O documento discute as pressões sobre as crianças para participar de muitas atividades extracurriculares e como isso pode se tornar estressante. Enquanto as atividades extras podem ser benéficas, é importante equilibrar as necessidades da criança com o que ela pode fazer sem se esgotar e respeitar os ritmos de desenvolvimento de cada criança.
1. CRIANÇAS COM SOBRECARGA DE
ATIVIDADES
Os jovens vivem num mundo que muda num ritmo acelerado,
caracterizado por pressões sociais que os fazem crescer muito
depressa. São pressionados a adaptar-se a padrões familiares
instáveis, a assumir compromissos, a ingressar mais cedo nas
universidades, a participar e a competir nos esportes, em destrezas
especializadas. Enfrentam informações e programas para adultos
antes que tenham vencido os problemas próprios da idade.
Estas pressões impõem-lhes maiores responsabilidades, causam-
lhes estresse, ao mesmo tempo que redefinem a essência mesma da
infância, esclarece o psicólogo Joan Isemberg.
A criança e o adolescente, de hoje, participam de atividades
extracurriculares cada vez mais numerosas e exigentes. São atividades
tidas como armas para o futuro, as quais, se não dosadas, podem
tornar-se estressantes. Elas dividem o seu tempo entre a escola, os
esportes e um sem-fim de tarefas.
A escola de meio período pode não cobrir todas as necessidades de
aprendizagem da criança, mas complementá-las com uma carga
pesada de atividades pode resultar em fator negativo. Muitos pais
consideram que as tentações, como a TV, o computador, devem ser
enfrentadas com uma agenda completa. Consideram que é preferível
ocupá-la a deixá-la permanecer frente à TV, sem controle.
Depois da escola, as crianças estudam idiomas, computação, músi-
ca, praticam esportes, dança, balé, não se descuidando das artes, das
coisas do espírito – uma expressão artística sempre é enriquecedora.
É uma tendência deste tempo histórico social, com suas aspirações
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2. culturais, suas necessidades de conhecimento, de preparação para a
vida futura. Porém, é preciso ponderar, estabelecer um equilíbrio, entre
o que a criança quer e necessita e o que pode fazer sem se esgotar.
Corre-se o risco de se desvalorizar o tempo livre, favorável ao
amadurecimento emocional, afetivo e ao desenvolvimento da
criatividade. O ócio também é bom e é preciso respeitar as etapas do
desenvolvimento infantil, alertam os especialistas.
Quando o jovem está muito preso a horários, passa a viver sob
tensão, diante da qual não consegue responder de maneira positiva.
Começa a faltar às aulas, a se desmotivar e a produzir baixo
rendimento. O excesso de exigência, com vista a uma competência
refinada, cada vez mais se instala em todos os aspectos da vida.
As atividades são pensadas, pelos pais, como uma preparação
necessária para um futuro mercado de trabalho exigente e competitivo.
Elas sempre existiram, mas, agora, são outros os níveis de exigências,
outras expectativas. Antes eram complementares ou passatempos,
hoje, surge o fator competitividade, encarado não só no plano
individual, mas comparado a um outro. Quando isso ocorre, pode se
tornar perigoso porque coloca a criança, muito cedo, em frente de
batalha.
Por outro lado, as atividades extracurriculares são importantes
instâncias de socialização, principalmente para crianças e jovens muito
tímidos. Surgem, contudo, dilemas entre os pais de qual o melhor
procedimento: crianças agendadas ou crianças livres? Para psicólogos
da área infantil, como Aurora Isasmendi, o importante é atender as
demandas pessoais, não se podendo, assim, falar em regra geral. Aos
pais competem observar o andamento, o rendimento, se a criança não
demonstra cansaço e se não começa a fracassar nos estudos.
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3. Nestes tempos, em que o comum são os pais trabalharem o dia to-
do, as atividades extracurriculares podem ser a solução para que os
filhos não dispersem seu tempo, adquiram competência, não se
deixando consumir pela TV. Elas são, de um modo geral, consideradas
boas e necessárias, mas devem ser acompanhadas com cuidado, para
não produzirem efeito negativo, reações de estresse, traduzidas por
enxaquecas, dores de estômago, problemas de conduta e insônia.
É preciso apegar-se aos centros de interesses e ao
desenvolvimento evolutivo de cada criança e oferecer atividades
adequadas à sua idade. Pergunta-se: até que ponto estamos
respeitando os ritmos evolutivos e as motivações de nossa criança e
até que ponto estamos desraizando-a demasiado cedo da família? Não
estamos limitando sua felicidade lúdica? Qual a educação apropriada
para o desenvolvimento do nosso filho? Tentar ajustá-la às suas
necessidades físicas, sociais, emocionais e cognitivas, como, também,
às características sociais e ao trabalho da família.
“Desejaria que cada pai pensasse com a cabeça e agisse com o
coração, que conseguisse captar o que agrada ao filho e o que o
contraria”. (Isasmendi).
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