MEMÓRIA E COGNIÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A PERFORMANCE DO CAPOEIRISTA PELO OLHAR D...
A arte de liderar pela emoção
1. Coaching e a arte de liderar pela emoção
João Daniel Rico
Mestre em Treino de Alto Rendimento
Treinador de Futebol
A curto prazo, qualquer estratégia com o intuito de incendiar
emocionalmente os atletas pode de facto funcionar, mas com o
passar do tempo esse fogo vai-se apagando e o processo de
motivação de um grupo carece de uma abordagem que se
centre essencialmente naquilo pelo qual, cada jogador
individualmente," daria a vida"!
A nova geração de atletas é complexa e diferencia-se por uma
cada vez maior capacidade lógica e cognitiva. Uma geração
multi-task mas que sente aversão a tarefas que não trazem
resultados visíveis e imediatos, sendo por isso grande a tendência para a frustração. É notório por
estas características um défice de inteligência emocional, aquilo que Goleman descreve como "a
capacidade da pessoa se motivar a si mesma a despeito das frustrações, de controlar os impulsos
e adiar a recompensa, de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo
subjugue a faculdade de pensar..."
Tudo isto se reflete na dificuldade em definir objetivos e em lidar com os obstáculos, algo que se
deve ter em consideração pois sabe-se que quando estabelecemos um objetivo ativamos o
sistema de ativação reticular (SAR) e por consequência a nossa capacidade inconsciente de
observar e conjugar todos os recursos e todas as oportunidades que nos ajudam a aproximar da
nossa meta.
Há, por isso, uma necessidade veemente dos treinadores possuírem ferramentas que lhes
permitam ir ao interior de cada atleta de forma a potenciar aquilo que motiva cada um e ao mesmo
tempo suprimir a tendência generalizada para a dúvida e para o medo. Queremos com isto dizer
que para além das competências técnicas às quais normalmente se associa um alto grau de
performance (aspetos físico e técnico-táctico) o treinador deve ainda ter competências na área do
COACHING, ou seja, ser um especialista em treino mental e que utiliza as ferramentas certas
para estabelecer um plano de ação que permite levar os seus atletas do ponto A ao ponto B, com
metas e objetivos ESPECÍFICOS, MENSURÁVEIS, ALCANÇÁVEIS, REALISTAS E
TEMPORARIAMENTE DEFINIDOS (Modelo SMART). Trata-se, sobretudo, de incutir nos atletas
uma nova forma de pensar, permitindo-lhes ver as situações de pontos de vista diferentes de
forma a encontrar novas soluções (foco na solução e não no problema, não desperdiçando
energia naquilo que não podemos controlar).
2. Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável
Séneca
António Damasio demonstrou com êxito em " o erro de Descartes" a impossibilidade de se
separar a racionalidade das emoções, pois a ausência destas altera as decisões supostamente
racionais. Num recente livro publicado sobre a primeira época de Pep Guardiola no Bayern
Munique, é referido o seu interesse num " estilo de comunicação personalizada, de forma a
encontrar maneiras de transmitir sentimentos aos jogadores", ao mesmo tempo que um dos seus
jogadores o define como sendo melhor psicólogo do que táctico. Liderar é fundamentalmente
EMOCIONAR. Mas será que podemos motivar todos da mesma forma? as mesmas palavras, o
mesmo conteúdo, o mesmo tipo de comunicação não verbal? a mesma entoação? Não há uma
receita uniforme, e aqui entramos no domínio dos sistemas de representação: visuais, auditivos,
cinestésicos, três tipos de sistemas que nos caracterizam e definem a forma como estamos mais
susceptíveis de captarmos uma mensagem. Nos momentos de comunicação à equipa, o treinador
deve ter isto em conta se quiser “tocar”, numa palestra que pode ser coletiva, cada um dos seus
atletas independentemente do sistema representativo dominante. Sabe-se que apenas fixamos
perto de 7% do que ouvimos por palavras e que aquilo que faz passar melhor a informação é a
linguagem corporal utilizada e a qualidade da voz. Alusões a cores e imagens captam melhor os
visuais, diferentes sinais sonoros e variação da entoação vão prender a concentração dos
auditivos, assim como contactos, apelos a sensações e utilização de um tom de voz mais calmo
irão influir na concentração dos cinestésicos.
As ciências adaptadas ao contexto desportivo vieram dar um contributo enorme para um
conhecimento e capacidade de atuação a um nível cada vez mais profundo. Ser treinador, na
atualidade, "exige" um domínio de áreas diferenciadas mas que se tornaram confluentes. Saber
de treino é saber de preparação desportiva de uma forma transversal e não “apenas” da fisiologia
do esforço e consequentes processos adaptativos, não é só criar uma pomposa organização de
jogo coletivo (modelo), nem só viver da estratégia a implementar consoante determinado
adversário…há que saber gerir, mediar, liderar...dia a dia, todos os dias…e fazê-lo através da
racionalidade das emoções, para que o fogo que queima o fosforo nunca se apague.
O todo está na parte que está no todo. Nunca a tão utilizada frase "só sabe de futebol quem sabe
mais do que só de futebol" fez tanto sentido.
Bibliografia
Goleman, D. (2011). Inteligência Emocional. Circulo de Leitores.
Perarnau, M. (2014). Herr Pep. Córner.