momento de que depositam confiança no trabalho que vínculo e aprendizagem. Por outro lado, os centros realizam. quando você está com um grupo na faixa etária de 4 a 5 anos realizando a higiene A maneira como você recebe, todos os que antecede o lanche, há diálogos dias, cada criança e tudo o que acontece sobre esse momento e sua necessidade, com vocês até a hora da saída são igualmente o contato com a água, vivências que contribuem para o desenvol- quente ou fria, a fricção com a toalha. vimento infantil, são geradoras de Novamente este é um momento conhecimento e, portanto, educativas. educativo! Então, o conjunto de todas essas experiên- cias que se interpenetram são, E o lanche então! Rico encontro social intrinsecamente, educação e cuidado. e de aprendizado em que partilhamos, vemos se há comida para todo mundo, diferenciamos alimentos, comparamos, classificamos e assim por diante. Outro aspecto importante a destacar é a expectativa que as famílias têm ao deixa- rem seus filhos nos Foto: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi Centros Infantis. Almejam uma educação de qualidade, que promova o desen- volvimento cognitivo e social, mas também esperam que seus filhos sejam bem cuidados e 13
  • 14. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Nesse contexto, podemos hoje supe- reciprocidade e da complementaridade rar a cisão maléfica na atuação com a existente entre tudo e todos. criança; na realidade, jamais deveríamos utilizar separadamente esses dois termos Concluindo – ou resumindo – as e, por conseqüência, o sentido deles. idéias aqui expostas, reiteramos enfati- No educar, está “embutido” o cuidar, camente a necessidade de se ter claro pois a instituição infantil possui um i- que, na instituição infantil, todas as nequívoco caráter educacional, mesmo tarefas, brincadeiras e atividades porque a criança tem não somente ne- realizadas têm valor educativo e cessidade, mas também direito de ser envolvem cuidado. cuidada e educada. Referências Bibliográficas Definitivamente, devemos tirar de AMORIM, Elizabeth. A dimensão do cuidado essencial no fazer pedagógico infantil como exigência primeira na construção da nossas mentes a dicotomia educar/cui- cidadania planetária. Dissertação de Mestrado. São Leopoldo, dar; somente assim não mais a verba- Faculdade de Educação da UNISINOS, 2002. lizaremos e, o que é mais importante, BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 6.ed. Petrópolis Vozes, 2000. estaremos integrando cuidado e edu- CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: cação em nossos fazeres cotidianos. Gente, 2001. DIDONET, Vital. Não há educação sem cuidado. Porto Alegre, Sedimentando o que até agora discuti- Pátio Educação Infantil, n.1, . p. 6-9 abr/jul. 2003. HADDAD, Lenira. A ecologia do atendimento infantil: mos, não podemos deixar de conceituar o construindo um modelo e sistema unificado de cuidado e cuidado na sua dimensão maior, que o educação. Tese de Doutorado. São Paulo, Faculdade de Educação da USP, 1997. designa não como um ato isolado, mas, KULISZ, Beatriz. Prática pedagógica na educação infantil: antes, como uma atitude de zelo, preocupa- indicações para a construção de um referencial pedagógico. ção, responsabilidade e envolvimento afeti- Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, Faculdade de Educação da PUCRS, 2001. vo. Ou seja, o cuidado envolve atenção e ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. A necessária associação afeto, pois somente cuidamos daquilo que entre educar e cuidar. Porto Alegre, Pátio Educação Infantil, n.1, p.10-12, abr./jul. 2003. gostamos e desejamos preservar. O cuidado encontra-se na base da constituição do homem, já que sem ele não seríamos humanos. Implica aconche- go, afeto, ternura, sintonia e, sobretudo, implica valorizar e importar-se, com o outro e com o mundo, não focando so- mente o valor utilitário, mas primordial- mente a dimensão do respeito, da 14
  • 15. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Atividades de Estudo e “Por sua própria natureza, cuidado inclui Aprofundamento duas significações básicas, intimamente Maria Helena Lopes ligadas entre si. A primeira, atitude de desvelo, de solicitude e de atenção para com “... gostaria de propor uma reflexão o outro. A segunda, de preocupação e de interessante. Na época em que vivemos, em inquietação, porque a pessoa que tem que a maior ou menor oportunidade de cuidado se sente envolvida e afetivamente acesso ao conhecimento define muitas vezes ligada ao outro.” o futuro de uma pessoa, as atividades de Leonardo Boff cuidado assumem cada vez mais uma posição de destaque. As máquinas e os robôs • Quais são as possibilidades educa- puderam substituir o ser humano em várias tivas das crianças ao serem atendidas em tarefas, mas não nas de cuidado! O setor no suas necessidades de alimentação, qual mais crescem as oportunidades de higienização, repouso, lazer e afeto? emprego é o de serviços. E a competência neles exigida envolve também delicadeza e cuidado no trato. Outros setores que apresentam acentuado crescimento dizem respeito diretamente ao cuidado das pessoas Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi e do ambiente ecológico. Cabe, então, a pergunta: será que estaremos preparando um futuro melhor para nossas crianças se deixarmos o cuidado de fora das tarefas educativas em nossas creches e pré-escolas?” Maria Clotilde Rossetti-Ferreira (2003, p. 12) • Debata com seus colegas a citação acima, relacionando-a com as idéias do texto Educar versus Cuidar. A partir das idéias levantadas com o grupo, responda à pergunta que finaliza a citação. 15
  • 16. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Foto: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi 16
  • 17. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância mesma, de acordo, é claro, com o seu ntrando em um Novo desenvolvimento. Sendo assim, será vá- Mundo lido denominarmos como adaptação o Elisabeth Amorim tempo referente aos primeiros dias do ingresso da criança na instituição Conceitos1 infantil? Adaptar: amoldar, apropriar, O que realmente desejamos desse conformar. momento de transição: que a criança se Adaptado: acomodado, amoldado, molde ao meio, ou que se integre, ajustado. sentindo-se parte dele? Integrar: tornar-se inteiro; com- pletar, integrar, integralizar; juntar-se É tempo de parar, parar e refletir sobre tornando-se parte integrante, reunir-se, em que ideário estamos alicerçados... incorporar-se. Integrado: diz-se de cada uma das “Com freqüência ‘deixar a casa’ é uma partes de um todo que se completam experiência mais forte do que ‘entrar na escola’.[...] Existe muito pouco crescimento se ou se complementam. não há algum tipo de sofrimento ou ansiedade. Não poderíamos, neste momento, Quando damos um passo à frente, para um deixar de refletir sobre os termos novo estágio ou desafio, deixamos, mencionados, já que trataremos sobre a necessariamente, algo para trás. Sem esses altos e baixos a vida seria plana e as pessoas adaptação da criança à instituição não se desenvolveriam. Quanto mais jovem for infantil. o indivíduo, mais ajuda ele precisará ter para Muitas vezes, e esta é uma delas, seguir em frente sem maiores sofrimentos.” utilizamos palavras sem realmente nos Nancy Balaban aprofundar sobre os seus significados e, A separação é uma experiência que conseqüentemente, se ela é adequada à ocorre em todas as fases da vida huma- situação. na. Ela começa quando o bebê deixa o O termo adaptação é o mais indicado conhecido e aconchegante útero mater- ao período a que nos referimos? É sabido no e entra em um mundo de sons, luzes que a educação infantil tem a autonomia e contatos. Daí em diante, ela se encon- como um de seus pilares, pois oferece tra no aprender a andar, no dormir na situações para que a criança aja por si casa dos avós, na entrada na escola, na briga com o(a) namorado(a), no casa- 1 Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s.d. 17
  • 18. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 mento e em inúmeras outras situações. É ponto pacífico a forte e profunda vinculação mãe/filho; por isso, Gilda Em todas esses acontecimentos, há o Rizzo (2000) afirma que o período de abandono de um território familiar e o integração “envolve muitos fatores e o ingresso no desconhecido, no novo sentimento de, pelo menos, duas pes- ainda não experimentado. Também não é soas: mãe e filho”, acrescentando ainda assim o que acontece conosco cada vez que “o nível de segurança afetiva de uma que uma turminha nos “deixa” e entra criança é muito dependente do nível de outra, ainda por nós desconhecida? segurança afetiva básica da mãe”. Como será cada criança, como reagirá ao ambiente e a mim? Como EU reagi- A integração de um bebê até em rei? Terei a sensibilidade necessária? É o torno de 7 ou 8 meses é, normalmente, que nos perguntamos. tranqüila, pois ainda não entrou na cha- mada época do “estranhamento” a am- Por isso, os dias iniciais na instituição bientes e pessoas. Então, é a mãe que infantil exigem sempre um esforço de “se integra”, passando alguns períodos integração conjunta da instituição, da observando como as crianças são atendi- família e da criança. Até esse momento, das nos diferentes momentos pela equipe habitualmente a criança conviveu basi- do berçário. camente com sua família e no cotidiano somente com as pessoas de sua casa. No A partir dessa idade, é comum as crian- lar, além da segurança da forte ças reagirem a novos ambientes; as carac- vinculação afetiva, há também a segu- terísticas individuais nortearão as rança do lugar conhecido, que pode ser diferentes reações que devem ser respeita- explorado a todo momento, tanto os das, bem como a busca de alternativas cômodos quanto os objetos. facilitadoras deve estar presente, porque precisamos lembrar que, até esse momen- Já na instituição infantil tudo é novo e, to, o parâmetro da criança era a família, por conseqüência, desconhecido: mudam seus hábitos e comportamentos. Dessa o espaço, a rotina, as pessoas... A criança forma, ela espera que você aja e tenha as passa a conviver com mais adultos e crian- mesmas reações dos adultos que ela co- ças em um ambiente estranho. O novo nhece, principalmente dos pais. Leva mundo afeta também sua família, que sofre tempo para as crianças perceberem que com esse processo de encaixar horários, adultos diferentes se comportam de mudança de rotina e questionamentos maneira diferente, e também demora um sobre como a criança será atendida. pouco para elas diferenciarem o que 18
  • 19. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância acontece em casa daquilo que acontece O vínculo com a educadora, nesses no centro infantil. primeiros dias, é o objetivo primordial, visto ser através dele que a criança se Para a criança, as regras e os compor- sentirá segura para interagir nesse novo tamentos familiares são universais; então, mundo. É você quem vai auxiliar cada causa estranheza, por exemplo, poder criança a familiarizar-se com o novo sujar as mãos se em casa não pode ou, ambiente, seus hábitos e rotinas, é ainda, você agir de forma diferente de você que, através de demonstrações de sua mãe. Por isso, é necessário “avaliar” segurança e tranqüilidade, mostrará todo o ambiente que a cerca – humano e que ela é aceita, respeitada e entendida físico – e essa “avaliação” é realizada de nesse meio que, apesar de novo, é acordo com a maneira como cada organizado e preparado para ela. criança reage a situações novas. É por tudo isso que, no livro O início Esse novo mundo – o centro infantil – da vida escolar, Nancy Balaban diz que traz curiosidade, expectativa, inseguran- as crianças sentem-se estranhas num ça e, às vezes, muito medo! Será que vão saber cuidar de mim? E se eu ficar doente? Se eu cair? Se a mamãe não vier me buscar? Se eu fizer xixi nas calças? Se eu não quiser comer? Quem Foto: Unicef sabe que eu não gosto de beter- raba ou de abó- grupo novo que é diferente do seu grupo bora? Na verdade, são muitos “se”, são familiar e no qual elas não têm um status várias e diferentes dúvidas que, consci- especial. Nesse local, talvez só você, ente ou inconscientemente, causam educadora, saiba seus nomes, e ninguém grande apreensão! realmente gosta ou não delas de alguma 19
  • 20. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 maneira especial. Elas “não têm o seu fase muitas vezes é confuso, pois, lugar natural nesse grupo, mas vão ter mesmo percebendo que essa transição é que conquistá-lo através de seu compor- necessária e boa para a criança, sentem- tamento. Embora elas ainda não saibam se culpados, com sensação de perda e disto, é provável que o sintam”. apreensivos por entregarem o que eles têm de mais precioso a pessoas que, até Como vimos, as crianças reagem aquele momento, ainda são estranhas. diferentemente umas das outras: algumas Por isso, os pais precisam ser igualmente mostram-se desconfiadas, ou choram, ou atendidos nessa fase de transição, devem não aceitam contato; outras ingressam perceber que o centro infantil – e princi- querendo explorar todo o ambiente, ou palmente você – entende que vários tentando deter-se em tudo ao mesmo tipos de emoção estão aí envolvidos e tempo. que é impossível compreender os senti- Essa transição e o estabelecimento de mentos da criança sem avaliar simultane- confiança é gradativo, motivo pelo qual, amente os sentimentos deles, uma vez durante os primeiros dias, é aconselhável que este é um acontecimento significati- que a criança permaneça por um perío- vo para ambos. do menor do que o normal na institui- A reação da criança está muito ligada ção. Esse tempo vai sendo prolongado ao estilo de vida de sua família, bem gradativamente, à medida que você como ao tipo de relações dos adultos percebe que a criança tranqüiliza-se e que a rodeiam e, principalmente, à sua age com maior naturalidade. relação com a mãe. Também a maneira Dentro do possível, é importante a como a mãe encara essa separação presença familiar – principalmente a influencia de forma direta o comporta- materna – no ambiente da instituição mento da criança: se ela tem pena, medo durante esse processo, o que permite não de dividir, ou fantasias em relação a somente maior segurança para a criança, como seu filho será tratado, com certeza como também à família conhecer melhor dificultará o processo. o local e a educadora. O comportamento Quando há um bom nível de segu- familiar nesse momento é fundamental, rança emocional, isto é, se a criança pois, com já dissemos, ele será um dos estabeleceu uma relação de confiança parâmetros percebidos pela criança. com a mãe, ela consegue, gradativa- Os sentimentos dos pais durante essa mente, ficar afastada dela sem ter medo de perdê-la. Tranqüilidade e 20
  • 21. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância segurança, sem sentimento de culpa, é a “Vai aqui este pedido aos professores, pedido conduta indicada, e a instituição deve de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das encontrar-se permanentemente à disposi- crianças: lembrem-se de que vocês são ção para esclarecer dúvidas e anseios. Por pastores da alegria e de que sua responsa- isso, o período de integração deve ser bilidade primeira é definida por um rosto cuidadosamente planejado para que que lhes faz um pedido ‘Por favor, me ajude sejam construídos a confiança e o conhe- a ser feliz...’” cimento mútuos. É desse modo que Rubem Alves acontece o estabelecimento de vínculos Referências Bibliogáficas afetivos entre as crianças, as famílias e os educadores. BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da separação à independência. Porto Alegre: Artmed, 1998. Assim, é permitido à família CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001. conscientizar-se de que a instituição está OLIVEIRA, Zilma de Moraes (Org.) Educação infantil: muitos habituada com esse momento e as educa- olhares. São Paulo: Cortez, 1994. OLIVEIRA, Zilma de Moraes et al. Creches, faz-de-conta e cia. doras, aptas a controlar as situações que 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1992. surgirem. Essa parceria torna o processo de RESTREPO, Luis Carlos. O direito à ternura. Petrópolis: Vozes, 2000. transição não somente mais tranqüilo, mas, RIZZO, Gilda. Creche: organização, montagem e funcionamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. sobretudo, representa o início de uma desejada, agradável e gratificante caminhada. Foto: Sebastião Barbosa 21
  • 22. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Atividades de Estudo e Aprofundamento Elisabeth Amorim “O vivido só se torna recordação da lei da narração(...). E aí se torna outra vez vivo, aberto, produtivo. A memória que lê e que conta é a memória em que o ‘era uma vez’ converte-se em um ‘começa’!” Jorge Larrosa • Você se lembra do seu primeiro dia na escola? Quais eram os sentimentos: ansiedade, medo, expectativa, excitação? A lancheira foi aberta? Como era a edu- cadora? O que marcou em você? Se você não se lembra desses detalhes, pergunte a seus pais como foi. • Recorde, através da narração, algum fato ou situação em que sua vida Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi sofreu mudança e, portanto, o novo e o desconhecido foram enfrentados. Quais foram os sentimentos e as reações? • Cite alguns procedimentos indicados para o período de integração da criança ao Centro Infantil. 22
  • 23. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância de toda pulsão, de todo impulso, gressividade e Limites: constituindo nossos instintos de possibilidades de autopreservação, instintos sexuais, de intervenção destruição e de todo desejo. São as pulsões de vida e de morte que constitu- Loide Pereira Trois em a natureza humana. Todos os indiví- duos possuem instintos agressivos que se “É necessário que o adulto entenda, aceite e desenvolvem à medida que crescemos e valorize que a criança, ao brincar, necessita derrubar a torre de blocos de montar para interagimos com o nosso meio ambiente. que assim possa valorizar a sua própria Esses impulsos podem ser observados em capacidade de construir e errar.” nossos comportamentos e atitudes, mas Donald Winicott sua origem não é consciente, ou seja, fazem parte de nosso psiquismo, do Para que possamos entender as dife- nosso inconsciente. rentes manifestações da agressividade, é importante considerar que o erro faz É importante destacar que os impulsos parte de toda aprendizagem. Assim, para agressivos são constituintes de nosso montar uma torre de blocos, teremos desenvolvimento humano e que, por isso, que aprender a derrubá-la e ir refazendo não podem ser analisados como patológi- esse gesto até a descoberta da cos. Cabe aqui diferenciarmos as manifes- construção desse novo conhecimento. tações da agressividade e o ato agressivo. Partimos, então, da noção de que, ao longo do desenvolvimento humano, existem momentos de acerto e de erro na construção de nossos valores e con- Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi ceitos. O elemento fundamental nesse processo é a crença em nossa própria capacidade de superar conflitos e crescer com os desafios que nos são colocados. Conforme Sigmund Freud, grande pensador que estudou e desvendou a psique humana e nos deixou como legado a descoberta da noção de inconsciente, a agressividade faz parte 23
  • 24. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 O ato agressivo dificulta a nossa ser atendido em suas necessidades vitais. capacidade de pensar, indicando riscos Posteriormente, a criança passa a explorar para nossa aprendizagem. Por trás de um mais ativamente o meio em que está ato agressivo não existe uma intenciona- inserida e, assim, puxa, empurra, bate, joga lidade hostil consciente da criança; ao objetos que estão ao seu alcance para contrário, ela está nos mostrando que conhecer e aprender sobre os mesmos. algo não vai bem, que ela não está con- seguindo lidar com seus impulsos agres- Numa etapa seguinte, surgem as sivos de maneira sadia, ou seja, é um mordidas, um período maturacional da pedido de ajuda para que o outro lhe criança que é percebido pelo apareci- mostre um modo de veicular sua energia mento dos dentes e sua conseqüente uti- de forma construtiva. É uma energia pul- lização: ela morde pela necessidade de sional que necessita ser canalizada para saciar sua ansiedade. Por volta dos 2 anos, fins socialmente aceitos e produtivos a criança inicia seu processo de controle para que ocorra um crescimento pessoal esfincteriano, que vai se consolidar por e aprendizagem. volta dos 3 anos, período em que os im- pulsos agressivos são manifestados através Se afirmamos que uma criança é agres- da produção dos excrementos (fezes e u- siva, estamos considerando que esta é uma rina), e a criança tenta controlar o meio característica e um traço da identidade que a cerca. dela e impedindo a percepção de que a criança está em formação e que, portanto, A partir dos 4 ou 5 anos, vemos que os trata-se de características que podem ser impulsos agressivos são direcionados à transitórias em seu desenvolvimento. figura dos adultos como desafio a autori- Desse modo, a criança está agressiva por dade, ou seja, é uma fase de “ teste”, na alguma causa e pode cometer atos qual a criança passa a questionar os limi- agressivos que posteriormente poderão ser tes de suas ações. Os impulsos agressivos reparados em seu comportamento. são manifestados através de várias atitu- des que interpelam a capacidade de to- Vejamos como se manifestam os impul- lerância, paciência e firmeza da figura de sos agressivos ao longo de nosso desenvol- autoridade evocada. Como resultado des- vimento humano. Inicialmente, os nossos sa fase, temos a formação do sentimento impulsos agressivos são manifestados de respeito e a noção de limite interna- através de nosso instinto de sobrevivência. lizada pela criança. Podemos perceber O choro do bebê apresenta seu estado de que os impulsos agressivos estão presen- desconforto, desprazer (dor, frio) ou neces- tes e vão evoluindo ao longo de nosso sidade nutricional (fome): ele chora para desenvolvimento. Uma vez que esses 24
  • 25. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância impulsos sejam canalizados e desviados Se como educadores não somos para outros fins, intensificando sua ma- capazes de elaborar perguntas, formular nifestação, passam a ser considerados e hipóteses e usar a nossa criatividade transformados em agressão ou ato frente à agressão da criança, frente à agressivo. situação que deu origem a esse ato, é o próprio educador que está se agredindo Como educadores, conhecemos bem o por estar se considerando incapaz e que se sente diante de um ato agressivo. impedindo seu próprio crescimento Vivencia-se sentimentos de angústia, de diante desse desafio. dor, de não saber. O fundamental, nesse momento, é tomar distância do ocorrido e É importante que possamos estabele- tentar escutar o que a criança está cer laços afetivos seguros e verdadeiros querendo dizer em cada chute, em cada com as crianças, compreendendo-as até empurrão, em cada palavra ou gesto. mesmo em suas reações agressivas. Nessa compreensão, não se trata de É preciso se descentrar e incluir o “deixar assim mesmo”, “esperar passar” pensamento como um terceiro termo ou sentir pena da criança, mas entre o educador e a criança. Desse justamente confiar na sua capacidade de modo, estaremos possibilitando um espaço de indagação e questionamento sobre o ato formulando perguntas, co- mo: a quem essa criança agride quando Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS/Gian Calvi me agride? Quando um aluno enfrenta agressiva- mente o educador, e este pensa que a a- gressão é para ele, está colocando-se num nível imaginário a partir do qual só vai aumentar a atuação agressiva da criança, impedindo a formação de um espaço de diálogo e reflexão. É preciso ter em mente que a criança está agredindo através de mim outras situações presentes e passadas na sua história. É necessário, para compreender essa ação, descobrir a que ações, a que atitudes essa agressão se dirige. 25
  • 26. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 resolver o conflito, de superar esse pro- As saídas para as situações de agres- blema no amparo seguro da relação são são complexas; no entanto, a resolu- afetiva com o educador. ção da agressão através de outra agressão favorece a manutenção do comporta- A noção de limites se coloca através mento agressivo. As punições e coações da formação do sentimento de respeito à abusivas do adulto diminuem o comporta- figura de autoridade e da aposta na mento agressivo temporariamente, capacidade de reparação do erro. reaparecendo-o em contextos diferentes e, O importante é fazer com que a criança muitas vezes, com mais intensidade. retire dessa situação elementos significati- Somos adultos, mas a criança de vos para sua aprendizagem, repare o erro, nossa infância habita dentro de nós e, procure tomar mais cuidado e atenção da por vezes, precisamos revisar nossas próxima vez para que não volte a repetir o próprias convicções morais, éticas, e ato agressivo. Assim, estamos conduzindo pensar sobre a forma como fomos a criança a pensar sobre seus atos e modifi- educados, como vivemos nossa car suas atitudes pela reflexão e pelo infância, buscando qualificar a nossa entendimento do que ela mesmo faz e formação pessoal e transformar a nossa provoca. ação educativa. As atitudes de repressão, castigo O educador é modelo, é uma refe- ou humilhações apenas provocam um rência estruturante para a criança. As sentimento de desvalia e obediência crianças aprendem não apenas com o cega, sem a conscientização do ato que é dito, mas sobretudo com o que errado por parte da criança. Um outro vêem, com a coerência entre as ações sentimento freqüente diante de situa- e o discurso dos educadores; assim, ções de conflitos e brigas entre as quando apresentamos modelos pau- crianças, e para o qual devemos ter tados no diálogo, na cooperação, na bastante atenção, é quando uma crian- solidariedade, esses serão repetidos e ça agride outra pessoa. Por vezes, po- valorizados pela criança. Quando a demos nos identificar com o agredido criança aprende a resolver verbalmen- e tomar partido frente à agressão. te seus conflitos, explicando o que Aliando-nos com a pessoa agredida e aconteceu e entendendo os motivos e culpabilizando ao extremo a criança as conseqüências de seus atos, as envolvida, não estamos tomando dis- situações de agressão e os atos agres- tância e refletindo sobre o ato sivos diminuem. Nesse caso, é funda- agressivo, mas sim fechando uma mental que haja a valorização dessa interpretação. 26
  • 27. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância conquista, reforçando-se a aprendiza- gem da criança. Como educadores, temos a possibi- lidade de criar espaços de aprendiza- gem nos quais a agressividade possa se manifestar de forma sadia e equili- brada e nos quais os atos agressivos não sejam mais necessários. Acreditar em nossa capacidade de superar essas situações, tomando-as como desafios constantes em nosso fazer cotidiano, é acreditar em nossa capacidade de transformar e de educar. Referências Bibliográficas BIAGGIO, A. Psicologia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1985. DELL’AGLIO, D. Controle esfincteriano. UFRGS, 1993 (mimeo). FERNANDEZ, A. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporeidade e da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1993. FERNANDEZ, A. Agressividade: qual teu papel na aprendizagem? Revista Paixão de Aprender. MACHADO, M. C.; NOGUEIRA, N. Como lidar com a criança agressiva. Revista Nova Escola, n.4, 1986. REDL, F.; WINEMAM, D. A criança agressiva. São Paulo: Martins Fontes, 1985. Ilustração de criança do abrigo Maria Goretti / Colombia 27
  • 28. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Atividades de Estudo e Aprofundamento logo para a briga, empurra, joga objetos, Loide Pereira Trois bate ou chuta os colegas. Leia com atenção o caso relatado A intervenção da educadora, nessas abaixo. situações, é utilizar o diálogo e buscar, com ele, as explicações para seus atos Pedro é aluno de um Centro Infantil errados. Embora ele a escute e preste há três anos, sua adaptação foi bastante atenção em sua conversa, não consegue, tumultuada, não queria ficar no Centro posteriormente, cumprir exatamente o de Educação Infantil e nem separar-se de que foi combinado com ela e, algumas sua mãe, fato que a deixava muito ansio- vezes, explica à educadora: “eu não sa e insegura. Aos poucos, com a ajuda e consigo me segurar” . intervenção da educadora e dos demais integrantes da instituição, foi adaptando- se ao grupo e participando da rotina diária. Desse modo, foi aceitando melhor a separação de sua mãe e promovendo uma maior segurança e bem-estar a ela. A mãe do menino começou a ficar mais confiante em seu filho, aspecto que lhe era muito difícil, pois na maioria das vezes considerava-o frágil, com “muita dificuldade” e necessitando sempre de ajuda para fazer qualquer coisa. Após esse período de adaptação, o menino passa a participar ativamente das Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS/Gian Calvi atividades, entende a rotina diária, é interessado, discute suas idéias e brinca com todos os colegas; no entanto, quan- do é contrariado, fica irritado, muito furioso e não aceita nenhuma forma de negociação ou cumprimento das regras de convivência. Nesses momentos, cos- tuma reagir de forma impulsiva e parte 28
  • 29. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Responda e Registre • O que você pensa sobre as atitudes do menino? • Como podemos caracterizar o comportamento desse menino com relação à agressividade e aos limites? • Qual seria sua forma de atuação se fosses educador nesse caso? Leia com atenção a cena abaixo: Marcos e Pedro são colegas da escola e ambos tem 5 anos. Marcos é uma criança bastante ativa, interessada em conhecer o ambiente e aceita com muita facilidade desafios. Pedro não tem irmãos, mora com seus avós e adora brincar de jogar bola, subir em árvores, correr e superar limites. Numa tarde, na hora do pátio, quan- do estavam brincando de futebol, dispu- taram a bola para fazer o gol e acabaram se empurrando. Pedro ficou muito bravo e começou a gritar e a chutar Marcos. Marcos chorou muito e foi socorrido pela educadora que estava no pátio. Diante dessa cena do cotidiano e com base na leitura do texto, responda: • Qual seria a intervenção do educa- dor buscando promover a consciência do ato agressivo? 29
  • 30. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Foto: Sebastião Barbosa 30
  • 31. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância dessas populações, através da educação e do cuidado das crianças. aúde da Criança Halei Cruz Nessas ações estão incluídos alguns fatores que devem fazer parte da prática “São direitos fundamentais da criança dos responsáveis pela saúde infantil a proteção à vida e à saúde, mediante a dentro e fora de creches e centros de efetivação das políticas sociais públicas que Educação Infantil. permitam o nascimento e o desenvolvimento harmonioso, em condições dignas de Procuramos abordar, neste artigo, os existência.” conhecimentos fundamentais que dizem Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA respeito às medidas preventivas de risco à saúde das crianças, ao seu crescimento, Em primeiro lugar, pensar em saúde à alimentação e aos cuidados. infantil, principalmente na faixa de 0 a 6 anos, é caracterizar o cumprimento dos Precisamos conhecer e operar dentro direitos da primeira infância a uma vida do trinômio educação + saúde + assis- digna, feliz e saudável. tência social, com vistas a colaborar no desenvolvimento da criança com a maior É certo que já existem leis que qualidade possível . regulamentam os direitos das crianças e políticas intersetoriais que operam Nessa concepção, não há áreas estan- em seu favor. No entanto, há que se ques. Devemos considerar a saúde de considerar as grandes dificuldades a forma simultânea, como o conjunto de serem vencidas para que tais políticas ações nas quais estejam envolvidos os atendam, se não à totalidade, pelo programas de serviços sociais básicos de menos a maioria de nossas crianças. educação, assistência social, lazer e cultura. Muitas ações sociais ainda precisam ser desenvolvidas para que se dê plena O crescimento da criança garantia de saúde a um número significa- O crescimento, assim como o desen- tivo de crianças, principalmente àquelas volvimento, é o resultado de modifi- pertencentes às camadas mais carentes e cações estruturais e funcionais que que, em nosso país, representam um ocorrem no indivíduo desde a concep- número considerável. ção até a idade adulta. As instituições de Educação Infantil Muitas vezes, há confusão entre o assumem sua parcela de responsabilida- significado dos termos crescimento e de na tarefa de minimizar as carências desenvolvimento, mas cada fenômeno 31
  • 32. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 tem suas características próprias. En- indivíduo poderá crescer. quanto o crescimento se refere ao • Emocionais – o afeto, a atenção e a aumento das dimensões do corpo, o sensação de segurança favorecem o desenvolvimento significa aquisição de crescimento. habilidades como andar ou falar. O • Socioeconômicos – crianças que crescimento se deve ao aumento de vivem em ambiente de baixo nível socio- volume e do número de células do econômico tendem a apresentar atraso organismo, e o desenvolvimento decorre no crescimento. da maturação, da diferenciação e da • Nutricionais – a alimentação ade- capacidade de ação integrada dos quada fornece matéria-prima para o sistemas orgânicos. crescimento e a multiplicação das células. Todos os animais crescem e se • Neuroendócrinos – os sistemas ner- desenvolvem, mas no homem esses voso e endócrino (produtor de hormônios) processos ocorrem de forma mais lenta e são responsáveis pela regulação do funcio- complexa. Os fatores que interferem no namento do organismo. Desequilíbrios crescimento são: nesses sistemas produzem alterações no • Genéticos – determinam o poten- crescimento. cial de crescimento, isto é, o quanto o O crescimento se inicia a partir da fecundação, isto é, da união do espermato- zóide com o óvulo. O perío- do de cresci- mento da criança dentro do útero mater- no é chamado de período pré- natal e, após o nascimento, período pós- Foto: UNICEF natal. 32
  • 33. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância O período pré-natal compreende duas materna deficiente leva à maior probabi- fases: a embrionária e a fetal. lidade de nascimento de uma criança com baixo peso. Considera-se recém- Na fase embrionária, correspondente nascido de baixo peso a criança que ao primeiro trimestre da gravidez, o ser apresenta peso inferior a 2.500 gramas em crescimento é denominado de em- no momento do nascimento. Essas crian- brião. Nessa etapa, o crescimento é ças têm maiores chances de adoecer e lento, ocorrendo a diferenciação das até mesmo de morrer do que as crianças células para formar órgãos e sistemas. A que nascem com peso adequado. exposição do embrião a agentes externos, como radiação, infecções, uso O crescimento pós-natal se dá em de álcool, medicamentos e outras drogas quatro fases: pela mãe, pode levar à ocorrência de • Primeira Infância – do nascimento malformações que são alterações na aos 3 anos. É uma fase de crescimento estrutura e no funcionamento de órgãos. rápido, apesar de mais lento que na fase fetal. Nessa etapa, as carências Na fase fetal, correspondente aos nutricionais e as infecções constituem os segundo e terceiro trimestres da gesta- maiores riscos para a saúde e a vida das ção, há uma aceleração do processo de crianças. Se compararmos o crescimento crescimento. A criança em formação é do indivíduo em toda a sua vida, após o chamada, então, de feto. É a fase da vida nascimento, essa etapa é aquela em que em que o crescimento se faz com maior ele acontece com maior velocidade, velocidade e sofre grande influência do principalmente no primeiro ano de vida. estado nutricional da mãe. A alimentação Ao completar um ano, a criança triplicou Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi/Kit Família Brasileira Fortalecida/UNICEF 33
  • 34. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 o seu peso de nascimento e aumentou As crianças com atraso no crescimen- em 50% a sua estatura. to, ocasionado por fatores como desnu- trição ou infecções, tendem a apresentar • Segunda Infância – corresponde ao velocidade de crescimento maior que a período entre os 3 e os 10 anos. A esperada para a idade após a correção velocidade de crescimento se mantém daqueles fatores. Esse fenômeno é cha- constante e mais lenta que na fase anterior. mado crescimento compensatório e • Adolescência – correspondente ao ocorre até que a criança alcance o nível período entre os 10 e os 18 a 20 anos. que teria se não houvesse o atraso. É Há um período inicial de aceleração da observado, principalmente, nas crianças velocidade de crescimento (estirão abaixo de 2 anos. pubertário) cujo máximo se dá em torno O acompanhamento do crescimento dos 12 anos, para as meninas, e 14 anos, e do desenvolvimento da criança, nos para os meninos. A partir daí, a velocida- serviços de saúde, permite detectar de de crescimento diminui. precocemente, e assim tratar eficazmen- • Parada do Crescimento – ocorre te, problemas que podem comprometer, entre os 18 e os 21 anos, quando o muitas vezes de forma grave, a sua saúde indivíduo alcança o seu ponto máximo e o seu futuro. de crescimento. Alguns tecidos, como a Para o acompanhamento do pele, continuam seu processo de multi- crescimento, utilizam-se gráficos com plicação celular. curvas de referência. Os gráficos mais A necessidade de maior demanda usados, para crianças, são os que nutricional no período de crescimento permitem analisar a evolução do seu determina maior risco à saúde. Quanto peso no decorrer do tempo, tomado em maior a velocidade de crescimento, meses, chamados de gráficos de peso maior será o efeito nocivo da deficiência para a idade. Outros tipos de gráficos nutricional no indivíduo. Portanto, os podem ser utilizados, de acordo com o períodos de maior risco são o pré-natal, objetivo da avaliação do crescimento, a primeira infância e a adolescência. Ao como o de estatura para a idade ou o longo deles é que se deve atuar com de peso para estatura. mais atenção aos cuidados de saúde, Considera-se que o crescimento é como alimentação adequada e preven- adequado quando a criança apresenta ção de infecções. sempre ganho de peso a cada avaliação, 34
  • 35. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância principalmente se a sua curva de mentos, o que é chamado de desmame. crescimento acompanha as curvas do gráfico de referência. Devido ao seu valor nutritivo e às vantagens do seu uso, para a criança e Todas as crianças devem ter seu para a mãe, o leite materno deve ser crescimento acompanhado, em avalia- oferecido à criança até os 2 anos, segun- ções periódicas, nas consultas aos servi- do a orientação da Organização Mundial ços de saúde. de Saúde (OMS). A vida e a saúde da criança são direi- O leite de outros animais eventual- tos universais e garantidos pelo Estatuto mente pode ser oferecido ao bebê, mas da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/ com grandes desvantagens em relação ao 90), que regulamenta o artigo 227 da leite humano. Isso porque cada animal Constituição da República Federativa do produz leite de composição específica Brasil. O acompanhamento do cresci- para as necessidades nutritivas e o ritmo mento é a ação de saúde que mais repre- de crescimento dos indivíduos da sua senta a garantia dos direitos da criança. espécie (Tabela 1). Alimentação da criança A alimentação é um dos mais impor- tantes fatores responsáveis pelo cresci- mento do indivíduo. É fundamental que todos os que trabalham com crianças contribuam para que elas tenham acesso à alimentação em quantidade adequada, de boa qualidade, tanto no valor nutritivo como no aspecto de higiene. No início de sua vida, o alimento mais importante para a criança é o leite de sua mãe. Até completar 6 meses, Ilustração: Nela Marín e Gian Calvi/Kit Família Brasileira Fortalecida/UNICEF o bebê não necessita de outro alimento ou líquido que não seja o leite materno. A partir daí, deve continuar sendo amamentado ao peito, mas com acréscimo gradativo de outros ali- 35
  • 36. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 Tabela 1 – Tempo para duplicação do possam causar reações alérgicas no seu peso de alguns animais organismo. Animal / Duplicação de peso Tabela 2 – Diferenças constitucionais Homem / 180 dias Cavalo / 60 dias entre leites Vaca / 47 dias Cabra / 22 dias Humano Vaca Cabra Carneiro / 15 dias Porco / 14 dias Energia (Kcal) 68 68 72 Gato / 09 dias Cão / 09 dias Proteínas (g/100ml) 1.2 3.6 4.0 Cobaia / 06 dias Gorduras (g/100ml) 3.8 3.6 4.0 Fonte: Crespin, 1992. Lactose (g/100ml) 7.0 4.5 4.0 Minerais (g/100ml) 0.2 0.7 0.8 As vantagens do leite materno para Fontes: King, 2001; Wehba, 1991; Pernetta, 1979. o ser humano, em relação a outros tipos de leite, são numerosas e, entre • Equilíbrio emocional – a amamen- elas, temos: tação possibilita o reforço do laço afetivo entre a mãe e a criança, proporcionando • Valor nutritivo – o leite materno sensação de bem-estar para ambas. possui nutrientes na quantidade e na • Desenvolvimento – crianças ama- proporção ideais para o crescimento e o mentadas exclusivamente ao peito, nos desenvolvimento adequado da criança primeiros seis meses de vida, tendem a (Tabela 2). ser pessoas mais extrovertidas, confiantes • Digestão – devido à constituição e inteligentes. Segundo alguns autores, adequada ao organismo do bebê, o leite crianças alimentadas com leite materno materno é facilmente digerido, não raramente apresentam, na idade adulta, provocando distúrbios digestivos como distúrbios sexuais, tendência ao uso de diarréia ou “prisão de ventre”. álcool, de outras drogas ou ao suicídio. • Imunidade – o leite humano possui • Economia – o leite materno não substâncias e células que protegem o precisa ser comprado, o que gera grande organismo do bebê das principais doen- economia para a família. ças infecciosas que podem levar a graves • Praticidade – o leite materno já está conseqüências. Por isso, a criança que pronto e na temperatura ideal para o mama no peito raramente adoece. consumo da criança, dispensando gasto • Alergias – por ser produzido natural- de tempo para o preparo. mente para a criança, o leite materno não apresenta elementos estranhos que 36
  • 37. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância • Anticoncepção – mulheres que ama- Na impossibilidade do uso de leite mentam seus bebês, exclusivamente e materno, recomenda-se algum tipo de leite durante os seis primeiros meses, têm pouca de vaca (em pó) modificado, a chamada probabilidade de engravidar nesse período. fórmula infantil. Está demonstrado que alimentação de crianças menores de um • Prevenção de câncer – a ano com leite integral (em pó ou ao natural) amamentação confere à mãe proteção não-humano pode provocar anemias, contra o câncer de mama (antes da distúrbios nos intestinos e nos rins, além de menopausa) e de ovário. Essa proteção é alergias, devido à composição estranha ao tanto maior quanto mais longo é o período de amamentação. • Retorno à forma física – o início da amamentação precoce, isto é, logo após o nasci- mento do bebê, reduz o sangramento uterino pós- parto e facilita a perda de peso da mãe, acelerando o processo de retorno do corpo à forma física anterior à gravidez. A amamentação não apresenta desvantagens e suas contra-indicações são raras, limitando-se ao uso de alguns medica- Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / PRODEI / Gian Calvi mentos pela mãe e para a mãe portadora do vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV). 37
  • 38. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos – volume 4 seu organismo. As modificações produzidas ingredientes devem ser cozidos e industrialmente nesses leites visam à redu- amassados. Evita-se o uso de liquidificador ção da ocorrência desses distúrbios. para que o estímulo à mastigação não seja prejudicado. A papa deve conter, pelo A partir dos seis meses de vida, a crian- menos, um alimento de cada grupo ça, mesmo amamentada no peito, deve (Tabela 3). começar a receber outros alimentos, pois a partir daí o leite, isoladamente, não conse- Tabela 3 – Grupos de alimentos constitu- gue suprir suas necessidades energéticas. intes da papa de hortaliças Não é recomendada a introdução de Grupo / Nutriente Básico / Fonte alimentos que não o leite materno antes do sétimo mês de vida, porque só a partir dessa Cereais e Tubérculos(alimentos de base) / idade o organismo estará preparado para Carboidratos / Arroz, batata inglesa, aipim, recebê-los e digeri-los sem sofrer danos. maisena, farinha de trigo, farinha de mandioca, fubá, macarrão, etc. Inicia-se com a introdução de uma refeição de frutas sob a forma de sucos Carnes, vísceras, ovos, leguminosas / (em copo) ou papas, oferecidas com Proteínas, minerais (fósforo, ferro, zinco, colher, em quantidades crescentes, de etc.) e vitaminas do complexo B / Proteína acordo com a aceitação da criança, animal: carne de vaca,frango, peixe, ovos. preferencialmente pela manhã. Deve-se Proteína vegetal: feijão, ervilha, lentilha, soja. preferir frutas maduras, da região e da Vegetal (verduras, legumes) / Vitaminas e estação, por se apresentarem em melho- Fonte: Ministério da Saúde, 1998. minerais / Cenoura, vagem, beterraba, res condições de qualidade e preço. A abóbora, chuchu, tomate, folhas verdes, etc. criança nessa idade já não acorda à noite para comer e solicita refeições em ritmo Gorduras / Lipídios / Óleo vegetal (milho, de quatro em quatro horas. girassol, soja, arroz, algodão), margarina, manteiga, etc. Para os que não são amamentados ao peito, a fórmula infantil deve ser substitu- ída por uma adaptada ao segundo se- A proporção da mistura deve ser de mestre de vida. três partes do alimento base (carboidrato) Após a aceitação das frutas, inicia-se a para uma do alimento protéico e uma dos introdução da papa de hortaliças, oferecida outros grupos (3:1:1). Os cereais devem ser com colher, em quantidades crescentes. Os oferecidos, de preferência, na forma inte- gral. 38
  • 39. Cadernos Pedagógicos – volume 4 Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância À medida que a criança cresce e O sal e o açúcar devem ser evitados adquire dentes, os alimentos devem na dieta infantil ou, se adicionados, em ser preparados e cortados em quantidades mínimas. pedaços pequenos. Os ingredientes da dieta devem ser A partir de sete a oito bastante variados para evitar monotonia meses, a criança deve comer no sabor e fazer com que ela seja mais a papa de hortaliças em duas nutritiva. Cada refeição deve apresentar refeições diárias (almoço e alimentos de cores variadas. jantar). Ao completar um ano, a criança já Ilustração: Estúdio CRIANÇAS CRIATIVAS / Gian Calvi Os grãos de leguminosas, tem condições de comer o alimento bem amassados, podem ser habitual da família. incluídos aos oito ou nove meses. Antes dessa idade, No segundo ano de vida, ocorre redu- utiliza-se o caldo das ção natural do apetite. Isso se deve à leguminosas pela dificuldade diminuição da velocidade de crescimento. de digestão da casca dos seus A criança amamentada ao peito deve grãos. continuar com leite materno. Caso Ovo, pescados e tomate contrário, já pode utilizar leite integral. são introduzidos na dieta a Evita-se oferecer doces, guloseimas, partir dos nove meses, por refrigerantes, alimentos em conserva, serem alimentos que provo- enlatados e coloridos artificialmente, cam alergias em algumas por conterem substâncias nocivas ao crianças predispostas. organismo. O regime ideal segue a pirâmide dos alimentos. Aos nove meses, a criança Pirâmide dos alimentos já é capaz de Na sua base, temos as fontes de pegar os alimentos (pão, carne, biscoito, carboidratos complexos, que devem ser etc.) e leva-los à boca. consumidos em maior proporção, e fibras. Esses alimentos são os cereais Quanto ao tempero da papa de horta- (principalmente integrais) e os tubérculos. liças, podem ser usadas ervas aromáticas No centro, as fontes de proteínas, (salsa, cebolinha, etc.), cebola e alho. vitaminas, minerais e fibras (vegetais), 39