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Inclusão de opção vegetariana nas cantinas públicas
Mariana Laura Carrasco Rodrigues
Março 2017
Como é do conhecimento público, os regimes alimentares têm vindo a sofrer
várias alterações ao longo dos anos, incluindo em Portugal, especialmente a partir do séc.
XX. O vegetarianismo é um deles. Mas desengane-se quem pensa que surgiu apenas no
séc. XX por uma questão de modas, pois este estilo de vida já foi adotado pelos nossos
antepassados Australopitecos. No entanto, só este ano é que começa a ser aceite e
explorado pela sociedade em geral, uma vez que, a partir dos próximos dois meses, as
cantinas públicas terão que cumprir a lei de inclusão de opções vegetarianas nas mesmas.
Em Portugal existem mais de 200.000 vegetarianos, cujo valor não para de
aumentar. Será esta lei necessária? Na minha opinião, esta lei é mais do que
necessária, é essencial para uma sociedade e planeta saudáveis.
Os motivos que sugerem a aplicação desta lei são infindáveis, podendo ser
relacionados com o impacto ambiental, o impacto na saúde, o combate à discriminação
que os vegetarianos sofrem, entre muitos outros.
No que diz respeito ao impacto ambiental, a produção de alimentos de origem
animal é a principal responsável por 51% da emissão de gases com efeito de estufa. Ora,
somos diariamente bombardeados com avisos de sensibilização para os impactos que as
nossas práticas têm na diminuição da camada de ozono. Segundo nos é informado,
devemos adotar o uso de carros elétricos ou, tão simplesmente, o uso das bicicletas. No
entanto, a produção pecuária é maioritariamente responsável pela destruição da camada
de ozono. Ao andarmos de bicicleta estamos a contribuir para a diminuição da produção
de gases com efeito de estufa, é certo. Não obstante, continuamos a contribuir para a
produção pecuária, uma vez que integramos, em excesso, os alimentos de origem animal
na nossa alimentação. Parece-me, portanto, que temos muitos factos a ponderar.
No caso dos impactos na saúde, a dieta vegetariana suscita vários benefícios, uma
vez que o consumo de alimentos de origem vegetal está associado a um menor risco de
doenças crónicas e a uma maior longevidade. Esta prática também está interligada à
redução do número de doenças oncológicas, obesidade, doenças cardiovasculares,
hipertensão, diabetes, entre outras.
Segundo estudos realizados pela OMS, prevê-se que, em 2025, 18% dos homens e
21% das mulheres sofram de obesidade e que 2/3 da população tenha excesso de peso.
Outro estudo da mesma organização alerta-nos para o facto de que cerca de 44% da
população é diabética. Após reflexão perante estes dados, parece-me pertinente tomarem-
se medidas, uma das quais a inserção de mais produtos vegetais na alimentação da
população, inclusive nas cantinas, onde muitos de nós realizamos as nossas refeições e,
sobretudo, os mais jovens, que terão, assim, oportunidade de criar novos hábitos
alimentares, projetando um futuro diferente, em termos de dieta alimentar.
Além destas razões, esta lei vai ainda ao encontro do combate à discriminação. A
maioria dos vegetarianos, devido à fraca oferta que tem ao seu dispor, sente-se obrigado
a fazer-se acompanhar das suas refeições. Este hábito suscita a curiosidade de uns e a
rejeição de outros, sendo muitas vezes criticados e intitulados de ‘’grilos’’ ou até mesmo
‘’anormais’’ por serem diferentes da generalidade.
Em suma, esta lei vai trazer vários benefícios a muitos níveis. A procura é cada
vez maior e a nível monetário não trará custos adicionais. Está, portanto, na hora de
sensibilizar e informar as pessoas acerca dos impactos na sua saúde e na natureza,
tornando-as seres culturalmente ativos.

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  • 1. Inclusão de opção vegetariana nas cantinas públicas Mariana Laura Carrasco Rodrigues Março 2017 Como é do conhecimento público, os regimes alimentares têm vindo a sofrer várias alterações ao longo dos anos, incluindo em Portugal, especialmente a partir do séc. XX. O vegetarianismo é um deles. Mas desengane-se quem pensa que surgiu apenas no séc. XX por uma questão de modas, pois este estilo de vida já foi adotado pelos nossos antepassados Australopitecos. No entanto, só este ano é que começa a ser aceite e explorado pela sociedade em geral, uma vez que, a partir dos próximos dois meses, as cantinas públicas terão que cumprir a lei de inclusão de opções vegetarianas nas mesmas. Em Portugal existem mais de 200.000 vegetarianos, cujo valor não para de aumentar. Será esta lei necessária? Na minha opinião, esta lei é mais do que necessária, é essencial para uma sociedade e planeta saudáveis. Os motivos que sugerem a aplicação desta lei são infindáveis, podendo ser relacionados com o impacto ambiental, o impacto na saúde, o combate à discriminação que os vegetarianos sofrem, entre muitos outros. No que diz respeito ao impacto ambiental, a produção de alimentos de origem animal é a principal responsável por 51% da emissão de gases com efeito de estufa. Ora, somos diariamente bombardeados com avisos de sensibilização para os impactos que as nossas práticas têm na diminuição da camada de ozono. Segundo nos é informado, devemos adotar o uso de carros elétricos ou, tão simplesmente, o uso das bicicletas. No entanto, a produção pecuária é maioritariamente responsável pela destruição da camada de ozono. Ao andarmos de bicicleta estamos a contribuir para a diminuição da produção de gases com efeito de estufa, é certo. Não obstante, continuamos a contribuir para a produção pecuária, uma vez que integramos, em excesso, os alimentos de origem animal na nossa alimentação. Parece-me, portanto, que temos muitos factos a ponderar. No caso dos impactos na saúde, a dieta vegetariana suscita vários benefícios, uma vez que o consumo de alimentos de origem vegetal está associado a um menor risco de doenças crónicas e a uma maior longevidade. Esta prática também está interligada à redução do número de doenças oncológicas, obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, entre outras. Segundo estudos realizados pela OMS, prevê-se que, em 2025, 18% dos homens e 21% das mulheres sofram de obesidade e que 2/3 da população tenha excesso de peso. Outro estudo da mesma organização alerta-nos para o facto de que cerca de 44% da população é diabética. Após reflexão perante estes dados, parece-me pertinente tomarem- se medidas, uma das quais a inserção de mais produtos vegetais na alimentação da população, inclusive nas cantinas, onde muitos de nós realizamos as nossas refeições e, sobretudo, os mais jovens, que terão, assim, oportunidade de criar novos hábitos alimentares, projetando um futuro diferente, em termos de dieta alimentar. Além destas razões, esta lei vai ainda ao encontro do combate à discriminação. A maioria dos vegetarianos, devido à fraca oferta que tem ao seu dispor, sente-se obrigado a fazer-se acompanhar das suas refeições. Este hábito suscita a curiosidade de uns e a rejeição de outros, sendo muitas vezes criticados e intitulados de ‘’grilos’’ ou até mesmo ‘’anormais’’ por serem diferentes da generalidade. Em suma, esta lei vai trazer vários benefícios a muitos níveis. A procura é cada vez maior e a nível monetário não trará custos adicionais. Está, portanto, na hora de sensibilizar e informar as pessoas acerca dos impactos na sua saúde e na natureza, tornando-as seres culturalmente ativos.